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Botox não é só estética, toxina é usada em quem tem paralisia e enxaqueca

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Imagem: Thinkstock

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

08/07/2015 06h00

A pequena Ana Helena Esteves Rossi, 4, tem dificuldade para caminhar e segurar objetos. Ela foi diagnosticada com paralisia cerebral aos seis meses de idade. Desde então, seus pais têm procurado diversos tipos de tratamento para lhe oferecer mais qualidade de vida, mas foi quando ela tinha pouco mais de dois anos que a família a levou para sua primeira aplicação da toxina botulínica A - conhecida com o nome comercial Botox (usado para tratamentos estéticos). Eles perceberam que a aplicação do medicamento devolvia movimentos que a menina havia perdido e proporcionava um relaxamento muscular que aliviava possíveis dores.

"Hoje, eu posso dizer que ela tem qualidade de vida. Ainda tem dificuldade, mas podemos perceber que os resultados são bastante satisfatórios", afirma o pai da criança, Wagner Costa Rossi Junior. A partir das aplicações de botox, a criança começou a caminhar melhor.

Morador de Alfenas, em Minas Gerais, Wagner traz a filha a São Paulo, em média, duas vezes ao ano para aplicar o botox nos músculos do braço e perna, que foram comprometidos pela paralisia. "Apesar de não tratar a paralisia em si, o botox proporciona uma melhora quase imediata e muito satisfatória enquanto está em ação. Na última semana, ela fez mais uma sessão e já notamos que ela está melhor. Após a aplicação, bastam alguns dias para percebermos a diferença", comentou o pai.

O objetivo do botox não é substituir o tratamento das doenças, mas devolver qualidade de vida aos pacientes que apresentam problemas como rigidez muscular e espasmos na musculatura - complicações comuns decorrentes de AVC (Acidente Vascular Cerebral), traumatismo cranioencefálico, esclerose múltipla, doença de Parkinson em estágio avançado e até paralisia cerebral.

"Essas doenças e suas complicações, que precisam sempre de tratamento especializado, são intensamente melhoradas com o uso da toxina, cujo principal objetivo é oferecer melhor qualidade de vida. Ele não substitui o tratamento "convencional", mas associado ao tratamento, se consolida cada vez mais como aliado dos pacientes, que chegam a atingir 90% de sua funcionalidade após a aplicação", explicou o médico André Pedroso, especialista do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano.

Segundo o especialista, a principal vantagem do tratamento é a segurança no procedimento, com taxas de complicações muito baixas. O método não tem contraindicação e é quase indolor. As aplicações costumam ser locais, apenas na parte comprometida pela doença, e os resultados começam a ser percebidos em poucos dias, sendo no 15º dia a substância chega ao seu pleno efeito e os resultados são bastante perceptíveis durante a atuação da toxina, que costuma durar cerca de 6 meses.

"Cada caso é um caso e cada paciente responde de uma maneira ao tratamento. Há casos em que o paciente faz a primeira aplicação e o resultado dura até mais de seis meses. O espaço de tempo entre as sessões costuma ser de quatro meses", completou o especialista. O botox vem sendo estudado como tratamento terapêutico desde os anos 1980, mas a procura pelo tratamento aumentou nos últimos cinco anos.

A dona de casa Lilian Camas, de 57, vem sendo tratada com a toxina há quase 20 anos. Aos 41, ela sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ficou com os membros do lado esquerdo comprometidos. Dois anos depois, ela iniciou as aplicações de botox nos músculos afetados.

"Já fiz muitas sessões e posso dizer que o botox, além de me trazer independência e facilitar meu dia a dia, diminui a dor e traz mais equilíbrio", contou Lilian, que mora em São Paulo com o esposo e dois filhos.

Enxaqueca

Um outro problema que pode ser tratado pela toxina botulínica é a enxaqueca crônica, ou seja, a dor de cabeça que não responde mais aos analgésicos.

"No caso da enxaqueca, o método é indicado quando o problema se torna crônico e a dor, que dura 15 dias por mês, já não passa com os analgésicos", explicou Caio Simioni, médico do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano de São Paulo.

O médico também afirmou que a substância atua direto na terminação nervosa, impedindo a comunicação entre o nervo e o músculo, em diversas partes do corpo. "Chamamos esta técnica de bloqueio neuroquímico, por isso funciona tão bem nos casos de enxaqueca de difícil controle", concluiu.