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Instituto de Câncer é inaugurado em Campinas com deficit de R$ 300 mil

Instituto de prevenção inaugurado em Campinas (SP) começará exames no final de agosto - Divulgação
Instituto de prevenção inaugurado em Campinas (SP) começará exames no final de agosto Imagem: Divulgação

Venceslau Borlina Filho

Do UOL, em Campinas

18/07/2017 19h10Atualizada em 18/07/2017 21h26

O Instituto de Prevenção de Câncer de Campinas --10ª unidade descentralizada do Hospital de Câncer de Barretos-- inaugurado nesta terça-feira (18), em Campinas, no interior de São Paulo, já nasce com um deficit financeiro estimado em R$ 300 mil por mês, de acordo com órgão administrador.

O valor é resultado da diferença entre o número de mamografias e exames papanicolau que serão feitos na unidade e o montante que será repassado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), de cerca de R$ 100 mil por mês.

De acordo com o presidente do Hospital de Câncer de Barretos, Henrique Prata, o custo mensal da nova unidade será de cerca de R$ 400 mil, referente a 300 atendimentos por dia (consultas, exames de mamografia e papanicolau) que serão feitos inicialmente.

O instituto e mais cinco unidades móveis de atendimento custaram R$ 34 milhões, pagos com recursos do maior acordo trabalhista já registrado no país, o do caso de contaminação das empresas Shell e Basf, em Paulínia, cidade vizinha a Campinas. Durante quase 30 anos, trabalhadores da fábrica de pesticidas de Paulínia foram expostos a metais pesados na empresa.

Além das pacientes de Campinas e região atendidas em Unidades Básicas de Saúde, as mulheres vítimas do caso de contaminação registrado em Paulínia (SP) também poderão ser atendidas na unidade. 

"Hoje o custo do Hospital de Câncer de Barretos é de R$ 550 milhões por ano, mas o SUS só paga R$ 200 milhões. Eu não sei que política é essa que deixa de investir na prevenção para custear o tratamento pela metade das pessoas doentes", afirmou o presidente do Hospital de Câncer de Barretos.

O centro de diagnóstico começará a funcionar em agosto para exames de prevenção a cânceres femininos. "Esse é um projeto para salvar. O custo de um tratamento de câncer de mama avançado é de R$ 155 mil. Com o diagnóstico precoce, fica em R$ 10 mil", completou.

Os atendimentos em Campinas devem ser iniciados no final de agosto, após treinamento e capacitação das equipes.

Em nota enviada ao UOL pouco depois das 21h, o Ministério da Saúde afirmou que "reconhece o trabalho desenvolvido pelo Hospital de Câncer de Barretos, especialmente para a saúde pública brasileira".

A pasta, entretanto, esclarece que o instituto ainda não solicitou habilitação para o atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Show para reunir recursos

Assim como nas outras unidades do Hospital de Câncer de Barretos espalhadas pelo país, o Instituto de Prevenção de Câncer de Barretos contará com a ajuda da sociedade para cobrir o deficit das operações.

Um show com as duplas sertanejas Chitãozinho & Xororó e Bruno & Marrone já está agendado para o dia 30 de agosto, em Campinas, com o objetivo de arrecadar recursos para a unidade recém-inaugurada.

Chitãozinho e Xororó, que moram em Campinas, participaram da inauguração e lembraram que há cerca de 30 anos fizeram o primeiro show que deu origem à primeira unidade de tratamento de câncer em Barretos, no interior paulista.

Em 2013, um protesto com 60 cruzes em frente ao TST fez homenagem às vítimas de contaminação por metais pesados - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Em 2013, um protesto com 60 cruzes em frente ao TST fez homenagem às vítimas de contaminação por metais pesados
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Caso Shell/Basf

O maior acordo trabalhista registrado na história do Brasil foi homologado em 2013 pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho). As empresas foram condenadas a pagar R$ 170 milhões em indenizações a um grupo de ex-trabalhadores e seus familiares, no total de 1.026 pessoas.

Outra parte das indenizações, no valor de R$ 200 milhões, está sendo paga pela Shell e pela Basf em ações relacionadas à saúde dos trabalhadores. O recurso é administrado pelo Ministério Público do Trabalho, que propôs a ação coletiva em 2007.

O Hospital de Câncer de Barretos foi beneficiado em dois projetos, no valor total de R$ 69,9 milhões. Um deles foi um laboratório em Barretos e o outro o instituto em Campinas, com cinco unidades móveis, mais conhecidas como "Carretas do Câncer".

O Centro Infantil Boldrini, referência em câncer infantil, obteve R$ 19,3 milhões. Já a Fiocruz Rio de Janeiro, a Universidade Federal da Bahia, Fiocruz Pernambuco e a USP (Universidade de São Paulo) receberam, juntas, R$ 8,6 milhões. O recurso é destinado a pesquisas contra o câncer e unidades de atendimento.

A fábrica da Shell/Basf em Paulínia operou de 1974 até o início dos anos 2000. Ex-trabalhadores e ex-moradores do bairro Recanto dos Pássaros foram expostos a diversas substâncias contaminantes. Até hoje ações de indenização tramitam na Justiça para reparação de danos.

Em nota, a Shell informou que a Justiça "não reconheceu qualquer negligência" por parte das empresas com relação à saúde dos ex-trabalhadores, que não existem provas de que a contaminação expôs prejuízos à saúde deles e que todos são assistidos por assistência médica integral antes do acordo homologado pelo TST.