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Boneco ajuda médicos a treinar exame de toque (e diz se está doendo)

O boneco Patrick ajuda futuros médicos a aprender a fazer exame de toque e dá o retorno para o médico falando sobre seus medos e dores - Reprodução/Twitter
O boneco Patrick ajuda futuros médicos a aprender a fazer exame de toque e dá o retorno para o médico falando sobre seus medos e dores Imagem: Reprodução/Twitter

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

22/05/2015 16h43

Um novo boneco, inventado nos Estados Unidos, está ensinando futuros médicos a fazer exame de toque na prática. Chamado de Patrick, o manequim pode ser utilizado para que as aulas sejam mais realistas, sem precisar usar pacientes. O exame é indicado para o diagnóstico de câncer de próstata.
 
Entre os diferenciais do boneco Patrick está a fala: ele é capaz de conversar com o aluno, demonstrando suas emoções, dores e reagindo a eventuais falhas no exame. As universidades de Drexel e da Flórida, ambas nos Estados Unidos, já começaram a utilizar o manequim e, se forem bem-sucedidas, o boneco pode se tornar obrigatório na formação de médicos em universidades norte-americanas. Ele pode ser programado para avaliar aspectos como a intensidade do toque e informar se o profissional foi muito invasivo ou agressivo.

Patrick foi desenvolvido simulando um homem de costas, em posição para receber o exame de toque. Ele é equipado com um software que permite que ele fale com o estudante de medicina, oferecendo um feedback em tempo real sobre o exame. "Este paciente humano virtual pode conversar com o aluno, expressa medos e preocupações sobre o exame de próstata e apresenta um encontro realista com o paciente", afirmou Benjamin Lok, responsável pela implantação do projeto, ao ser questionado sobre o boneco durante um congresso nos Estados Unidos.

De acordo com o professor Antônio Pazin Filho, que coordena um laboratório na USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto onde os estudantes avaliam manequins programados para simular uma série de problemas médicos, entre eles de próstata, o uso de simuladores de alta tecnologia representa o futuro da medicina.

"Muitas turmas de medicina têm 60, 80 alunos. Esses estudantes precisam saber como atender as mais diversas ocorrências antes de deixarem a faculdade. O exame de próstata, por exemplo, é altamente invasivo, não tenho como repetir o toque com todos na turma. E os pacientes que chegam com esse problema para os residentes não são suficientes para que todos tenham chance de diagnosticar. Por isso a simulação é essencial", conta.

Lok ressalta que, com o boneco, a qualidade do procedimento realizado pelos estudantes pode ser medida. "Como é que um estudante de medicina pode saber se está fazendo um bom exame de próstata? Atualmente é impossível para o educador para medir o desempenho. Esta simulação fornece desempenho, feedback e uma oportunidade para aprender sem a mesma ansiedade que um exame em paciente real", disse.

Humanização

Além de capacitar tecnicamente os futuros médicos, Patrick também é usado pelos professores para preparar emocionalmente os alunos. "A utilização dos manequins permite observar o aluno em uma situação muito similar ao que se encontra nos centros médicos. E a reação dos alunos pode ser observada, e eventualmente corrigida, de forma que ele chegue mais preparado para atender seus pacientes reais, quando terminar a faculdade", informa Panzin.

Ainda segundo Pazin, a utilização de simuladores permite uma aprendizagem aos futuros profissionais da saúde, melhorando a técnica nos atendimentos a pacientes reais. "Nas aulas com giz e saliva, o índice de aprendizado e retenção raramente supera os 10%. Em procedimentos de simulação, esse percentual chega a 80%", salienta.

Brasil

Embora o Brasil também conte universidades que utilizam manequins para simular o atendimento, nenhuma delas possui, até o momento, um simulador como Patrick. A Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, entretanto, inaugurou, em abril, um laboratório exclusivo onde os estudantes podem treinar com manequins, inclusive há um boneco para simular o exame de próstata como faz Patrick, mas ele não fala.

A sextanista do curso de medicina Camila Longo, 25, já realizou procedimentos envolvendo diagnóstico do câncer de próstata na USP de Ribeirão e acredita que, graças ao treinamento no manequim, está mais preparada para os pacientes da vida real. "Um atendimento bem feito pode ser o diferencial na vida das pessoas, e hoje me sinto mais preparada para atuar de forma rápida do que antes de fazer as simulações. Treinar com os manequins dá mais segurança e confiança", afirma.