Topo

Planos de saúde devem pagar exame de H1N1, mas não é qualquer um

Getty Images
Imagem: Getty Images

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

29/05/2018 04h00

Preocupada com o cansaço da filha de 4 anos, que já tinha sido diagnosticada com bronquite, a empresária Karina Bonatelli, 37, não pensou duas vezes antes de levar a pequena ao hospital. E, após a avaliação clínica e a suspeita de H1N1, a mãe se viu diante de uma (difícil) decisão: fazer ou não um teste rápido para confirmar a doença, a um custo de R$ 200, já que o exame não era coberto pelo plano de saúde. 

"Não tinha como dizer não. O que eu mais queria naquele momento é ver minha filha bem", diz Karina, que no período em que esteve no hospital viu pelo menos outras quatro mães pagando pelo exame.

O que ela não sabia é que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) obriga os convênios a cobrirem exame de diagnóstico de H1N1. À diferença do teste realizado pela filha de Karina, porém, o exame que os convênios têm de oferecer não dá resultados na hora - e sim, em um período que varia de um a três dias. "Mas essa opção a médica nem sequer cogitou", afirma a mãe.

Segundo a ANS, o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde --que lista tudo que deve ser coberto pelos planos de saúde-- prevê a cultura do vírus influenza tipos A (família da qual faz parte o tipo H1N1) e B, além da pesquisa e dosagem de anticorpos anti-influeza A e B, IgM (Imunoglobulinas M) e IgG (Imunoglobulinas G). Esses exames detectam se o paciente está ou já foi infectado com um dos vírus da gripe.

Leia também: 

Em nota, a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) confirmou os exames previstos no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde são cobertos tanto no atendimento ambulatorial quanto na internação. "No caso de cobrança, recomendamos que o beneficiário entre em contato com a operadora."

Nada impede, no entanto, que as operadoras ofereçam aos seus beneficiários outros procedimentos --incluindo os testes rápidos-- que não estejam previstos na lista obrigatória, como destaca a ANS. Mas, segundo Samantha Pavão, supervisora da área de Saúde do Procon-SP, cabe recurso junto ao plano de saúde.

"Se o teste rápido foi prescrito pelo médico, o usuário tem direito de receber a cobertura", afirma Samantha, que sugere que os pacientes que pagaram pelo exame peçam o reembolso. "Caso ela se negue a fazer o reembolso, o ideal é recorrer a um órgão de defesa do consumir com o comprovante do pagamento e a resposta da operadora."

Vale ou não fazer esses testes?

A gripe é uma infecção viral comum que pode causar forte dor no corpo, fraqueza, febre alta, dor de garganta, espirros, tosse seca e, em alguns casos, falta de ar. Pode ser fatal, especialmente em idosos (acima de 60 anos), gestantes, crianças (até 2 anos), obesos, além de pessoas com problemas de pulmão, coração e doenças crônicas.

O último boletim de influenza do Ministério da Saúde aponta que, até 19 de maio deste ano, foram registrados 1.678 casos em todo o país, com 280 óbitos. Do total, 1.022 casos e 178 óbitos foram por H1N1. Em relação ao vírus H3N2 (também integrante do grupo Influenza A), foram registrados 329 casos e 52 óbitos. Além disso, foram 184 registros de influenza B, com 22 óbitos e os outros 143 de influenza A não especificados, com 28 óbitos.

Iniciar o tratamento o quanto antes, como ressalta Ralcyon Teixeira, diretor da Divisão Médica do Instituto Emílio Ribas, pode fazer bastante diferença. "Isso porque diminui o tempo dos sintomas e as possibilidades de progressão da doença." O profissional explica, porém, que não é necessário o resultado do exame para o início do tratamento, incluindo o uso do antiviral Tamiflu (oseltamivir).

"Os exames devem ser coletados apenas de paciente internados ou com sinais de gravidade", ressalta Teixeira, que vê uma banalização dos testes. "Há uma ansiedade dos pacientes em saberem o que eles têm, mas também uma cultura de que médico bom é aquele que pede exames. O que é um equívoco", acrescenta o especialista.

Segundo ele, a efetividade dos testes rápidos de influenza tipo A e B é de cerca de 70%. Portanto, mesmo com resultado negativo, a infecção pelo vírus não pode ser descartada. "Esses exames não são essenciais. Um bom diagnóstico clínico é mais do que suficiente."

E, se mesmo assim o médico da emergência sugerir o teste rápido, com cobrança de taxa, vale a pena sugerir a substituição por uma das opções previstas no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. 

Outra recomendação importante para as pessoas do chamado grupo de risco é tomar a vacina. A campanha do Ministério da Saúde vai até a próxima sexta-feira (1º). São beneficiados idosos, trabalhadores da saúde, professores, indígenas, gestantes e crianças de seis meses a cinco anos.