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Aparelho quebrado força paciente com câncer do Acre a buscar outros estados

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió (AL)

28/08/2015 16h58

Pacientes com câncer do Acre que necessitam de radioterapia precisam buscar tratamento em outros estados há pelo menos sete meses. O único aparelho de radioterapia do estado, do Hospital do Câncer do Acre, em Rio Branco, está quebrado. Os pacientes são encaminhados para Porto Velho (RO) ou Barretos (SP) para fazer a radioterapia.

Os pacientes são inclusos no programa TFD (Tratamento Fora de Domicílio), mas reclamam da demora em conseguir vagas nos outros estados além do atraso do pagamento do auxílio-doença para custear hospedagem, alimentação e transporte.

A aposentada Lindaura do Nascimento, 77, luta contra o câncer de mama desde 2009 e conta que se apavorou ao ser obrigada a buscar tratamento em Porto Velho. Ela nunca tinha saído da cidade onde mora, em Cruzeiro do Sul, extremo norte do Acre.

A filha de Lindaura, Maria Simone do Nascimento conta que a mudança de rotina afetou a família. “Foi um grande sofrimento porque, além de sabermos da volta da doença, teríamos de se adaptar a outra cidade. Minha mãe ficou desesperada, chorando dia e noite porque iríamos viajar para uma cidade longe. Não sabia como chegar ao hospital e como iríamos ficar lá depois que ela saísse das sessões. Foi um caos para conseguir convencê-la a ir”, disse.

A idosa se submeteu a 28 sessões de radioterapia para combater a reincidência do câncer de mama, que apareceu na cicatriz da cirurgia. A família relata que gastou cerca de R$ 3 mil com transporte, alimentação e medicamentos complementares quando ficou por 35 dias em Rondônia.

“Voltamos no dia 6 e ainda não recebemos nada do auxílio-doença. Para nos mantermos em Porto Velho tivemos ajuda dos parentes e dos amigos, que contribuíram com o que podiam. Ficamos na casa de uma família conhecida. Se não fosse isso, não tínhamos condições de custear também a hospedagem”, disse Maria Simone.

Antes de viajar para Porto Velho, a idosa ficou três semanas em Rio Branco à espera da liberação do tratamento no Instituto de Oncologia e Radioterapia São Pellegrino. Lindaura e a filha ficaram hospedadas na casa da Associação Amigos do Peito, que acolhe doentes de câncer que vêm do interior do estado para Rio Branco para se tratarem no Hospital do Câncer do Acre.

O paisagista Gerson Camelo Faria, 58, está há dois meses esperando o tratamento contra o câncer de próstata, que fora diagnosticado no mês de junho. Ele conta que está apreensivo com a demora para iniciar a radioterapia ou se submeter a cirurgia. Faria disse que teme, apesar do diagnóstico precoce, que a espera poderá causar-lhe problemas na eficácia do tratamento.

“Quando descobrimos a doença, o médico informou que como o câncer está em fase inicial, eu poderia fazer sessões de radioterapia sem precisar da cirurgia, Mas, já se passaram dois meses, e nem a radioterapia ou a cirurgia foram liberadas”, disse.

Na casa da Associação Amigos do Peito há pelo menos três pessoas que vão precisar da radioterapia e já foram alertadas que podem ir para outros estados caso o aparelho não seja consertado a tempo do início do tratamento. A coordenadora da Casa Amigos do Peito, Juliana Paes dos Santos, conta que eles já demostraram aflição em ter de enfrentar uma nova viagem para dar continuidade ao tratamento.

“Acolhemos pessoas muito carentes e que nunca saíram das suas cidades. Para elas virem a Rio Branco já é um sacrifício, agora imagine elas terem de ir para outros estados. Isso tem gerado pânico até porque não é fácil conseguir hospedagem em casas de apoio semelhantes à nossa”, conta a coordenadora da associação.

A Associação Amigos do Peito possui 30 leitos e, muitas vezes, acolhe pacientes além da capacidade. “A gente vai logo orientando as pessoas que chegam aqui e vão precisar de radioterapia, que guardem dinheiro porque o auxílio-doença que o estado dá demora a sair e, quando sai não paga nem a metade das despesas que vão ter em Porto Velho ou Barretos", relata Santos.

Outro lado

A Sesacre (Secretaria de Estado de Saúde do Acre) justificou que não existem hospitais da rede particular que possuam o serviço de radioterapia e, por isso, com a indisponibilidade do tratamento no Hospital do Câncer do Acre, os pacientes são encaminhados para outros Estados por meio do SUS (Sistema Único de Saúde).

A Secretaria não justificou o porquê da demora do início do tratamento dos pacientes. O secretário estadual de Saúde, Armando Melo, informou que o equipamento aguarda manutenção da fabricante argentina, e por isso, há uma demora no procedimento. Ele afirmou ainda que o estado deve receber um novo equipamento de radioterapia até o final de 2016.

Sobre a reclamação do atraso do pagamento de ajuda de custo relatado por pacientes, a secretaria disse que não existem processos em atraso, e as pessoas que se queixam do atraso devem procurar a Secretaria para se informar sobre sua situação.