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Ser gordinho também pode ser saudável e proteger contra doenças

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Imagem: Thinkstock

Paula Moura

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/11/2015 06h00

A ideia de que um corpo saudável é magro e, mais do que isso, que existe um peso ideal vem sendo posta em dúvida nos últimos anos graças ao chamado paradoxo da obesidade. O debate é quente não apenas nas redes sociais, como também entre os médicos. Sempre que algum pesquisador fala do paradoxo, críticos se levantam. Mas, cada vez mais o conceito vem sendo aceito e comprovado. Essas pesquisas mostram que o índice de massa corporal (IMC) considerado sobrepeso (entre 25 e 30) e obesidade leve (30 a 35) pode ser benéfico em algumas situações, como doenças graves e até osteoporose.

Isso, no entanto, não significa que não devemos nos preocupar em ter uma alimentação saudável, diz Alline Maria Beleigoli, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela foi uma das primeiras pesquisadoras a tratar do tema no país, em 2013. Alline estudou um grupo de idosos na cidade de Bambuí (MG) de 1997 a 2007 e seu trabalho mostrou que os idosos com IMC sobrepeso e obesidade leve morreram mais tarde do que os que eram considerados magros (com IMC entre 20 e 25).

“Em casos de internação por insuficiência cardíaca ou qualquer doença muito grave que consome as reservas do corpo, o sobrepeso e a obesidade leve ajudam a proteger o corpo e funcionam como uma reserva metabólica”, diz. No entanto, o IMC acima de 33 foi associado a uma taxa de mortalidade mais alta, o que indica que há um limite para o paradoxo. O índice é a medida para obesidade da Organização Mundial de Saúde (OMS) e precisa apenas de altura e peso para ser calculado (o peso (em quilos) dividido pelo altura (em metros) elevada ao quadrado).

A primeira vez que o fato de pessoas com sobrepeso e obesidade leve viverem mais do que os "magros" foi observado foi na década de 1980 nos Estados Unidos em pacientes que faziam hemodiálise. “Desde então, esse fenômeno vem sendo descrito, além de em pacientes com doença renal crônica, em pessoas com doenças cardiovasculares, pulmonares e neoplasias”, explica a médica brasileira.

Em 2011, Katherine Flegal, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, compilou dados de cerca de cem artigos científicos sobre mortalidade e IMC, totalizando quase 3 milhões de participantes. “Essa combinação de dados, chamada meta-análise, é uma evidência mais forte do que a evidência gerada por estudos individuais”, diz Alline.

Segundo a revista americana Quartz, atualmente acredita-se que essa pequena gordura “a mais” ajuda a proteger os pacientes de diversos problemas como pneumonia, queimaduras, AVC, câncer, hipertensão e doenças do coração.

A médica brasileira explica que o IMC engloba não apenas a gordura corporal, como também os músculos e ossos. Por isso, alguém com uma densidade óssea maior também pode ter um IMC alto e não necessariamente precisa baixá-lo. Segundo a médica, o tipo e a localização da gordura são alguns dos fatores que determinam se a gordura é benéfica.

Onde é bom ter gordura?

Por exemplo, o acúmulo na região abdominal é sinal de que a gordura está localizada dentro ou ao redor dos órgãos internos e músculos. E está associada a maior inflamação e risco cardiovascular e metabólico. Já a gordura subcutânea (aquela localizada sob a pele) é anti-inflamatória e pode agir como protetora do corpo.

O importante, ressalta Aline, é descobrir se a gordura está afetando negativamente o corpo, pois cada caso é um caso. “Se não tem repercussão negativa na saúde, como diabetes, colesterol alto ou dor no joelho, por exemplo, não precisa focar em perder peso, pode focar em ter hábitos saudáveis como praticar exercícios físicos e alimentar bem”, diz.

Controvérsia

Ela mesma apresenta alguns pontos de metodologia que são contestados por críticos da tese, que cada vez vem sendo mais reforçada pelas pesquisas. “No meu caso, estudei pessoas a partir de 60 anos. As pessoas com maior risco podem nem ter chegado à seleção, podem ter morrido antes, por exemplo”. Outro fator, explica ela, seria o tempo de obesidade, que não foi medido. Faz muita diferença se a pessoa se tornou obesa ou chegou no sobrepeso nos últimos anos ou se é algo que vem desde a infância.

“As pessoas obesas sofrem muito preconceito, são vistos como preguiçosos. Mas nem sempre obesidade é associada à doença, assim como nem sempre magreza é sinônimo de saúde. Não fumar, ter hábitos alimentares saudáveis e praticar exercício físico regularmente são importantes para todos independentemente da faixa de IMC em que se encontram”, conclui.