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"Dor insuportável?, diz vítima de chikungunya que adquiriu artrite crônica

A relações públicas pernambucana Giselle Galvão, 34, foi vítima da chikungunya em novembro e revela que adquiriu artrite crônica - Arquivo Pessoal
A relações públicas pernambucana Giselle Galvão, 34, foi vítima da chikungunya em novembro e revela que adquiriu artrite crônica Imagem: Arquivo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/01/2016 19h38

Deixada um pouco de lado por conta do medo do zika vírus e suas consequências, a febre chikungunya segue fazendo vítimas pelo país. Das três doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, a chikungunya é a que apresentar dores mais fortes e incapacita por mais tempo. Em muitos casos, os pacientes relatam dores “insuportáveis” e até chegam a adquirir problemas crônicos.

A doença tem como principal característica a dor intensa nas articulações, que dura pelo menos três semanas. Quem já teve a febre chikungunya relata que tarefas simples, como caminhar ou levantar os braços, são às vezes impossíveis.

A relações públicas pernambucana Giselle Galvão, 34, foi vítima da chikungunya em novembro e revela que adquiriu artrite crônica como consequência da doença.

Ela conta que, no dia 10 de novembro, começou a sentir dores nos joelhos e tornozelos. No dia seguinte, com febre de 38,5ºC e calafrios, procurou um hospital no Recife. “Mandaram para casa tomar dipirona e muita água”, contou.

Mas as dores aumentaram, e começava então uma saga de outras três visitas ao hospital --mas que não fecharam diagnóstico. “Fiz quatro exames de sangue e apenas diziam que não era dengue, que seria ou zika ou chikungunya”, contou.

Tratando do problema em casa apenas com líquido e analgésicos, as dores foram aumentando ao longo dos dias. Até que um dia médico amigo a alertou sobre o que deveria estar ocorrendo.

“Na pior crise quase não consegui andar. Como já tinha passado muito tempo e a dor não parava, esse médico amigo disse que achava que eu deveria estar com artrite reacionária e mandou procurar reumatologista. Quando levei os exames de sangue que fiz, os dois últimos já apontavam que estava com artrite”, disse.

Os sintomas da chikungunya foram intensos. “Os dedos quase não fechavam. Não conseguia abrir a geladeira, não cortava uma verdura, segurava o copo com as duas mãos. Hoje estou melhor com a medicação [corticoide]”, afirmou.

Galvão conta que, mesmo tomando remédios, ainda sofre com dores intensas. “As dores são sempre uns três dedos abaixo do joelho e entre o pé o tornozelo. É uma dor insuportável. Nas primeiras horas do dia é que dói mais, fica muito enrijecido. Para levantar da cama fico um tempão sentada, dando um tempo, vou me concentrando. É muita dor, levanto e ando mancando”, revelou.

Sintomas mais intensos

O professor de infectologia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Fernando Maia, explica que a principal característica que diferencia a dengue da chikungunya é a dor forte nas articulações, além de uma incapacidade mais prolongada nas vítimas.

“A dor articular é mais intensa, e a pessoa fica com dificuldade pegar objetos, de segurar um bloco, de andar. Vários pacientes chegam a ir de cadeira de rodas ao médico, o que não costuma acontecer na dengue ou zika. E depois que passa a fase aguda, que é até uma semana, a dor articular permanece e pode deixar incapacitado por um tempo mais ou menos prolongado, de três semanas até três meses. Mas existem relatos de até dois anos”, explicou.

Apesar de apresentar dores mais intensas, a chikungunya tem tratamento semelhante aos pacientes com dengue e zika vírus, com diferença apenas no período. “Como os sintomas duram muito, as pessoas vão e voltam ao médico mais vezes”, complementou.

O lado mais "positivo" da doença é que a taxa de internação por casos graves e de mortalidade é menor que o da dengue --que é a campeã em mortes.

Maia diz que nem sempre é fácil diferenciar as doenças. “Tem alguns casos que diagnosticar é mais fácil porque são sintomas bem característicos, mas em casos mais leves é difícil dizer quem é quem, a não ser pela progressão e alteração dos sintomas. Algumas pessoas já têm as dores no primeiro dia de febre, alguns outros aparecem dias depois”, explicou.

Sobre o caso da relações públicas Giselle Galvão, o professor explicou que, embora raro, é possível que haja sequela permanente. “Têm pessoas que ficam com sequelas articular permanente. A pessoa que já tem predisposição à artrite, o risco maior de fazer uma artrite crônica, já se viu isso em outro locais", explicou.

A fisioterapeuta intensivista Meryanne Fernandes também afirma que a recuperação necessita de terapia intensa em alguns casos, mas que as complicações da doença dificultam os procedimentos. “Os pacientes mais críticos podem ser levados à UTI [Unidade de Terapia Intensiva], e mesmo tendo assistência 24h do fisioterapeuta nessas unidades, a terapêutica pode ser limitada pelas alterações hemodinâmicas do paciente”, disse.

Casos no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, foram notificados 20.661 casos da doença em 2015, mas sabe-se que o número é subestimado porque muitos casos foram confundidos com dengue ao longo do ano não entraram na conta. Especialistas apontam que em 2016 o número de notificações deve ser mais próximo da realidade.

Em 2015, foram seis mortes pela doença: três na Bahia, uma em Sergipe e uma em São Paulo. Este ano, Pernambuco também confirmou uma morte por miosite causada pela chikungunya –problema que acomete os músculos do paciente e pode causar convulsões, paralisia de partes do corpo como e do aparelho respiratório, provocando infecção grave.