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Casos de microcefalia na Colômbia são questão de tempo, diz especialista

Daniela Rodriguez, 19, grávida de seis semanas, e duas outras mulheres grávidas esperam por resultados de exame de zika na Colômbia - Ricardo Mazalan/AP
Daniela Rodriguez, 19, grávida de seis semanas, e duas outras mulheres grávidas esperam por resultados de exame de zika na Colômbia Imagem: Ricardo Mazalan/AP

Cristiane Capuchinho

Do UOL, no Recife

02/03/2016 06h01

"Questão de tempo". Assim explica a epidemiologista colombiana Lyda Osorio ao ser questionada sobre casos de microcefalia no país sul-americano que passa por uma epidemia de zika. "Podem acreditar ou não, mas é importante que o país esteja preparado, pois eles virão", comenta a pesquisadora da Universidad del Valle.

A Colômbia enfrenta um surto de zika com registros confirmados para o vírus desde outubro de 2015. Mais de 34,5 mil pessoas já foram diagnosticadas com zika. Dessas, mais de 6 mil são pacientes grávidas, sendo que 522 delas tiveram exames de sangue positivos para o vírus.

Com apenas um caso de suspeita de microcefalia relatado até o momento, o país é citado como fiel da balança para estudos que podem determinar a causalidade entre o vírus da zika e a más-formações cerebrais congênitas.

O governo da Colômbia prevê o nascimento de 450 a 600 bebês com microcefalia em 2016.

Vale ressaltar que os problemas encontrados nos bebês não são só microcefalia, mas uma série de problemas neurológicos, além alterações dos olhos –normalmente retina--,  nos ouvidos e nas articulações e membros. 

O Brasil, que pode ter tido mais de 500 mil pessoas infectadas em 2015, tem 641 casos confirmados de microcefalia ou lesões neurológicas em bebês e investiga outros 4,2 mil casos.

No entanto, lembra a pesquisadora Osorio, a zika afetou a Colômbia meses após seu pico nos Estados do Nordeste do Brasil. Por conta do tempo de gestação, é esperado que notificações de más-formações em bebês ganhem destaque na Colômbia a partir de junho.

"O pico de casos de zika no Brasil aconteceu cerca de seis meses antes do início da epidemia de microcefalia. Antes disso, o que se via eram doenças neurológicas, como Guillain-Barré."

O país teve um aumento substancial de casos de zika notificados nas primeiras semanas de 2016. No mesmo período, os pacientes com síndrome de Guillain-Barré se multiplicaram nos hospitais colombianos. Apenas em janeiro, foram 86 casos, três vezes mais a média histórica do país, segundo boletim da OMS (Organização Mundial da Saúde) de fevereiro.

A sequência de doenças neurológicas ligadas à zika relatadas na Colômbia segue o padrão visto no Brasil, confirma o pesquisador da UFPE Carlos Brito, que esteve no país vizinho recentemente como parte de um grupo técnico para o vírus.

6.000 grávidas sob os olhos do mundo

A Colômbia criou em janeiro um protocolo nacional para lidar com os casos de zika e com as grávidas infectadas pelo vírus. As colombianas com diagnóstico de zika na gestação –mais de 6 mil até o momento-- passam a fazer um pré-natal especial para gravidez de alto risco. Durante esse acompanhamento, elas devem passar por exames de ultrassom para acompanhar o desenvolvimento do feto, explica Osório.

O país também abriu as portas para pesquisadores internacionais ajudarem a entender o que acontece por lá. O CDC (Departamento de saúde norte-americano) fechou um acordo para começar estudos de caso-controle no país que possam determinar a causalidade entre zika e microcefalia –o mesmo estudo é feito no Nordeste brasileiro.

Enquanto pairam tantas dúvidas sobre os efeitos da zika durante a gravidez, o país tem recomendado que as mulheres evitem a gravidez por conta do risco de más-formações.

Em outra via, é indicado o uso intensivo de repelente pelas grávidas para afastar o mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus, e alguns governos locais passaram a distribuir mosquiteiros para gestantes.