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"Tenho mais preocupação que o coronavírus chegue ao Rio", diz Mandetta

Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, em entrevista para a Globo News - Reprodução/Globo News
Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, em entrevista para a Globo News Imagem: Reprodução/Globo News

Do UOL, em São Paulo

27/02/2020 07h19

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em entrevista para a Globo News que o fato de a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil ter sido em São Paulo, cidade com maior população do país, preocupa. Porém, a possibilidade de o vírus se propagar no Rio de Janeiro causa maior apreensão.

De acordo com o ministro, a capital fluminense possui características que podem dificultar o controle. "A grande população é uma preocupação, sim, e será um desafio, mas São Paulo possui um dos sistemas de saúde com mais musculaturas que nós temos. Tenho mais preocupação que o vírus chegue ao Rio de Janeiro", afirmou.

"O Rio é uma cidade mais condensada. Temos problema de distância e os espaços são menores. Além do que, há áreas de exclusão social, favelas, áreas de proximidade muito próximas às pessoas, de baixo saneamento e núcleos familiares extensos que vivem dentro de espaços apertados. Me preocupa bem mais", explicou o ministro.

Outra atenção é com o Rio Grande do Sul. "Quando tivemos a H1N1, lá foi o nosso maior estado com número de mortes, porque tem um inverno mais rigoroso e que começa mais cedo. As casas são mais fechadas e as pessoas ficam dentro delas, então o contato é mais próximo", continuou Mandetta.

"Há também o hábito cultural do chimarrão que passa de boca em boca e deve ser evitado nesse período, pois a transmissão é gotícula. Assim como o tereré usado no Mato Grosso do Sul. Aquela bomba, a cuia, é um metal compartilhado e que em tempos como esse não se deve fazer o uso coletivo de utensílios".

O primeiro caso confirmado no Brasil é o de um homem de 61 anos de idade que esteve na Itália, onde está ocorrendo um surto com 374 casos notificados e 12 mortes confirmadas. Atualmente, o brasileiro se encontra em isolamento domiciliar, na cidade de São Paulo.

"O Brasil é o primeiro país, que está no verão, que tem caso do novo coronavírus identificado. Agora vamos ter que ver o comportamento desse vírus em um país tropical com esse perfil de população que o Brasil tem", disse Mandetta no programa. "Pode ser que comporte mais transmissões [em comparação aos outros países que se encontram no inverno] ou menos".

Outras regiões do Brasil

Outros estados também viraram pauta na conversa. "No Norte temos uma preocupação pelo arco de fronteiras da região. A Venezuela tem um sistema de saúde praticamente desorganizado, e por lá tivemos a entrada de difteria e sarampo em Roraima, que também tem um sistema de saúde frágil e imediatamente se desloca para Manaus. Já a região Nordeste é um ponto turístico. Muitos turistas vêm da Europa por conta do verão e das praias, então é outra preocupação", revelou.

Inimigo comum

Na entrevista, Mandetta disse que, mesmo com recentes atritos entre o Executivo com outros poderes, não há ambiente adverso para combater o novo coronavírus. Segundo ele, o Congresso tem sido extremamente parceiro na causa.

"Ontem [quarta-feira] fizemos uma reunião com o conselho interministerial e estamos muito bem de diálogo em Saúde", afirmou. "O ministro Fernando [Azevedo e Silva], da Defesa, fez um trabalho articulado com a Saúde. O ministro [Sérgio] Moro, da Justiça e Segurança Pública, está preocupado com a população carcerária que não tem como sair; tem uma aglutinação enorme de pessoas e estamos pensando em uma estratégia para elas. A ministra Teresa Cristina, da Agricultura, também está extremamente atenta".

"Temos um inimigo comum que une todos os brasileiros. É uma questão suprapartidária, suprapolítica e supratudo, exaltou o ministro. "Temos uma situação para combater que é igual à do mosquito da dengue, a população não quer saber se o mosquito é municipal, estadual ou federal. É hora de juntarmos todo mundo. Acredito muito na capacidade de entendimento frente a esse problema".

"Lógico que teremos nossas dificuldades para enfrentar essa epidemia. Teremos mais casos e é possível que tenhamos óbitos. Mas estamos fazendo o que podemos no termo de ciência, em termo de preparo para deixarmos isso como um grande aprendizado para os sistemas de Saúde do mundo", finalizou o ministro.

O novo coronavírus apresenta sintomas semelhantes ao de um resfriado, como tosse, febre e falta de ar. Ainda sem um tratamento específico, o vírus já infectou cerca de 80 mil pessoas e deixou pelo menos 2 mil mortos. Até o momento, o Brasil consta 20 casos suspeitos do vírus, sendo que 12 deles são pessoas que vieram da Itália.

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