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Gêmeo siamês deixa hospital após cirurgia de separação do irmão

Heitor comemora alta com a equipe médica, em Goiânia (GO) - Divulgação
Heitor comemora alta com a equipe médica, em Goiânia (GO) Imagem: Divulgação

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

27/05/2015 18h34

Noventa e dois dias depois de passar por uma cirurgia na qual foi separado de seu irmão gêmeo siamês, Heitor Brandão, 6, recebeu alta e deixou o Hospital Materno Infantil, em Goiânia (GO), na manhã desta quarta-feira (27). A expectativa dos médicos é que ele tenha uma vida normal, apesar das limitações físicas. O irmão dele, Arthur, morreu três dias depois da cirurgia.

Arthur e Heitor eram unidos pelo tórax, abdômen e bacia, compartilhando o fígado e o aparelho reprodutor. Inicialmente, Heitor precisará de uma cadeira de rodas para se locomover, já que não possui a perna esquerda, mas poderá usar uma prótese.

"Ele está muito bem, em condições boas de saúde", avaliou o cirurgião-pediatra Zacharias Calil, que cuidou do caso. Segundo o médico, houve momentos em que ele mesmo não acreditou na sobrevivência de Heitor, já que, semanas depois da cirurgia, ele teve uma piora no quadro de saúde e chegou a ficar em estado grave.

"É uma sensação de alívio, de paz, que só quem conviveu com essas crianças seis anos pode saber. Pensei, em vários momentos, que eles fossem morrer. Mesmo com a morte do Arthur, fizemos a nossa parte e chegamos ao nosso limite. Agora estamos felizes", conta Calil.

A despedida de Heitor comoveu a equipe médica, que acompanhou o crescimento dele nos últimos seis anos - um mês antes do parto, a mãe dos gêmeos siameses, Eliana Ledo Rocha Brandão, chegou a Goiânia para receber o acompanhamento médico especializado e permaneceu na cidade desde então. "Ele é uma lição de vida para todos, passou por situações críticas, tiveram momentos que eu achei que ele não iria sobreviver. Ele viveu o processo da separação do Arthur e conseguiu superar", destacou Calil.

Procedimentos

Segundo Eliana, a família de Heitor irá permanecer em Goiânia para que a troca dos curativos seja realizada. O procedimento deve ser feito a cada dois dias, durante duas semanas. Depois desse período, ambos devem ir para a cidade baiana de Riacho de Santana. O marido dela, Delson Papa Brandão, ficou na cidade, onde trabalha. "Todo o esforço já compensou, porque terei meu filho perto de mim e bem de saúde", conta o pai.

"Não foram anos fáceis, foi tudo muito difícil, mas Deus sabe de todas as coisas. A gente está muito feliz com a recuperação do Heitor e ansiosos para começar essa vida nova", conta.

Mesmo depois da viagem, ele precisará voltar a Goiânia para uma nova consulta, em três meses, e, depois, semestralmente, para revisões. Segundo Calil, ele deve receber uma prótese da perna esquerda em aproximadamente um ano.

Enquanto não regressa para a Bahia, ele e a família vão permanecer na Casa do Interior, abrigo de apoio da Organização das Voluntárias de Goiás que recebe pessoas que vão até Goiás para tratamentos médicos.  O local abriga a família desde que ela chegou a Goiás.

Falta do irmão

Eliana lembra que, embora compartilhando parte dos órgãos, os gêmeos possuíam personalidades totalmente diferentes. Heitor é mais calmo, segundo ela, enquanto Arthur era mais agitado. "Estamos muito felizes com a alta, mas não esquecemos o Arthur. A gente sabia dos riscos, mas eles queriam se separar, serem independentes", disse.

Já Heitor disse que sente saudades do irmão, mas que não está triste com a morte dele. "Eu sinto ele no meu coração, ele ainda está comigo. E agradeço a todos que me ajudaram", disse.