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Funcionária para seu trabalho e canta para paciente que sofreu convulsões

Renata Tavares

Do UOL, em Uberlândia (MG)

31/07/2015 10h01

Com a mãe internada em um hospital particular de Uberlândia (537 quilômetros de Belo Horizonte) há um ano e meio, a empresária Eliana Rodrigues Vieira, 41, passa boa parte do dia ao lado dela. A mãe, Florestina Rodrigues Vieira, 68, sofre de uma doença crônica nos rins.

Há 18 anos dona Florestina fez um transplante renal. Em 2014, ela perdeu o rim transplantado e o quadro de saúde se complicou. Desde então faz hemodiálises para se manter bem.

Na semana passada, a paciente teve quatro convulsões seguidas durante uma manhã. No desespero de ver a mãe passando mal, Eliana Rodrigues saiu correndo pelos corredores do hospital em busca de um médico.

"Eu estava tão fora de mim que não achava ninguém. Quando estava voltando para o quarto, escutei uma voz de uma mulher cantando. Pensei que fosse na capela e fui até lá, mas não encontrei. Foi quando percebi que vinha do quarto da minha mãe", diz.

A voz, que cantava alto uma música gospel, era da auxiliar de serviços gerais Erismar Ferreira, de 32 anos. A cena comoveu a empresária. Ela tirou o telefone do bolso e começou a filmar.

"Fiquei surpresa com a atitude dela. Foi um cuidado e um carinho tão grande que me confortou naquele momento de dor. Eu só pensava em gravar para mostrar para os diretores do hospital. Depois fiquei com medo de não ter acesso a eles e postei no Facebook e marquei o hospital", disse. O vídeo foi compartilhado nas redes sociais e teve mais de mil visualizações.

Erismar Ferreira só ficou sabendo por meio dos amigos do hospital. "Eu sempre gostei de cantar. Canto pelos corredores do hospital todos os dias. Naquele momento, achei que eu poderia parar um pouco e me dedicar a ela. Acreditei que poderia levar calma e conforto para ela e a família", disse.

Nesta semana, a mãe precisou ser levada para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) porque o quadro de saúde dela se agravou. Como o acesso à área é restrito, Eliana autorizou a entrada de Erismar, que visita dona Florestina após o expediente. "Ela vem, faz as orações e sempre canta um pouco. É bom receber esse carinho de quem a gente menos espera", disse Eliana.

O gesto de cantar para o paciente, segundo a psicóloga Kátia Beal, pode confortar e acalmar em um momento de angústia. "Ainda que o paciente esteja em coma, ele sente o que está acontecendo. Já tive casos de conversar ou tocar uma pessoa que estava nessa situação e depois que saiu, ele se lembrar. É um cuidado e um carinho que a pessoa recebe em um momento de dor", disse.

A psicóloga, no entanto, alerta para a individualidade de cada um. "Tem gente que não gosta de música ou prefere ficar quieto. E o que era para ser um alívio pode se tornar um incômodo. Por isso, é preciso ter cautela e conhecer a pessoa que vai receber essa atenção especial".