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Poder da web permitiu liberação da pílula do câncer, diz dono da patente

Cecília Bastos/USP Imagens
Imagem: Cecília Bastos/USP Imagens

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

14/04/2016 11h31

O doutor em biotecnologia Marcos Vinicius de Almeida, membro da equipe da USP de São Carlos que criou a fosfoetanolamina sintética, se diz feliz pela liberação da substância, conseguida graças ao “poder da internet”. Mas se mostra preocupado com a condução das pesquisas e com a fiscalização da produção.

A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que permite a comercialização e uso da “pílula do câncer” mesmo sem registro da Anvisa, apesar de estudos científicos não terem apontado nenhuma eficácia da fosfoetanolamina no tratamento do câncer. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (14).

“Fico feliz por saber que a grande mídia televisiva sente na pele o poder da web, da mobilização online, das páginas sociais e da certeza que este país aos poucos está mudando com ou sem seu consentimento”, afirmou.

O texto do projeto de lei permite que pacientes diagnosticados com câncer usem a substância por livre escolha, desde que assinem termo de consentimento e responsabilidade, antes de concluídas as pesquisas científicas para seu registro definitivo na Anvisa. Mas não informa onde e como a substância será produzida.

Por isso Almeida crê na necessidade de uma fiscalização rigorosa, já que ele e a equipe da USP de São Carlos detêm a patente da fórmula da pílula. A lei não deixa claro que só poderá produzir o composto quem tem a patente da pílula fabricada na USP ou se outros interessados em fabricar a fosfoetanolamina sintética também poderão comercializá-la.

“Sei também que temos que ser perseverantes na condução destes estudos e sua interpretação, na fiscalização dos possíveis locais de produção, e se estes estão de acordo com a nossa síntese e respeitando nossa patente, entre outros detalhes que teremos que realizar daqui para frente”, disse.

Desde que a Justiça proibiu a USP (Universidade de São Paulo) de doar as cápsulas, prática feita por anos pelo químico Gilberto Chierice, líder da equipe de Almeida, uma enxurrada de ações judiciais ocorreu para ter acesso à pílula.

Segundo os pesquisadores e antigos usuários da substância, ela teria contribuído para a sobrevida de pacientes com câncer e até a cura em alguns casos. Mas a falta de testes científicos em humanos fez a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) impedir sua distribuição.

“Eu estou muito feliz pelos pacientes que poderão ter uma esperança em receber algo que pode em hipótese lhes oferecer uma melhora da qualidade de vida e em alguns casos até a cura de sua enfermidade”, afirmou.

O pesquisador Marcos Vinícius de Almeida também proprietário da patente já afirmou que toma a pílula desde 2005 como suplemento vitamínico. "Eu já tomo fosfoetanolamina desde 2005 (...). Eu tomo como suplemento de cálcio, zinco e magnésio. Nunca tive um tumor, nunca tomei com essa finalidade", explicou. Segundo ele o composto "como qualquer composto com fósforo", melhora a cognição, de memória.

Diante da mobilização de usuários e seus familiares, o governo liberou recentemente R$ 10 milhões para pesquisas com a substância. O resultado do primeiro relatório, no entanto, mostrou que a pílula da USP não tem grande eficácia contra o câncer.

Diante disso, o pesquisador afirma ser necessário manter as pesquisas ainda iniciais.

“Teremos muito trabalho para se concluir as pesquisas e saber o que, como, onde e de que forma a fosfoetanolmaina sintética atua no organismo humano e frente as patologias neoplásicas malignas”, disse. Os pesquisadores defendem que a ação do composto é no organismo vivo, reagindo com o metabolismo no corpo.