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Semelhança com zika inflou casos de dengue no país em 2015

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/02/2016 06h00

No dia 15 de fevereiro de 2015, a Secretaria da Saúde da Bahia recebeu o alerta de que uma doença com sintomas que pareciam com os da dengue estava se espalhando pelo Estado. Foi a primeira notícia oficial no Brasil da então chamada Doença Exantemática Indeterminada. Pacientes chegavam às unidades de pronto-atendimento com sintomas parecidos com os da dengue, mas mais brandos. No final de abril, os pesquisadores da UFBA (Universidade Federal da Bahia) confirmaram que se tratava da zika.

O desconhecimento em relação à nova doença pode ter inflado o número de casos de dengue em 2015 no Brasil –1,6 milhão ao todo. Segundo o infectologista e professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Kleber Luz, durante meses a semelhança entre as doenças levou médicos a notificarem os pacientes como casos prováveis de dengue.

A notificação é um sistema baseado em avaliações clínicas, sem avaliação laboratorial, e pode ser falha. Ano passado, a gente imagina que boa parte dos casos de dengue se tratavam, na verdade, de casos de zika

Kleber Luz, infectologista

O Ministério da Saúde (MS) confirmou que muitos dos casos oficiais de dengue podem, na verdade, se tratar de zika --já que nem todos os pacientes passam por exames laboratoriais. Além disso, até hoje, o país não tem à disposição um teste sorológico para identificar o vírus –há apenas um teste genético, chamado PCR, mais caro e demorado.

Estima-se que entre 500 mil e 1,5 milhão de brasileiros foram infectados pelo vírus da zika.

Zika foi encontrada em três mortos

A terceira morte no país de paciente com presença do vírus da zika no corpo teve diagnóstico para dengue. Uma jovem de 20 anos, moradora do Rio Grande do Norte, morreu em abril do ano passado e teve o óbito associado à dengue. Porém, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, o material coletado da paciente deu negativo para a doença e detectou a presença do zika. 

“Esta confirmação é um achado importante, vai agregar dados à investigação do comportamento do vírus, porém ainda não é o momento de dizer que o vírus causou o óbito desta paciente; isso só poderá ser confirmado após uma investigação completa e cuidadosa. Nos preocupa o fato de a doença [zika] aparecer com um quadro sintomático leve e observarmos consequências mais sérias”, disse a coordenadora de Promoção à Saúde, Cláudia Frederico.

Até agora, três casos de morte com presença do zika foram confirmados no Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão. O RN tem outros 22 óbitos descartados para dengue e que estão sendo investigados para detectar a presença do vírus.

Cuidado com grávidas 

Os sintomas da dengue são febre constante por cinco a sete dias, dor articular, dores musculares, dor óssea e, ao final da doença, manchas vermelhas pelo corpo e coceira. Já a principal característica do doente infectado pelo vírus da zika são manchas avermelhadas, coceira intensa, inflamação nos olhos e febre branda (nem todos apresentam esse sintoma). 

O médico destaca que é importante o diagnóstico correto das doenças porque a dengue é a que tem efeito mais grave, podendo levar a morte do paciente. No entanto, a exceção são as grávidas, desde que o vírus da zika foi associado à microcefalia

“Quando se acha que é dengue, mas é zika não tem tanto problema porque o tratamento é mais severo para a primeira. Porém, o problema está no diagnóstico de zika sendo o paciente com dengue ou chikungunya. A doença pode evoluir para o caso mais grave, de dengue hemorrágica ou síndrome de Guillain-Barré, por não estar recebendo o tratamento de maneira efetiva para a dengue ou chikungunya”, diz Luz.