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'Seguimos isolados para provar que não temos coronavírus', diz repatriada

Indira Mara dos Santos, 34, está em quarentena em Anápolis - Arquivo pessoal
Indira Mara dos Santos, 34, está em quarentena em Anápolis Imagem: Arquivo pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

20/02/2020 04h01

Resumo da notícia

  • De volta da China, brasileira repatriada diz que o grupo não reclama do confinamento
  • 3 exames já descartaram infecção por coronavírus em todos os trazidos de volta da Ásia pelo governo brasileiro
  • Ainda assim, eles seguem em quarentena por precaução

Há 11 dias, a economista Indira Mara dos Santos, 34, está isolada em Anápolis (GO). Apesar de os exames já terem afirmado que nem ela nem os outros 33 repatriados de Wuhan, na China, se infectaram com coronavírus, eles seguem em quarentena e, segundo Indira, o fazem de bom grado.

"Existe um período de incubação, então seguimos em quarentena mais por precaução. Queremos demonstrar que estamos bem, saudáveis, e que cumprimos todas as etapas, com tudo que foi exigido de nós", afirmou Indira ao UOL, por telefone, da base aérea de Anápolis.

Ela explica que há no grupo um senso de "compromisso" pelo acordo firmado antes do resgate com o governo brasileiro.

"O compromisso era de que cumpriríamos a quarentena até o final, independentemente do resultado dos exames. Por isso ninguém está reclamando", disse.

Os 34 resgatados chegaram ao país no dia 9 e devem permanecer em quarentena, junto dos 24 tripulantes dos voos que os trouxeram, até o dia 25.

Estudante quer voltar à China

Indira fez mestrado em economia com ênfase em comércio exterior e agora faz doutorado em economia na mesma instituição, a Universidade de Huazhong, em Wuhan. Ela conta que vai voltar à cidade para concluir os estudos, mas não sabe quando isso ocorrerá.

"Não podemos voltar de qualquer forma antes do 'ok' da universidade, do governo", afirma. Enquanto aguarda, ela diz que mantém o ritmo de estudos "até para ocupar a cabeça".

"Descansei os primeiros dias e agora estou tentando voltar o ritmo de uma certa rotina, apesar dessa situação do momento", conta.

Sobre os dias na base aérea, ela faz questão de destacar o bom tratamento que recebe.

"A gente está tendo um apoio bem forte da FAB, do Ministério da Saúde, da Anvisa. Eles estão próximos da gente, acompanhando, verificando a nossa saúde todos os dias", afirma.

Ela diz que cada um encontra uma forma de passar o tempo. "Cada um tem suas atividades: eu e mais alguns fizemos um grupo de yoga todo dia de manhã. Além disso, a base tem uma programação para a gente: terapia em grupo, exibição de filmes em telão; e também realizam atividades."

Coronavírus liga alerta pelo mundo

"Terror" antes da volta

Do sertão de Alagoas, o pai de Indira, o administrador de empresas José Rubens dos Santos, se preocupou quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o governo não iria resgatar os brasileiros.

"Só posso caracterizar como dias de terror para nós aqui", afirma. "Não é fácil ter uma filha do outro lado do mundo, com uma língua diferente e no epicentro de uma epidemia. É uma coisa maluca na nossa mente."

Ele relata que só sentiu alívio quando soube que a filha embarcou de volta para o Brasil. "Agora sabemos que ela está aqui muito bem cuidada. Só temos que agradecer a Deus e às autoridades por esse feito", afirma.