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Relato: a luta de um esquizofrênico para ter sucesso no amor

Joyce Hesselberth/ The New York Times
Imagem: Joyce Hesselberth/ The New York Times

Michael Hedrick*

Depoimento ao New York Times

26/06/2015 11h03

Arrumar um encontro já é complicado. Arrumar um encontro quando você é obeso é ainda mais complicado. Mas a coisa fica quase impossível quando você é um cara grande e que ainda tem um problema mental sério.

É verdade que eu tive algum sucesso amoroso nos 10 anos em que passei a conviver com a esquizofrenia. Mas existem muitos obstáculos. Esquizofrenia é uma palavra assustadora para muita gente. Ela faz lembrar de tentativas de assassinato, falta de controle e mais um punhado de coisas assustadoras.

Contudo, eu tenho que viver com essa palavra; eu sou essa palavra. E esse não é o tipo de coisa que você pode falar casualmente no meio de uma conversa e depois dizer: "Mas isso não é nada de mais".

Eu me apaixono fácil demais e sempre com mulheres que não sentem o mesmo por mim. Eu já fui mais rejeitado do que gosto de admitir, quase sempre por agir dessa forma, e não é nada fácil impedir que minhas emoções tomem conta de mim.

Se não se trata de rejeição pura e simples, outra coisa sempre acaba acontecendo.

Eu me lembro de um encontro a que fui há alguns meses. Ela era uma mulher grande de cabelos loiros, e com um olhar de quem não estava afim de brincadeira. A gente se conheceu no Match.com, e eu fiquei curioso com a quantidade de vezes em que ela foi a shows do Phish. O perfil dela listava uma série de bandas que eu havia adorado em diferentes pontos da minha vida.

Ela era professora e escreveu no seu perfil que ela adorava purpurina, artesanato, arco-íris e que, por isso, era uma menina de seis anos presa no corpo de uma mulher.

Antes que eu me desse conta, perguntei se ela gostaria de tomar uma cerveja. Ela respondeu que sim, um pouco rápido demais, eu pensei na época.

Cheguei ao restaurante uns 15 minutos antes da hora marcada e pedi uma cerveja, sabendo de antemão que em algum momento eu teria de contar a ela sobre a minha doença. Logo em seguida ela entrou, mas não pude evitar a impressão de que ela estava um pouco desapontada por ter ido para lá. Ela não sorriu ao me ver, nem ao se sentar.

Eu perguntei como ela estava e, depois de quase 45 minutos, tive a impressão de que já sabia absolutamente tudo sobre sua vida. Ela havia comprado um sofá que era grande demais para a sala. Ela tinha um vazamento no apartamento. Ela passou o fim de semana tingindo macacões para seu sobrinho recém-nascido. Eu não disse quase nada.

Por fim, ela perguntou o que eu fazia da vida, e eu contei que escrevia sobre doenças mentais. O que ocorreu em seguida foi a mesma coisa de sempre: Como eu me meti nisso? Eu tinha alguma experiência pessoal?

Naquele momento, minha única opção era revelar meu diagnóstico, e depois de uma ida rápida ao banheiro, ela voltou com mais questões. Eu era perigoso? Eu já havia matado alguém? Eu nem preciso dizer que o encontro acabou logo em seguida.

Às vezes o estigma da doença mental acaba com qualquer chance de sucesso. Outras vezes, eu notei que sou eu que não suporto a ideia de estar em um relacionamento.

Alguns meses mais tarde, um encontro com uma mulher muito simpática de cabelo escuro que trabalhava nos AmeriCorps teve um resultado muito melhor. Nós começamos a conversar sobre seus comediantes favoritos através do OkCupid e nos conhecemos na sala de provas de uma cervejaria. As coisas estavam indo muito bem e depois que falei a ela sobre minha doença mental, ela naturalmente foi ao banheiro. Mas ela retornou e me contou que passou por um caso de ansiedade extrema. Pelo menos tínhamos isso em comum.

Trocamos muitas mensagens nos dias seguintes, mas desta vez, eu percebi que era eu que não conseguia me imaginar em um relacionamento. Não sei se por causa do medo de me ver em um relacionamento com outra pessoa, da vulnerabilidade que sentia por estar tão perto de alguém, da sensação de estar fora do controle, ou porque faltava química entre a gente, eu preferi terminar tudo. Eu ainda não sei ao certo porquê. Ela era ótima e eu ainda me sinto um pouco culpado.

A confiança é bem difícil para mim -- meus piores sintomas giram em torno da paranoia de que as pessoas estão me julgando e rindo de mim -- por isso, confiar em uma pessoa nova tão rapidamente é dificílimo para mim.

E para completar, um dos maiores obstáculos de viver com a esquizofrenia é a sensação de sufocamento, a impressão de que não estou 100 por cento. Tenho um pico de paranoia, então caio em uma depressão que pode durar meses. Normalmente isso é resultado das pressões do trabalho, mas os relacionamentos são uma grande fonte de estresse. É difícil até pensar a respeito. Seria pouco dizer que fico assustado. Lutar contra o elefante da esquizofrenia sentado no meio da sala nunca é fácil.

Eu adoraria me casar um dia, mas por enquanto prefiro repetir o mantra: "Não vá atrás das pessoas, seja legal e a pessoa certa chegará até você".

Eu gostaria que isso acontecesse naturalmente.

* Michael Hedrick é escritor em Boulder, Colorado (EUA)