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Vacina descoberta elimina câncer em animais mas não traz a cura, diz médico

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Imagem: iStock

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL

02/02/2018 19h18

Pesquisadores americanos desenvolveram uma vacina capaz de eliminar alguns tipos de câncer em camundongos. Para especialistas, a boa notícia está na estratégia usada pelo grupo da Universidade de Stanford, na Califórnia, para inibir os tumores nos animais. Pacientes com linfoma já estão sendo recrutados para testes. 

De acordo com a pesquisa, publicada na última quarta-feira (31), a superativação dos linfócitos, responsáveis pela defesa do organismo, nos tumores eliminou até os casos mais graves em metástase nos camundongos.

O coordenador do Centro de Investigação Translacional em Oncologia (CTO) do Instituto do Câncer de São Paulo, Dr. Roger Chammas, no entanto, adverte que é “um erro imenso” considerar a pesquisa como a cura do câncer. “Testes com animais servem para provar conceitos. Temos que lembrar que grande parte desses camundongos criados em laboratório são muito parecidos entre si”, afirma o oncologista. “Os humanos são muito diferentes.”

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No experimento, os pesquisadores injetaram pequenas quantidades de dois agentes imunoestimulantes (um já liberado para o uso em humanos; outro em fase de testes) diretamente no tumor dos animais. Os médicos afirmam que a técnica funciona em diferentes tipos de câncer, inclusive os que cresceram espontaneamente e em estado de metástase.

“Eles usam o anticorpo OX40 que ativa o sistema imune, como se desse um balde de água fria para acordá-lo e fazer com que ele vá acabar com o tumor. É uma superativação”, explica Chammas. “Basicamente, ele ativa a ativação do sistema imune e diminui a reação negativa”, explica o oncologista. “Na prática, a vacina aumenta muito a potência do sistema [para combater o tumor].”

Pesquisadores de Stanford - Divulgação/Stanford University - Divulgação/Stanford University
Pesquisadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, descobriram vacina que elimina câncer em camundongos
Imagem: Divulgação/Stanford University

A abordagem foi bem-sucedida, inclusive, em camundongos que tiveram tumores transplantados em dois locais diferentes do corpo. Ao injetarem os dois agentes em um locais, este não só foi curado como causou a regressão no tumor do outro local. Ou seja, a vacina estimulou a defesa do organismo no local da injeção e desestimulou o crescimento do câncer na outra parte do corpo afetada.

“A estratégia deles muda a resposta do sistema dos animais. Por isso, ele age de forma local e funciona à distância, atingindo, inclusive, em metástase”, explica Chammas.

Dos 90 animais testados, 87 se livraram dos tumores. Três sofreram com a volta do câncer, mas foram mais uma vez removidos depois de um segundo tratamento. Os testes funcionaram com linfoma, câncer de mama, de cólon e melanoma.

A descoberta traz esperanças para médicos e pacientes na luta contra o câncer, mas só após os testes em pacientes com linfoma que “O que temos de celebrar dessa pesquisa é que é uma nova estratégia de combate à doença. O estudo diz que é possível combater dessa forma, mas precisamos mesmo fazer testes com seres humanos. Vamos ter o mesmo número? Provável que não, mas temos de testar, sempre com segurança”, conclui Chammas.