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Jovem com suspeita de dengue hemorrágica morre 7 dias após procurar ajuda

Claudemir Alves era muito respeitado e querido pelas atividades religiosas que exercia, em especial por ser músico amador e tocar durante as celebrações religiosas - Arquivo Pessoal
Claudemir Alves era muito respeitado e querido pelas atividades religiosas que exercia, em especial por ser músico amador e tocar durante as celebrações religiosas Imagem: Arquivo Pessoal

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

28/04/2015 18h52

A família de um jovem de 27 anos de Taboão da Serra (SP) denunciou uma suposta negligência no atendimento que levou à morte do paciente na noite de segunda-feira (27). Claudemir Alves morreu com suspeita de dengue hemorrágica após passar por atendimento em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade em duas diferentes oportunidades apresentando sintomas da doença, mas nenhum exame foi solicitado. Quando piorou, ele foi encaminhado ao Hospital Geral Pirajussara onde, segundo a família, também houve negligência. Os familiares vão solicitar às instituições o registro dos procedimentos realizados nos atendimentos e irão pedir que a Polícia Civil investigue o caso.

De acordo com a família, Alves começou a se sentir mal na noite de terça-feira (21). Acompanhado da namorada, Giovana Albach, e do irmão, Fábio Alves, ele foi à UPA Akira Tada, em Taboão da Serra, sendo atendido na madrugada do dia 22. "Ele estava com febre alta e dores no corpo, que seriam características da dengue, mas, apesar do quadro, não foi submetido a nenhum tipo de exame", disse Fábio Alves, irmão da vítima. "A gente achava que era dengue, mas os médicos só mandaram que ele tomasse benzetacil e antitérmico, para baixar a febre. Depois, liberaram e ele foi para casa", afirmou.

Na quinta-feira (23), ele voltou a se sentir mal, com os mesmos sintomas. Seu irmão o levou à UPA novamente na sexta-feira (24). Além dos sintomas anteriores, Alves apresentava diarreia e vômito intenso. "Na sexta ele também tomou soro, porque a pressão estava baixa. Mas aí não liberaram mais. Ele ficou na UPA e, no sábado de manhã, depois de perder muito sangue, foi transferido para Hospital Pirajussara", conta Rogério Alves, outro irmão de Claudemir.

Segundo a família, ele foi transferido da UPA com quadro de hemorragia e os médicos teriam dito que ele precisava fazer uma endoscopia com urgência. O procedimento permitiria que os médicos encontrassem o local exato por onde ele estava perdendo sangue. A endoscopia não foi realizada, ainda de acordo com a família, por falta de profissional capacitado. "Os equipamentos estavam todos funcionando, mas disseram que não tinham ninguém especializado para fazer o procedimento. Enquanto isso, meu irmão ficou internado, esperando, mas infelizmente não resistiu e morreu ontem (segunda-feira)", relata Rogério.

História

Caçula de uma família de cinco irmãos, Claudemir Alves, que era chamado de Mimi pelos familiares e amigos, era auxiliar administrativo em uma editora. Pacato e definido pelos amigos como tímido, ele era católico e participava ativamente nas atividades da igreja. "Ele era o mais tranquilo de nós cinco, o mais amoroso. Era difícil vê-lo zangado. Era um elo que unia toda a família", conta Rogério.

Já Geanderson Lopes, amigo de Claudemir, lembra que ele era muito respeitado e querido pelas atividades religiosas que exercia, em especial por ser músico amador e tocar durante as celebrações religiosas. "Isso era a vida dele, servir na igreja era o que ele mais amava fazer", conta.

Burocracia

Ainda segundo Rogério, a família já começou a cuidar do trâmite burocrático para solicitar que a responsabilidade pela morte seja apurada. Eles devem solicitar, na quarta-feira (29),  os prontuários de atendimento, tanto da UPA quanto do Hospital. O laudo que comprovará a causa da morte deve sair em dez dias. O velório de Claudemir acontece na noite desta terça-feira (28) e o sepultamento será às 9h de quarta.

"Queremos que tanto a UPA quanto o Hospital sejam responsabilizados pela morte e esclareçam por que meu irmão passou por tantas consultas sem que pedissem o exame de dengue e por que o Hospital, mesmo sabendo da gravidade do caso, não o internou em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nem realizou os procedimentos que poderiam ter salvo a vida dele", afirma Rogério.

Outro lado


A SPDM (Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), entidade filantrópica que responde pelo atendimento da UPA e também do hospital, enviou uma nota na qual nega negligência médica. "O paciente em questão foi atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Taboão de Serra, apresentando um quadro de febre alta e dores no corpo, com estado clínico grave, recebendo todo o atendimento necessário. Inicialmente, devido à gravidade do caso, que apresentava sangramento, não possuía condições clínicas para transferência para o Hospital Geral de Pirajussara (HGP). No dia 25, após ser estabilizado, foi transferido para a unidade, onde deu entrada ainda em estado grave. A endoscopia mencionada era um exame complementar, para diagnóstico de outras causas de sangramento digestivo. Entretanto, o HGP não dispõe de serviço de endoscopia 24 horas e o paciente não apresentava condições clínicas para transferência para outra unidade. A realização ou não da endoscopia era uma precaução, porém, não alterava o tratamento ao paciente. É importante ressaltar que todo o atendimento necessário para o paciente foi dispensado, portanto, não houve negligência no tratamento recebido nas unidades mencionadas. Seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde, a confirmação de diagnósticos de morte por dengue é fornecida pelas vigilâncias epidemiológicas municipais, que devem ser contatadas para tanto", informa a nota da SPDM.