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Conheça a controversa cirurgia que Romário fez para controlar o diabetes

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Imagem: Reprodução/Instagram

Bia Souza

Do UOL, em São Paulo

10/01/2017 17h20

O senador e ex-jogador de futebol Romário chamou a atenção nos últimos dias pela silhueta. O ex-atleta realizou uma cirurgia com a intenção de controlar o diabetes, que segundo ele chegava a 400 mg/dL (miligramas por decilitro). Após o procedimento, o mesmo realizado pelo apresentador Fausto Silva, em 2009, Romário perdeu quase 10 kg.

A opção pela cirurgia contra o diabetes 2, no entanto, é controversa, segundo médicos consultados pelo UOL. A interposição ileal, desenvolvida pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula, é uma técnica experimental. Ou seja, não é aprovada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), mas pode ser realizada seguindo critérios de pesquisa.

O número do diabetes não determina a gravidade da doença. O que determina é o tipo, o tempo de existência da doença e os cuidados

Mario Carra, consultor da Sociedade Brasileira de Diabetes

A diferença dessa técnica para a cirurgia bariátrica convencional está na recolocação do íleo (fim do intestino delgado) entre o duodeno e o jejuno, o que aumenta a produção de hormônios da saciedade e melhoram o diabetes.

O diabetes tipo 2 surge quando o organismo não consegue usar a insulina que produz de forma adequada, ou produz insulina insuficiente para controlar a glicemia. A doença se manifesta na idade adulta por uma junção de predisposição genética, sedentarismo, obesidade e má alimentação.

Pelas regras brasileiras, o IMC (Índice de Massa Corporal) mínimo para a indicação da cirurgia bariátrica regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina é de 40 kg/m2. Pacientes com IMC entre 35 e 40 podem se submeter ao procedimento quando apresentam uma das 21 doenças associadas à obesidade, entre elas depressão, diabetes tipo 2, hipertensão, hérnias discais, disfunção erétil e ovários policísticos. Em alguns casos, para controlar o diabetes em quem não tem efeito com medicamentos, a cirurgia tem sido indicada a partir do IMC 30 kg/m2.

No caso de Romário, ele estava abaixo do IMC de 30, que caracteriza obesidade. Com 1,69 de altura e 80 kg, o senador, com IMC de 28, estaria na categoria de sobrepeso.

"A partir de 30 de IMC os doentes são obesos e têm benefícios com a cirurgia, mas abaixo de 30 não há estudos significativos que comprovem a eficiência", explica Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Para os médicos, pacientes que estão nos critérios da cirurgia bariátrica, que já possui regulamentação, podem se beneficiar com o procedimento.

"Indivíduos que têm diabetes de difícil controle, quem têm problemas metabólicos, colesterol aumentado, gordura no fígado, são os que mais se beneficiam com a cirurgia bariátrica", explica o cirurgião do aparelho digestivo Marco Aurélio Santo, diretor da Unidade de Cirurgia metabólica do Hospital das Clinicas.

Resultados positivos

Em abril, um estudo feito pelo hospital Sírio Libanês comparou o procedimento de interposição ileal com outros dois tipos de tratamento: a cirurgia clássica (chamada bypass gástrico) e o tratamento clínico, com medicamentos. Os resultados mostraram que o procedimento em pacientes com IMC entre 30 e 35 se mostrou mais eficaz do que os métodos clássicos.

Pessoas que têm diabetes e às vezes precisam tomar 2 ou 3 medicamentos, alguns até injetáveis, podem se beneficiar com a cirurgia. Ainda que a doença volte, seria de forma menos agressiva, dando uma perspectiva de vida maior ao paciente

Caetano Marchesini, cirurgião e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica

Mas os médicos ressaltam que, mesmo com tratamento, nem obesidade nem diabetes tem cura.

"As operações são experimentais não é uma cirurgia reconhecida. As evidências científicas são fortes, mas no momento não é uma indicação aos pacientes. Mesmo após a aprovação seria necessário cuidado na indicação dos pacientes. Seria indicado apenas para aqueles que o tratamento clínico não tem eficiência", explica Luiz Vicente Berti, cirurgião Centro de Excelência em Cirurgia Bariátrica do Hospital São Luiz.

Alternativas

Para o endocrinologista Mario Carra, a cirurgia não é a melhor opção. "Na verdade, o que se faz é trocar o medicamento da diabetes pelo que vai repor o que se perdeu com a cirurgia. É preciso melhorar a forma como a pessoa se alimenta, introduzir atividade física, não precisa ser mais do que 30 minutos de caminhada por dia e não consumir alimentos que pioram o diabetes, como açúcar, gorduras e frituras", ressalta o médico.

A reportagem tentou contato com o médico Áureo Ludovico de Paula, mas até o fechamento deste texto não obteve retorno.