Bactérias do intestino podem agir no sistema nervoso e provocar obesidade
Obesidade, resistência à insulina e síndrome metabólica estão associadas a alterações na flora intestinal. Segundo um estudo de cientistas da Universidade de Genebra, na Suíça, e da Universidade de Yale (EUA), a forma como os micro-organismos se comportam no intestino pode influenciar o sistema nervoso e ser a causa dessas doenças. A pesquisa foi divulgada nesta quarta-feira (8) pela revista Nature.
Uma pesquisa, feita com roedores, mostra que a produção de acetato pela flora intestinal ativa o sistema nervoso parassimpático para que ele aumente a produção de grelina (conhecida como o "hormônio da fome") e de insulina induzida pela glicose. Segundo os pesquisadores, isso gera aumento do apetite e da ingestão de alimentos, ganho de peso, doença hepática gordurosa e resistência à insulina. A capacidade da flora intestinal ativar essa região era desconhecida até o momento.
A glicose é um carboidrato que fornece a energia necessária para o organismo funcionar. Ela está presente em diversos alimentos como massas, pães e frutas. A insulina é um hormônio, produzido no pâncreas, que ajuda a glicose a se transformar em energia e penetrar nas células do corpo. Quando o indivíduo se torna resistente à insulina a glicose se acumula no sangue, o que pode causar doenças como diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e a obesidade.
Durante o processo digestivo, as bactérias do intestino produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que incluem acetato, propionato e butirato. Os cientistas relataram que roedores alimentados com uma dieta rica em gordura produziam acetato em maior quantidade do que os alimentados de forma comum. A análise destes dados vai permitir identificar a forma como a flora intestinal ajuda na progressão da obesidade induzida pela má alimentação.
Para os pesquisadores, essa informação pode ajudar a prevenir doenças. "Os resultados destes estudos demonstram que através do bloqueio desse acetato é possível prevenir a obesidade e a resistência à insulina", diz Gerald Shulman, professor de medicina da Faculdade de Yale, e um dos autores da pesquisa.
No entanto, a flora intestinal não é a mesma para todo mundo. As bactérias se desenvolvem de acordo com as condições de nascimento e daquilo que o indivíduo ingere durante a vida. "Devemos lembrar que este estudo foi em ratos e não podemos transpor os resultados para humanos. Cada pessoa tem as suas bactérias intestinais. Você pode nascer com uma flora ótima e estragá-la com uma má alimentação. Não podemos dizer que é exclusivamente culpa das bactérias. Elas têm um papel na gênese da obesidade e da diabetes, mas não sabemos o quanto é importante nem dizer que começa aí", diz ao UOL Érika Bezerra Parente, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês.
Para a médica ainda é cedo para saber como essa terapia será usada. "A medicina já trata do sistema nervoso para auxiliar o controle da obesidade. Talvez no futuro o foco seja tratar as bactérias do intestino. É preciso ver como esse mecanismo vai ser demonstrado em humanos, mas sem dúvida é um começo", diz Parente.
Os pesquisadores ainda não sabem se essa descoberta também poderá ajudar quem já convive com a obesidade. "Agora estamos estudando para saber se o volume deste acetato em indivíduos obesos causa as mesmas reações no sistema nervoso", diz Shulman.
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