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Pesquisa usa corrente elétrica para estimular o cérebro contra a obesidade

Science Photo Library
Imagem: Science Photo Library

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

20/07/2017 17h36

Uma pesquisa inédita no Brasil, desenvolvida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), está analisando a efetividade do uso de estimulação cerebral no combate à obesidade.

A primeira fase do trabalho, que começou em junho e está sendo comandado pelas pesquisadoras Priscila Giacomo Fassini e Vivian Marques Miguel Suen, consiste numa emissão de corrente elétrica de baixa intensidade e não invasiva da atividade cerebral das pacientes, na região responsável pelo controle da fome.

Este processo, chamado de técnica de estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS), já está sendo testado em outros países, e os primeiros resultados indicaram a eficácia no controle do desejo de alimentos e do apetite. O diferencial do projeto brasileiro é que ele terá maior duração e número de sessões.

“Essa técnica melhora os processos cognitivos, que são chave para a autorregulação do comportamento alimentar. Estudos preliminares demonstraram o potencial da tDCS de diminuir o desejo de alimentos e a ingestão alimentar, melhorar os processos cognitivos relacionados ao controle inibitório e modular a atividade de redes cerebrais”, explica Priscila Fassini, nutricionista doutora em Ciências e pós-doutoranda da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

“O controle inibitório tem sido inversamente associado com o comer em excesso, a obesidade e o índice de massa corporal (IMC) em estudos transversais, longitudinais e experimentais”, completa.

De acordo com a especialista, participam do estudo 36 mulheres voluntárias de 20 a 40 anos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35kg/m2 (considerado obesidade). Elas encontram nesta técnica uma nova esperança de emagrecer. “As sessões não causam dor ou desconforto e foram muito bem recebidas pelas primeiras voluntárias que já iniciaram a sua participação no estudo”, relata.

Com os estudos em andamento, Priscila Fassini enfatiza que a mudança no estilo de vida ainda é o tratamento mais indicado para quem luta contra a obesidade. “Precisamos realizar estudos maiores para descobrir quem se beneficia mais com o tDCS na obesidade. Esta proposta inovadora de pesquisa clínica exploratória utiliza uma intervenção biomédica que poderia transformar o paradigma para a perda de peso e a manutenção da perda de peso, oferecendo uma nova forma de tratar a obesidade”, afirma. “Os resultados deste estudo levarão a estudos maiores a longo prazo para avaliar essa intervenção de neuromodulação não invasiva”.

A nutricionista explica que a primeira fase da pesquisa consiste em uma sessão inicial de estimulação cerebral não invasiva. Já na segunda fase, as participantes receberão um total de dez sessões de estimulação cerebral durante o período de duas semanas. Na terceira, será iniciada uma dieta hipocalórica individualizada associada a mais duas semanas de estimulação cerebral. Após esta intervenção, as participantes serão seguidas por um período de seis meses de acompanhamento.

A pesquisa também conta com a colaboração do professor Júlio Sérgio Marchini, da FMRP, da pesquisadora Sai Krupa Das, da Tufts University, e dos pesquisadores Miguel Alonso Alonso e Greta Magerowski, da Harvard Medical School, dos Estados Unidos, e está prevista para ser concluída em agosto de 2018.