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"Jedi" de 5 anos com leucemia busca medula em ação inspirada em Star Wars

"Ele anima todo mundo no hospital. As enfermeiras o adoram", disse a mãe - Arquivo pessoal
"Ele anima todo mundo no hospital. As enfermeiras o adoram", disse a mãe Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

12/04/2017 04h00

Manchas roxas pelo corpo foram os primeiros indícios de algo estava errado com Mateus Valezin Pedetti, 5. Depois de quase seis meses de alta após se recuperar de uma leucemia, os médicos diagnosticaram a volta da doença, em agosto do ano passado.

Diferentemente da primeira vez, só a quimioterapia não será suficiente e o garoto terá que fazer um transplante de medula, explica Carla Camargo Valezin, 32, mãe do garoto.

As chances de se encontrar um doador compatível que não seja da família são de uma em cada 100 mil pessoas, indicam o Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea). Em caso de familiares, o número sobe para 25%. Hoje, há 850 pacientes em busca de um doador que não seja da própria família, segundo o registro.

Diante desta nova batalha, a família de Mateus tenta enfrentar tudo com otimismo. Foi durante a mudança de pensamento que a mãe do pequeno decidiu usar a criatividade para atrair doadores.

Inspirados no tema da saga Star Wars, a “Liga do Super Mateus” foi criada nas redes sociais logo após o diagnóstico. O objetivo? Encontrar a “princesa medula” para que o garoto possa viver novas aventuras.

“Perguntamos para ele que super-herói ele queria e ser e ele respondeu que seria um Jedi. Toda a família gosta de Star Wars, mas ele gosta demais”, disse Valezin.

Segundo ela, a proposta da Liga é divulgar a importância da doação de medula para aumentar as chances de se encontrar uma compatível com a do filho. Além disso, a família também pede doações de sangue, já que Mateus pode precisar durante o tratamento.

“Na primeira vez que ele ficou doente, usamos nossos perfis para pedir doação de sangue, pois ele precisava. Como agora ele precisa também da medula, vimos que precisávamos chamar muito mais atenção. Por isso criamos a página dele”, explicou Valenzin.

Mateus ficou “famoso” na internet

Liga do super Mateus - Star Wars -  -
Mateus comemorando os 2 mil inscritos em sua página

No perfil criado, a família publica informações sobre o tratamento do Mateus, sua recuperação e campanhas pedindo as doações.

Desde agosto de 2016 no ar, a página da Liga já tem mais de 2.530 seguidores e a mãe contabilizou 1.500 doações de sangue em nome do filho desde o início da campanha. A estratégia de sair compartilhando “tudo” em grupos de amigos parece estar cumprindo o objetivo da família.

“Criamos a campanha e em um mês já tinha mil seguidores. Os outros vieram ao longo do tempo. Somos escoteiros, venho de uma família toda de escoteiro e isso deve ter ajudado. É uma rede bem unida. No ano passado, todo o pessoal da região compartilhou [que Mateus procurava doações]”, contou.

Por causa do sucesso nas redes sociais, Mateus já recebeu vários presentes temáticos do Star Wars. Valenzi conta que por três dias ele ficou “grudado” numa nave de brinquedo que reproduzia a do filme. “A nave era metade da cama dele no hospital”, brincou.

“A gente vai levar mais fantasias para a quimioterapia, ele pode colocar a máscara, sair andando [para se sentir um verdadeiro super-herói]. O legal é que a gente vê a diferença no Mateus. E nos outros pacientes também. Ele brinca com todo mundo, até quando ele está ruim. Acho que ameniza o sofrimento. ”

Mateus vestido de Jedi - campanha de doação de medula Star Wars - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jedi Mateus em mais um dia de luta
Imagem: Arquivo pessoal

A leucemia e o tratamento

Mateus foi diagnosticado com leucemia pela primeira vez em maio de 2015, aos três anos, depois de uma febre intensa que durou um mês. Ele passou por um tratamento quimioterápico por quase nove meses e recebeu alta em fevereiro do ano passado. 

Em agosto de 2016 a doença foi novamente detectada. Segundo Valenzin, a quimioterapia agora é apenas para impedir que a doença avance, mas só o transplante de medula é que pode salvar a vida de Mateus.

“No começo eu chorava muito. Hoje me abalo, mas a gente tenta não passar para ele. Ele não sabe da gravidade dessa doença”, contou. “Mas, mesmo doente, ele é uma criança muito alegre. Ele anima todo mundo no hospital. As enfermeiras o adoram. ”

Dados do Inca (instituto do câncer) mostram que existem hoje mais de 4,25 milhões de doadores cadastrados. De 2006 a fevereiro de 2017, foram 2.390 transplantes com doadores não aparentados cadastrados no Redome.

O desejo da família depois que Mateus conseguir o transplante é fazer da “Liga do Super Mateus” uma ONG (Organização não governamental).

Como doar

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), para se tornar um doador de medula óssea é necessário ter entre 18 e 55 anos de idade e estar em bom estado geral de saúde. O instituto recomenda que o voluntário procure o hemocentro mais próximo para efetuar o cadastro no banco de medulas. Durante o procedimento, uma amostra de sangue será colhida e, após análise, as informações serão cadastradas no Redome.

Quando um paciente compatível com a medula for detectado pelo sistema, o doador será avisado e os procedimentos para a doação serão explicados.

De acordo com o Inca, existem dois tipos de doação de medula. Num deles, a prática é cirúrgica. Nela são feitas de quatro a oito punções com agulhas nos ossos da bacia para a retirada do material (média de 15ml por quilo de peso do doador). Neste caso, o doador recebe alta no dia seguinte à coleta.

A segunda forma é por meio do uso de uma medicação para aumentar o número de células-tronco no sangue. Depois de cinco dias usando a substância, o sangue do doador é colhido. Com esta opção, não é preciso que o doador fique internado.