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Chá verde faz bem para a saúde? Veja o que a ciência sabe sobre os efeitos

Chá verde é feito da planta Camelia sinensis. Bebida feita de outras plantas, como camomila, é classificada como infusão - Reprodução/Nutrition Secrets
Chá verde é feito da planta Camelia sinensis. Bebida feita de outras plantas, como camomila, é classificada como infusão Imagem: Reprodução/Nutrition Secrets

Paula Moura

Do UOL, em São Paulo

05/05/2017 04h00

Muito se fala sobre o chá verde e suas propriedades para uma vida saudável e para emagrecer, mas o que a ciência realmente comprovou sobre o assunto?

Há pesquisas sobre seus efeitos em doenças cardiovasculares, câncer, e até para cognição. No entanto, a maioria dos estudos sobre o chá verde foi feita em laboratório ou com grupos pequenos de pessoas e ainda precisam de confirmação nos testes clínicos com muito mais pessoas. Por isso, é preciso muito cuidado quando se fala em benefícios ou malefícios da bebida.

O chá verde é um alimento com grande quantidade de polifenois, assim como o café e o chocolate amargo. Os polifenois são substâncias naturais antioxidantes que estão presentes em frutas e verduras e são considerados essenciais para a boa saúde. 

Enquanto 100 g de cebola têm cerca de 30 mg do polifenol quercetina, uma xícara de chá verde tem de 300 mg a 400 mg de polifenois totais, sendo 100 mg de catequinas.

No caso do chá verde, o produto tem mais catequinas, mas o café e o chocolate amargo têm mais polifenois totais, pois têm outros tipos da substância.

Matcha, o chá verde moído - Joel Silva/Folhapress - Joel Silva/Folhapress
Matcha, o chá verde moído
Imagem: Joel Silva/Folhapress

Benefício contra risco cardiovascular

O britânico Paul Kroon, do IFR (Instituto de Pesquisa em Alimentos, na sigla em inglês), estuda o impacto da ingestão de alimentos e bebidas ricos em polifenois sobre o risco de doenças cardiovasculares. 

Em estudo de 2015, Kroon e sua equipe pesquisaram o efeito dos polifenois do chá verde e da maçã em células humanas em laboratório. O resultado foi que os polifenois do chá verde, chamados de epigalocatequina galato (EGCD, na sigla em inglês), foram capazes de bloquear a molécula VEGF, com possibilidade de inibir a arteriosclerose.

Além disso, Kroon e sua equipe revisaram a literatura para estudos em humanos sobre os efeitos do chá verde sobre a saúde.

“A redução da pressão arterial é de cerca de 1% a 2%, o que é pouco em termos absolutos. Mas quando se considera a população como um todo, a quantidade de pessoas que evitariam AVC ou ataque cardíaco é considerável”, diz o pesquisador. “Também há evidências consistentes de que o chá verde melhora a flexibilidade dos vasos sanguíneos e o fluxo sanguíneo.”

No entanto, ainda não foi feito um estudo clínico com grande quantidade de pessoas, um tipo de pesquisa de alto custo.

Protege do AVC - Reprodução/bancodasaude - Reprodução/bancodasaude
Polifenois encontrados no chá verde protegem cerca de 1% a 2% de AVC e ataque cardíaco
Imagem: Reprodução/bancodasaude
É um desafio estudar o efeito de alimentos no corpo, pois alguns organismos absorvem rápido e têm um efeito rápido e outros são mais lentos. “Uma coisa é célula absorver, a outra é se o nosso intestino absorve os polifenois ou se as bactérias do intestino quebram em outras substâncias”, diz.

Por isso, preciso diferenciar o que é um teste em laboratório do que é um teste com uma grande quantidade de pessoas. São poucos os estudos com testes clínicos do chá verde.

Um deles foi realizado pela Escola Médica de Tohoku, no Japão. Foram 14 mil adultos observados sobre seus riscos cardiovasculares. Essa pesquisa não apontou mudança significativa do risco com o uso de chá verde.

Segundo Kroon, estudos que veem a ação anticancerígena das catequinas do chá verde trouxeram evidências, mas ainda são problemáticas por não terem sido comprovadas ainda em testes clínicos.

As pesquisas que exploram a ação das substâncias com o emagrecimento são as mais complexas, pois apresentam resultados conflitivos, ora apontando para confirmação e outras não.

Chá verde pode impactar o fígado

chá verde em cápsulas - Thinkstock - Thinkstock
Médica brasileira alerta que concentração nas cápsulas de chá verde são muito maiores e podem causar danos graves ao fígado
Imagem: Thinkstock
A maior preocupação para quem toma chá verde é o fígado, onde as substâncias da bebida são metabolizadas.

Algumas pessoas não têm as enzimas para metabolizar os polifenois e outras substâncias do chá verde, explica Kroon.

A médica brasileira Carolina Pimentel, do Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini, diz que quando usado em grande volume, o chá verde pode levar à hepatite aguda. “É uma inflamação aguda do fígado pela exposição em excesso à Camelia sinensis (planta de que é feito o chá)”, diz.

A maioria dos problemas está relacionada ao uso prolongado de grandes quantidades. “Não existe um volume seguro para o uso terapêutico porque depende muito do indivíduo”, diz. “Não é porque a pessoa tomou um litro que vai ter o problema e não é porque tomou um copo que não pode ter”, diz Carolina.

Uma revisão sobre os impactos do chá verde sobre o fígado feita em 2016 e publicada European Journal of Clinical Nutrition mostrou que existem casos relacionados de lesão do fígado, mas são leves e raros. 

Se a pessoa tiver problemas no fígado, também é necessário cuidado. Ela alerta que o uso de cápsulas aumenta a chance de problemas porque a concentração é maior.

A compra de chás em locais sem controle adequado pode trazer contaminações no produto e também pode ter outras plantas com potencial tóxico misturado. “Pode dar náusea, vômito, desconforto, intolerância alimentar. Pode demorar até 4 meses para normalizar”, alerta Carolina. 

Moderação é a chave

O uso recomendado do chá verde, assim como qualquer outro alimento, deve ser balanceado, dizem os especialistas.

“Não tem comida boa ou comida ruim, não basta olhar para alimentos individualmente, mas no contexto de uma dieta”, diz Kroon. “Se você tem uma alimentação variada e equilibrada, um pedaço pequeno de chocolate por dia não é problema, por exemplo.”