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Site ajuda grávidas de Curitiba a saber se médico faz parto normal

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL em Curitiba

17/11/2015 09h06

Um site criado por estudantes de jornalismo da Universidade Positivo, de Curitiba (PR), permite às gestantes conhecer o perfil dos médicos que realizam partos na cidade. No Nascer Bem (nascerbem.redeteia.com), as mulheres podem monitorar as estatísticas de partos normais e cirurgias cesarianas feitas por profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde) e de cerca de 50% da rede particular.

As informações, obtidas via lei de acesso à informação, são inéditas e mostram o percentual de partos realizados nos anos de 2014 (planos particulares) e 2013 (SUS). Entre as empresas listadas estão Unimed, Amil, Instituto Curitiba de Saúde (ICS) e Sul América. A Clinipam se recusou a fornecer os dados.

A Resolução 368, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em vigor desde julho deste ano, obriga os profissionais e os estabelecimentos a fornecer os dados sobre os partos feitos. A norma faz parte de uma campanha do Ministério da Saúde para tentar baixar o número de cesarianas desnecessárias no país. Atualmente, mais da metade dos bebês brasileiros nasce por via cirúrgica (um índice que chega a 84,6% na rede particular). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa deve ficar entre 10% e 15% dos partos.

Desde então, grupos de mães estão se juntando para compilar os dados dos médicos obstetras, uma tarefa nem sempre fácil;

A professora Rosiane Correia de Freitas, que ajudou a coordenar o projeto, conta que o objetivo principal dos estudantes era usar um banco de dados públicos. Depois que escolheram o DataSus, que apresenta diversas informações relacionadas à saúde pública, o grupo escolheu o recorte sobre partos.

"Temos muitos alunos focados no assunto violência da mulher e houve a resolução da ANS em julho. Notamos que muitas pessoas tinham dificuldade em obter os dados dos médicos. Por isso, optamos por focar no assunto”, ressalta. A iniciativa envolveu 15 pessoas, sendo oito alunos, teve apoio do Livre.jor, grupo de jornalistas curitibanos que defende o livre acesso à informação pública.

Segundo a professora, as pessoas que acessam o site costumam confirmar a impressão que já tinham sobre o médico.

Tabu

A advogada Fabíola Gasparoto Garcia, 30, que acabou de dar à luz a sua filha Lívia Maria, conta que é difícil achar em Curitiba médicos que conversem abertamente sobre o parto na primeira consulta. Quando precisou procurar outro obstetra no meio da gravidez, ouviu de uma das profissionais que visitou que a médica "gostava de ‘operar’ em hospitais e não em maternidades". "Achei um pouco drástico o termo e foi um estalo para começar a pensar mais sobre o assunto", disse. 

Para ela, como os profissionais não abordam o assunto nas consultas, ele vira uma espécie de tabu. "Ouvi muitos relatos de médicos que disseram 'falamos sobre cesárea ou parto normal mais para o fim da gravidez', mas eu acho que é um assunto que precisa ser discutido na primeira consulta", afirma.

Gasparoto achou seu médico após pesquisar em blogs sobre o tema e conversar com colegas de ioga. "Porque não existia essa ferramenta, que teria me ajudado a buscar apenas médicos que dessem prioridade ao parto normal, indo ao encontro do que eu queria", diz. 

Ela acredita que o aplicativo diminui o tempo gasto com consultas que servem apenas para as mães entenderem a forma de o médico trabalhar.

A coordenadora de marketing Flavia Alves, 35, que está grávida da segunda filha, acredita que o número não pode ser analisado de forma isolada. "Meu médico ficou durante 30 horas comigo no meu primeiro parto e em nenhum momento sugeriu uma cesárea. Muitas das suas pacientes não querem o parto normal e ele, por ser um médico que respeita suas pacientes, não as obriga a passar pelo parto normal, caso não queiram", explica. "Se você olhar só a estatística, que é de 50%, vai pensar que ele não apoia o parto normal”, diz.

O diretor-presidente da ANS, José Carlos de Souza Abrahão, disse, na época em que a resolução entrou em vigor, que a divulgação dos índices eram uma forma de incentivar os profissionais a fornecer informações qualificadas sobre os riscos gerados em decorrência de um procedimento cirúrgico desnecessário.

Quando buscamos Amil, por exemplo, dos 88 profissionais listados, apenas dois tem taxa de cesária menor de 50% e 13 taxa menor que 80%. O mesmo acontece com a Sulamerica, que tem dois obstetras entre 88 com mais da metade dos partos feitos de forma normal.

Para consultar a lista, visite nascerbem.redeteia.com/#pesquisa.