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Mulher sobrevive seis dias sem pulmões à espera de um transplante

Melissa Benoit com marido Cris e a filha Olívia em seu aniversário de 33 anos, sete meses após a cirurgia - UHN/Divulgação
Melissa Benoit com marido Cris e a filha Olívia em seu aniversário de 33 anos, sete meses após a cirurgia Imagem: UHN/Divulgação

Paula Moura

Do UOL, em São Paulo

26/01/2017 19h31

Uma paciente no Canadá sobreviveu após ficar seis dias sem os pulmões à espera de um transplante - um feito muito raro na história da Medicina.

Melissa Benoit, na época com 32 anos, tinha um caso grave de fibrose cística com infecção pulmonar impossível de ser tratada com antibióticos. O procedimento foi feito em abril do ano passado em Toronto e ela vem se recuperando desde então.

Os médicos do Hospital Geral de Toronto, incluindo o brasileiro Marcelo Cypel, tomaram a decisão de retirar os pulmões de Melissa em conjunto da família ao verem que ela tinha muitas chances de morrer no mesmo dia.

O cirurgião-chefe do hospital de Toronto, Shaf Keshavjee, um dos três médicos que operaram Melissa, lembra que o momento foi muito desafiador. “Ela estava morrendo em frente aos nossos olhos. Tínhamos que tomar uma decisão porque Melissa ia morrer naquela noite.” A cirurgia durou nove horas.

Paulo Manuel Pêgo, diretor da Divisão de Cirurgia Torácica do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), explica que num transplante geralmente se retira um pulmão por vez e apenas na hora em que o transplante será realizado.

“Já se sabia que os pulmões não só não eram mais úteis, ela já estava na fila para transplante”, diz. “Neste caso, retiraram porque ela estava muito infectada e se não retirasse o pulmão, mesmo com um aparelho substituindo a função pulmonar, a infecção ficaria fora do controle”.

Assim, os médicos optaram por tirar os pulmões e deixaram sem os pulmões por alguns dias, enquanto se aguardava o transplante e estar bem suficiente para receber os novos pulmões. “Obviamente, se o transplante não aparecesse, a paciente iria morrer”, conclui Pêgo.

A cirurgia tem vários riscos, como hemorragia e o fato de a pessoa precisar ficar sedada na UTI (Unidade de Tratamento Intensiva). Além disso, o paciente pode desenvolver insuficiência renal ao ficar muito tempo dependendo do aparelho, como foi o caso de Melissa, que ainda está se tratando. “Não é totalmente fisiológico. Por mais que substitua não é igual e pode afetar outros órgãos”, diz o médico.

Pulmão artificial

O aparelho usado para substituir as funções pulmonares é chamado de oxigenador de membrana, conhecido pela sigla ECMO (sigla em inglês para extracorporeal membrane oxygenation) e é conectado às artérias e veias do coração.

O oxigenador de membrana é um aparelho utilizado em situações excepcionais para substituir a função pulmonar e algumas vezes até a função cardíaca, segundo Pêgo. “No Brasil, já utilizamos para cardiopatias congênitas complexas em crianças, membrana hialina (crianças que nascem com problema de pulmão muito grave) e depois do transplante de pulmão para dar um suporte porque o pulmão sozinho não dá conta”.

A fibrose cística, doença de Melissa, é genética e provoca uma infecção pulmonar permanente. Quando evolui para uma condição grave, é recomendado o transplante de pulmão.

“Mais ou menos 25% dos transplantes de pulmão feitos no Brasil têm como indicação a fibrose cística”, diz o médico brasileiro.