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Epidemia de zika não aumentou a venda de pílulas e contraceptivos no país

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Imagem: Getty Images

Karina Toledo

Da Agência Fapesp

12/01/2017 10h17

Diante da explosão de casos de bebês nascidos com microcefalia e outras malformações congênitas no Nordeste do país em 2015 – e da crescente suspeita de que o fenômeno estivesse ligado à epidemia de zika –, o Ministério da Saúde emitiu, em novembro daquele ano, um alerta para que mulheres adiassem os planos de gravidez. Cerca de três meses depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência internacional de saúde pública.

Mas, apesar do apelo das autoridades sanitárias e da grande exposição do tema nos meios de comunicação do Brasil e do mundo, a venda de contraceptivos no país não aumentou em relação a anos anteriores, como mostra um estudo feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apoiado pela Fapesp e divulgado na revista "Human Reproduction".

No estudo, foram avaliados dados fornecidos pela indústria farmacêutica sobre a venda de produtos contraceptivos entre setembro de 2014 – um ano antes da confirmação do primeiro caso de microcefalia associado ao vírus da zika – e agosto de 2016.

Foram analisados os contraceptivos orais (pílula), os adesivos hormonais e os anéis vaginais, os anticoncepcionais injetáveis, tanto os de aplicação mensal como os trimestrais. Também fizeram parte da pesquisa os contraceptivos de emergência, popularmente chamados de pílula do dia seguinte e os métodos considerados de longa duração, como o DIU com cobre (10 anos de eficácia), o DIU medicado com levonorgestrel (cinco anos) e o implante hormonal (três anos). Os dados sobre preservativos não foram computados.

Pílula - AFP/Philippe Huguen - AFP/Philippe Huguen
Imagem: AFP/Philippe Huguen
A pílula, os adesivos hormonais e os anéis vaginais são os mais consumidos no Brasil, sendo que a pílula corresponde a mais de 90% das unidades vendidas deste segmento. O número, que era em torno de 13,4 milhões de unidades em setembro de 2014, manteve-se praticamente estável até agosto de 2016.

Entre os injetáveis os pesquisadores registraram uma leve queda. O número de unidades vendidas passou de 1,4 milhão para 1,3 milhão. Os contraceptivos de emergência tiveram uma pequena alta: de aproximadamente 1,2 milhão de unidades vendidas para 1,4 milhão. Já os métodos de longa duração saíram de 38,6 mil para 39,4 mil.

Os números refletem as unidades que foram vendidas pelas distribuidoras ao setor público, aos pontos de venda ou de dispensação e que, portanto, não é possível ter certeza se chegaram até as mulheres e se elas efetivamente usaram os produtos.

Poucas mulheres usam contraceptivos no país

DIU - Istock - Istock
Imagem: Istock
De acordo com o estudo apenas, apenas 1,6% das mulheres em idade reprodutiva no Brasil faz uso dos métodos de longa duração – considerados os mais eficazes na prevenção de gravidez. Nos Estados Unidos, o número é 5%, enquanto na Europa oscila entre 18 e 25%.

Os pesquisadores acrescentam que a demanda por contracepção de emergência no Brasil é muito superior à de países desenvolvidos, um reflexo da dificuldade em ter acesso a outros métodos de prevenção.

Na avaliação do coordenador da pesquisa, Luis Guillermo Bahamondes, da Clínica de Planejamento Familiar do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o resultado estaria mais ligado à dificuldade de acesso a métodos contraceptivos – especialmente na rede pública – do que à falta de interesse das mulheres em evitar a gestação.

De acordo com Bahamondes para conseguir uma cartela de pílula nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), por exemplo, antes é preciso esperar três ou quatro meses por uma consulta médica. “Comprar o medicamento nas drogarias é uma impossibilidade para muitas. Dos métodos considerados de longa duração, apenas o DIU [dispositivo intrauterino] com cobre é coberto pelo SUS [Sistema Único de Saúde] e, muitas vezes, faltam profissionais capacitados para inseri-lo”, disse Bahamondes.