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Presa ao sofá, mulher com obesidade mórbida sonha em andar pelo Rio

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

05/05/2015 16h47

Andrea Guimarães tem 45 anos, 1,65 metro de altura e, na última vez em que se pesou, em agosto, pesava 215 quilos. Sua vida se resume ao sofá de dois lugares em que dorme e faz as refeições e a vista da janela da sala de casa. “Tudo o que eu vejo é essa parede e esse barranco”, diz, ao apontar a encosta vizinha à casa, localizada em meio a uma subida, acessível apenas por uma escadaria em Anchieta, na zona norte do Rio de Janeiro.

Obesa mórbida, ela não sai de casa há dois meses e conta com o filho Felipe, 15, para fazer as tarefas básicas como tomar banho e ir até o banheiro. Antes de ir para escola, ele compra uma marmita, que divide com a mãe, e lhe entrega uma garrafa de água congelada, enrolada em uma toalha para se manter fresca ao longo da tarde. O excesso de peso torna o caminhar muito dolorido e mesmo uma ida à geladeira é um desafio.

Desde que comprou um tablet, há seis meses, ela passa os dias conectada à internet. No começo de abril decidiu publicar um apelo no Facebook, pedindo ajuda para fazer um tratamento para emagrecer: “Não quero morrer dentro de casa sem cuidado e virar notícia de TV e jornal”, escreveu. Até esta segunda (4), a mensagem tinha mais de 12 mil compartilhamentos.

Ela diz ter recebido mais carinho do que ajuda real, mas fica feliz ao conversar com outras pessoas com o mesmo problema. “Resolvi dar um grito”, diz. “Toda hora o telefone toca, muita gente se identifica, falam que vão orar por mim. Esses dias atrás adicionei 99 pessoas de uma vez só”, conta, ao mostrar os recados que recebe diariamente.

Andrea diz que já teve autorização para fazer a cirurgia de redução de peso pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas antes precisa emagrecer ao menos 80 quilos para realizar a operação com segurança. Sozinha em casa e vivendo apenas com o seguro saúde que recebe da Previdência, não dá conta de seguir a dieta prescrita pelos médicos.

“Quando tem pão integral, eu como pão integral e me sacia. Quando não tem, como pão branco mesmo. Agora que é fim do mês o almoço acaba sendo o que tem, hoje é arroz e linguiça, ontem também foi”, diz. “A gente aprende na reeducação alimentar que não é fechar a boca, é comer direitinho, mas comer bem custa caro e, sem ajuda, fica ainda mais difícil.”

Ela lembra que sempre foi gorda – a mãe e a irmã também são obesas -, mas diz que a sua situação se agravou há cinco anos, quando trocou a rotina de vendedora de picolé pelas ruas da zona norte do Rio pela de bordadeira. Sentada no sofá bordando do começo ao fim do dia, engordou.

Uma vez, quando chegava em casa, resvalou na escada. Foram precisos seis homens da Defesa Civil e uma lona para levá-la à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro. Desde então, só sai de casa em caso de necessidade. 

“Queria sair e ver a vida passar, as pessoas… Eu nem sei o que é o centro da cidade hoje!”, diz. “Eu era aventureira, subi o Cristo a pé. Quero voltar a viver de verdade", conclui.