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Por que engordamos? É uma vantagem evolutiva, responde médica em livro

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Imagem: Thinkstock

Paula Moura

Colaboração para o UOL

25/11/2015 10h08Atualizada em 25/11/2015 12h42

A tendência de engordar não é culpa de ninguém, pois a seleção natural escolheu os seres humanos com maior capacidade de armazenar gordura, explica Alicia Kowaltowski, médica e professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. Ela lança nesta quarta-feira (25) o livro “O que é metabolismo? Como nossos corpos transformam o que comemos no que somos”, em que explica os processos de obtenção de energia do corpo. "Até pouco mais de cem anos atrás, a expectativa de vida era de 40 anos apenas", diz.

"Era uma vantagem evolutiva e a tendência continua. Como temos comida disponível, fica mais fácil engordar". Por isso não há sentido em fazer a chamada "dieta paleolítica", por exemplo, pois, com ela, a expectativa de vida era ainda menor, de cerca de 35 anos. No livro, Alicia também analisa o efeito de dietas no corpo e conclui que a mais saudável se aproxima da dieta mediterrânea, com verduras, legumes, quantidades moderadas de proteínas e óleos vegetais.

Agora, o desafio da ciência é descobrir por que algumas pessoas têm dificuldade de engordar. "Isso pode ser a chave para ajudar muita gente com obesidade". Pesquisadores do mundo inteiro estão atrás dessas pistas, inclusive Alicia e sua equipe. Entre as pesquisas do Laboratório de Metabolismo Energético estão descobrir o exato processo bioquímico de como a alimentação afeta os neurônios no cérebro ou como o jejum prolongado aumenta as chances de desenvolver diabetes.

Proteína também é transformada em gordura

Se você acha que substituir os carboidratos pelas proteínas emagrece, é bom saber que o destino delas é o mesmo dos carboidratos a mais que comemos: virar gordura. E mais, o corpo é capaz de transformar proteínas em carboidratos quando precisa de energia, mas nunca transforma carboidratos em proteínas.

No livro, a professora explica as vias de mão única e mão dupla das substâncias dentro das células e no corpo em geral. Há diversos casos na literatura, diz Alicia, de pessoas saudáveis que desenvolveram uma doença associada à diabetes, chamada de cetoacidose, pela falta de carboidratos.

Outra dessas vias de mão única é a da gordura. O alimento em excesso -- seja de qualquer tipo -- vira gordura. Metabolizada, vira energia para queimar ou fica depositada. Já a via da glicose, por exemplo, vinda dos doces, frutas, e carboidratos, é uma via de mão dupla. Somos capazes de quebrar a glicose e de "fabricar" a glicose. Essa é a principal reação química do mapa metabólico, pois, sem ela, não há energia. Por isso que, quando passamos muito tempo sem comer, o corpo é obrigado a sintetizar energia a partir das proteínas, gastando os músculos, pois o cérebro precisa de glicose para funcionar.

Um dos hormônios mais importantes dessa via é a insulina, indispensável para que a energia em excesso seja transformada em gordura. Poderíamos então pensar: melhor não tê-la então. Mas, pior sem ela, pois a falta da insulina ocasiona diabetes tipo 1. Nervos e vasos sanguíneos não funcionam direito e causam diversos problemas no corpo.

Radicais livres

Para a surpresa de muitos, os radicais livres também não são apenas vilões. "Quando se faz exercícios, há um processo de oxidação que melhora a musculatura e a vascularização", diz. "Se você toma antioxidantes como vitamina C e E, por exemplo, sem indicação médica, antes do exercício, elas vão impedir esses efeitos positivos", diz.