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Por que Marcelo Rezende não deveria abandonar a quimioterapia?

Diagnosticado com câncer, Marcelo Rezende optou por abandonar a quimioterapia para realizar tratamento alternativo - Reprodução/Instagram/marcelorezende.oficial
Diagnosticado com câncer, Marcelo Rezende optou por abandonar a quimioterapia para realizar tratamento alternativo Imagem: Reprodução/Instagram/marcelorezende.oficial

André Carvalho

Do UOL, em São Paulo

14/06/2017 12h29

O jornalista Marcelo Rezende recentemente anunciou que trava uma batalha contra o câncer e, por conta disso se afastou de seu programa na TV Record. Em tratamento contra a doença, diagnosticada no pâncreas e no fígado, o apresentador teria optado por abandonar a quimioterapia e realizar um tratamento alternativo, baseado na alimentação.

O UOL ouviu médicos oncologistas para saber algumas razões pelas quais o apresentador não deveria deixar de lado o tratamento tradicional e usar apenas uma dieta --ou métodos alternativos.

"A procura por alternativas terapêuticas não deve ser condenada. Mesmo esta à base de dietas ou de elementos naturais, na grande maioria das vezes não fazem mal e não alteram o tratamento. O grande problema, de fato, é o abandono da terapia convencional", afirma Jorge Sabbaga, oncologista-clinico do Hospital Sírio-Libanês e do Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo).

Comprovadamente pode curar ou aumentar a expectativa de vida

O tratamento quimioterápico consiste na utilização de substâncias químicas, por meio de injeções ou administradas via oral, com o objetivo de destruir --ou bloquear-- o crescimento de células cancerosas. 

Câncer de pâncreas; câncer pancreático - Getty Image - Getty Image
A localização do pâncreas, na cavidade mais profunda do abdômen, atrás de outros órgãos, dificulta a detecção do tumor
Imagem: Getty Image
 

Em alguns casos, o tratamento, comprovadamente, pode curar totalmente o paciente, eliminando as células cancerosas do corpo. Em casos avançados, ele pode funcionar de forma "paliativa", para aumentar a qualidade e a quantidade de vida do indivíduo.

"Quando a doença é metastática para o fígado, ela é virtualmente incurável", diz Sabbaga, referindo-se ao caso do jornalista. "Mas os remédios dobram a expectativa de vida".

Além disso, a supressão da quimioterapia não é uma boa escolha para pacientes que têm câncer e já iniciaram o tratamento.

Sem quimioterapia, sem combate às células cancerosas

O problema de se abandonar o tratamento convencional é que na grande maioria dos casos, ocorre uma progressão rápida da doença"

Felipe Cruz, coordenador do departamento de Oncologia do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer

"Quando isso acontece, é normal as células voltarem a se replicarem rapidamente, indo para outros órgãos que ainda não estavam acometidos".

Segundo Cruz, a interrupção do tratamento quimioterápico faz com que as células de câncer deixem de ser combatidas, se replicando de forma acelerada, podendo "levar o indivíduo à morte de maneira mais rápida".

O tratamento quimioterápico, para ser bem-sucedido, frisa Sabbaga, deve obedecer um calendário. "Quando não é obedecido, a gente não pode mais ter expectativa daquilo que a gente teria com o que está estabelecido com estudos clínicos", diz ele.

Efeitos colaterais da quimioterapia podem assustar no início

Um dos principais motivos para que uma pessoa abandone o tratamento quimioterápico, diz Felipe Cruz, se dá por conta dos efeitos colaterais da quimioterapia ou mesmo pela apresentação de alguns sintomas no primeiro ciclo do tratamento.

Acontece que o tratamento quimioterápico, como diz o oncologista-clinico do Hospital Sírio-Libanês, "não é água com açúcar" e as medicações podem gerar fortes efeitos colaterais, como náuseas, enjoos e dores. Mas é possível controlar os efeitos ao longo do tratamento.

Foi o caso de Marcelo Rezende, que suspendeu o tratamento após sofrer com os efeitos colaterais dos remédios ministrados no primeiro ciclo do tratamento. "As drogas que me aplicam mais parecem que vão me matar do que me salvar", disse, em um vídeo postado no Instagram.

"Muitas vezes, as pessoas sentem efeitos colaterais após um primeiro ciclo de quimioterapia e querem abandonar o tratamento, quando ainda é muito cedo. É possível ajustar o tratamento para que ele consiga ficar mais tempo recebendo as medicações sem tantos efeitos colaterais. Ajustando as doses ou com medicações de suporte", diz Cruz.

Terapias alternativas complementares podem ser uma boa, mas fale com o médico

Para mitigar os efeitos colaterais, tratamentos alternativos, como a acupuntura, também podem ser usados. Qualquer tipo de terapia complementar, porém --ressaltam os médicos--, deve ser feita em acordo com o médico e sempre junto à tradicional, como no caso a quimioterápica.

"Uma conversa franca para expor qual tipo de medicação alternativa a pessoa deseja utilizar é importante para o médico avaliar se eventualmente há alguma interação medicamentosa do uso de alguma planta medicinal com o quimioterápico", afirma Cruz. "Dietas, também, às vezes podem ocasionar algum tipo de desnutrição que pode comprometer o uso do medicamento quimioterápico".

Sabagga também ressalta a importância de que os efeitos colaterais da quimioterapia não sejam negligenciados nem pelo médico, nem pelo paciente. "Isto deve ser reportado de maneira sistemática do paciente para o médico", afirma.