Instituto de Câncer é inaugurado em Campinas com deficit de R$ 300 mil
O Instituto de Prevenção de Câncer de Campinas --10ª unidade descentralizada do Hospital de Câncer de Barretos-- inaugurado nesta terça-feira (18), em Campinas, no interior de São Paulo, já nasce com um deficit financeiro estimado em R$ 300 mil por mês, de acordo com órgão administrador.
O valor é resultado da diferença entre o número de mamografias e exames papanicolau que serão feitos na unidade e o montante que será repassado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), de cerca de R$ 100 mil por mês.
De acordo com o presidente do Hospital de Câncer de Barretos, Henrique Prata, o custo mensal da nova unidade será de cerca de R$ 400 mil, referente a 300 atendimentos por dia (consultas, exames de mamografia e papanicolau) que serão feitos inicialmente.
O instituto e mais cinco unidades móveis de atendimento custaram R$ 34 milhões, pagos com recursos do maior acordo trabalhista já registrado no país, o do caso de contaminação das empresas Shell e Basf, em Paulínia, cidade vizinha a Campinas. Durante quase 30 anos, trabalhadores da fábrica de pesticidas de Paulínia foram expostos a metais pesados na empresa.
Além das pacientes de Campinas e região atendidas em Unidades Básicas de Saúde, as mulheres vítimas do caso de contaminação registrado em Paulínia (SP) também poderão ser atendidas na unidade.
"Hoje o custo do Hospital de Câncer de Barretos é de R$ 550 milhões por ano, mas o SUS só paga R$ 200 milhões. Eu não sei que política é essa que deixa de investir na prevenção para custear o tratamento pela metade das pessoas doentes", afirmou o presidente do Hospital de Câncer de Barretos.
O centro de diagnóstico começará a funcionar em agosto para exames de prevenção a cânceres femininos. "Esse é um projeto para salvar. O custo de um tratamento de câncer de mama avançado é de R$ 155 mil. Com o diagnóstico precoce, fica em R$ 10 mil", completou.
Os atendimentos em Campinas devem ser iniciados no final de agosto, após treinamento e capacitação das equipes.
Em nota enviada ao UOL pouco depois das 21h, o Ministério da Saúde afirmou que "reconhece o trabalho desenvolvido pelo Hospital de Câncer de Barretos, especialmente para a saúde pública brasileira".
A pasta, entretanto, esclarece que o instituto ainda não solicitou habilitação para o atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Show para reunir recursos
Assim como nas outras unidades do Hospital de Câncer de Barretos espalhadas pelo país, o Instituto de Prevenção de Câncer de Barretos contará com a ajuda da sociedade para cobrir o deficit das operações.
Um show com as duplas sertanejas Chitãozinho & Xororó e Bruno & Marrone já está agendado para o dia 30 de agosto, em Campinas, com o objetivo de arrecadar recursos para a unidade recém-inaugurada.
Chitãozinho e Xororó, que moram em Campinas, participaram da inauguração e lembraram que há cerca de 30 anos fizeram o primeiro show que deu origem à primeira unidade de tratamento de câncer em Barretos, no interior paulista.
Caso Shell/Basf
O maior acordo trabalhista registrado na história do Brasil foi homologado em 2013 pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho). As empresas foram condenadas a pagar R$ 170 milhões em indenizações a um grupo de ex-trabalhadores e seus familiares, no total de 1.026 pessoas.
Outra parte das indenizações, no valor de R$ 200 milhões, está sendo paga pela Shell e pela Basf em ações relacionadas à saúde dos trabalhadores. O recurso é administrado pelo Ministério Público do Trabalho, que propôs a ação coletiva em 2007.
O Hospital de Câncer de Barretos foi beneficiado em dois projetos, no valor total de R$ 69,9 milhões. Um deles foi um laboratório em Barretos e o outro o instituto em Campinas, com cinco unidades móveis, mais conhecidas como "Carretas do Câncer".
O Centro Infantil Boldrini, referência em câncer infantil, obteve R$ 19,3 milhões. Já a Fiocruz Rio de Janeiro, a Universidade Federal da Bahia, Fiocruz Pernambuco e a USP (Universidade de São Paulo) receberam, juntas, R$ 8,6 milhões. O recurso é destinado a pesquisas contra o câncer e unidades de atendimento.
A fábrica da Shell/Basf em Paulínia operou de 1974 até o início dos anos 2000. Ex-trabalhadores e ex-moradores do bairro Recanto dos Pássaros foram expostos a diversas substâncias contaminantes. Até hoje ações de indenização tramitam na Justiça para reparação de danos.
Em nota, a Shell informou que a Justiça "não reconheceu qualquer negligência" por parte das empresas com relação à saúde dos ex-trabalhadores, que não existem provas de que a contaminação expôs prejuízos à saúde deles e que todos são assistidos por assistência médica integral antes do acordo homologado pelo TST.
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