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Mito ou verdade: viver em cidade poluída aumenta risco de câncer de pulmão?

Camada de poluição sobre o céu de São Paulo em uma tarde de agosto - Dario Oliveira/Código19/Estadão Conteúdo
Camada de poluição sobre o céu de São Paulo em uma tarde de agosto Imagem: Dario Oliveira/Código19/Estadão Conteúdo

André Carvalho

Do UOL, em São Paulo

25/06/2017 04h00

O câncer de pulmão é uma doença diagnosticada, apenas no Brasil, em cerca de 28 mil pessoas por ano, de acordo com informações do Inca (Instituto Nacional do Câncer). 

Mas qual a real ligação entre o consumo de cigarro e a possibilidade de o indivíduo vir a desenvolver a doença? A exposição à poluição também é um fator de risco? Existe uma quantidade “segura" de uso de tabaco? Fumar maconha pode dar câncer de pulmão? A prática de atividades físicas pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da doença?

Confira o que é mito e o que é verdade a respeito deste assunto.

Fumar aumenta o risco de ter câncer de pulmão?

Verdade. Tabagistas apresentam um risco de 20 a 30 vezes maior de desenvolver a doença do que pessoas que não fumam. De acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), em 90% dos casos diagnosticados no Brasil, o câncer de pulmão está associado ao consumo de tabaco e derivados.

Quem convive com fumantes tem mais risco de desenvolver câncer de pulmão?

Verdade. Pessoas que não fumam, mas que convivem com tabagistas em ambientes fechados, chamados de fumantes passivos, têm em até 30% o risco aumentado de desenvolver a doença em relação a não fumantes que não sofrem esta exposição à fumaça do cigarro. Dependendo da exposição que sofre, fumantes passivos podem chegar a consumir o equivalente a 10 cigarros por dia, apontam dados do Inca. 

14.jul.2016 - Pode acreditar, esta é São Paulo: com o tempo seco e temperatura na casa dos 25º C, a cidade enfrenta o aumento da poluição. De acordo com a Cetesb, a qualidade do ar é considerada moderada na maior parte da região metropolitana nesta tarde. Contudo, o ar já é considerado "ruim" em Parelheiros, Osasco e Carapicuíba  - Werther Santana/Estadão Conteúdo - Werther Santana/Estadão Conteúdo
A exposição à poluição também pode ser considerado um fator de risco ao desenvolvimento do câncer de pulmão
Imagem: Werther Santana/Estadão Conteúdo
 

Pessoas que não fumam também podem ter câncer de pulmão?

Verdade. Embora o tabagismo esteja ligado a 90% dos casos de câncer de pulmão diagnosticados no Brasil, existem outros fatores que podem levar à doença, como infecções pulmonares de repetição, doença pulmonar obstrutiva crônica, poluição do ar e alterações genéticas. A exposição a produtos químicos, como arsênico ou amianto, também é um fator de risco para o desenvolvimento de enfermidade.

Quem fuma somente nos fins de semana também tem o risco aumentado de desenvolver câncer de pulmão?

Verdade. Quem é tabagista, mesmo que não faça uso diário, tem o risco aumentado de desenvolver câncer de pulmão. Isto se dá pelo fato de haver uma exposição frequente a substâncias cancerígenas --já foram identificadas mais de 4 mil elementos tóxicos na fumaça do cigarro.

Cigarros light são mais “seguros” que cigarros normais?

Mito. Cigarros light não podem ser considerados mais “seguros” que os normais. Apesar deles possuírem menos substâncias tóxicas, estes elementos cancerígenos ainda existem e continuam sendo inalados pelo fumante. 

Viver em cidade poluída aumenta chance de câncer de pulmão?

Verdade. Apesar de cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão estarem associados ao tabagismo, há outros aspectos relacionados ao surgimento do tumor –entre eles, alterações genéticas e exposição à poluição. Sendo assim, embora esteja claro que a exposição à poluição oferece riscos à saúde (podendo levar o indivíduo ao desenvolvimento do câncer de pulmão), seus efeitos não se comparam aos danos provocados pelo tabagismo.

Quem tem casos de câncer de pulmão na família corre mais risco de desenvolver a doença?

Verdade. Irmãos e filhos de pessoas que tiveram câncer de pulmão têm mais risco de desenvolver a doença do que aqueles que não tiveram casos desta enfermidade na família. Não está claro, porém, se este maior risco é decorrente de fatores hereditários ou se ele se deve à exposição ao tabaco compartilhada no ambiente doméstico.

Parar de fumar reduz o risco de câncer de pulmão?

Verdade. Cada ano que um ex-fumante passa sem fumar, o risco de desenvolver câncer de pulmão diminui. Isso acontece por que as células normais (e saudáveis) tendem a substituir aquelas danificadas no pulmão. Após 15 anos sem fumar, o risco de ter um câncer de pulmão é semelhante ao de quem nunca fumou na vida.

Não existe tratamento para o câncer de pulmão em estágio avançado?

Mito. Existe, atualmente, uma técnica chamada "terapia-alvo", que age diretamente nas células malignas, preservando as saudáveis e mantendo a metástase sob controle. Isso permite que a doença seja tratada mesmo quando ela é diagnosticada em estágio avançado.

O câncer de pulmão raramente se espalha para outras partes do corpo?

Corrida - exercício - atividade física - saúde - Li Zhongfei/GettyImages - Li Zhongfei/GettyImages
Manter o corpo saudável ajuda na prevenção da doença
Imagem: Li Zhongfei/GettyImages
 Mito. No Brasil, a maioria dos pacientes é diagnosticada em uma fase já avançada da doença. Isto dificulta o tratamento e favorece a ampliação da doença para outras partes do corpo. Entre as regiões mais afestadas pela metástase estão os ossos, o cérebro e o fígado.

Fumar maconha pode levar ao desenvolvimento de câncer de pulmão?

Verdade. Ao fumar um cigarro de maconha, o indivíduo inala diversas substâncias químicas que podem provocar alterações celulares e desencadear mecanismos que favorecem o desenvolvimento do câncer de pulmão. A frequência e a maneira como é feito o uso também são fatores relevantes, já que, muitas vezes, o usuário fuma cigarros sem filtros, com papéis inadequados para o consumo. Além disso, ao “prender” a fumaça no pulmão em tragadas mais longas, o indivíduo também tem facilitado o depósito de substâncias cancerígenas nas vias aéreas.

A prática de atividade física pode reduzir o risco de câncer de pulmão?

Verdade. O sobrepeso e a obesidade, que podem estar ligados ao sedentarismo, são apontados como a segunda causa evitável de câncer, considerando todos os tipos de tumores --atrás apenas do do tabagismo. Sendo assim, a prática de atividades físicas, que contribuem para a manutenção do peso corporal saudável e para o bom funcionamento do organismo, pode ser considerada uma medida preventiva importante.

Fonte: Maurício Andrade, médico e consultor da área de câncer e hematologia da Pfizer