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País terá atos pró e contra governo: há risco de pegar coronavírus?

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

12/03/2020 11h49

Resumo da notícia

  • Apoiadores de Bolsonaro acusam imprensa de tentar esvaziar protestos
  • Ministro Mandetta orienta que pessoas com sintomas não saiam de casa
  • Na Espanha, deputado testou positivo após participar de evento com 9 mil pessoas
  • Infectologista informa que risco em locais abertos 'não é zero'

Entre o próximo sábado e quarta-feira, o Brasil terá uma série de manifestações contra e a favor do governo em estados com ou sem transmissão local do coronavírus, como São Paulo. Para além da agenda política, o debate sobre esses eventos é sobre os riscos de contágio em manifestações ao ar livre.

Para o infectologista Evaldo Stanislau, médico do Hospital das Clínicas e professor de medicina, o risco é maior em grandes aglomerações em locais fechados, mas "o risco [em locais abertos] não é zero", alerta.

Ontem, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que não é ainda o caso de falar para as pessoas não saírem, "mas que valem as regras da boa educação, lavar as mãos, quem estiver gripado e com sinal de febre, não sair de casa, não só pra manifestação, mas inclusive pro trabalho".

"Não vai ser o fato de a pessoa sair de casa, inclusive para um local aberto, que vai ser o responsável pelo destino dela", completou.

Já o CDC (sigla em inglês para Centro de Controle de Doenças, órgão do Ministério da Saúde americano), recomenda que organizadores de eventos (abertos ou fechados) procurem os serviços de saúde da cidade onde vai acontecer o evento, para saber como está a epidemia na região do evento, tenham lenços e produtos de higiene para distribuir ou de fácil acesso, forneçam máscaras caso alguém comece a tossir e espirrar e recomenda que pessoas doentes não participem da aglomeração.

Assunto entra no radar dos organizadores dos atos

Em São Paulo, o evento "em defesa do governo Bolsonaro e contra a chantagem do Congresso", está anunciado para a avenida Paulista, às 13h.

Nas redes sociais, os principais grupos que estão organizando o ato pró-governo, como República de Curitiba, Nas Ruas e Movimento Brasil Conservador, ampliaram os temas em debate na manifestação.

O Pacote Anticrime e novos ataques à Rede Globo, por conta do "abraço do Drauzio", entraram na pauta do evento, no Twitter e no Facebook.

Apesar disso, apenas no Facebook do Movimento Brasil Conservador o tema coronavírus era discutido. Segundo postagens publicadas na página, "a imprensa já usa o coronavírus para esvaziar protestos do dia 15".

A postagem cita reportagem do Estadão, de ontem, que aponta que setores do governo tentam demover o presidente Bolsonaro de apoiar a manifestação de 15 de março e fazer um pronunciamento à nação para que as pessoas fiquem em casa em virtude do coronavírus.

Fundadora do Nas Ruas e aliada de Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) buscou orientações junto ao Ministério da Saúde sobre o risco de transmissão do coronavírus nos atos de domingo.

Em seu site, a parlamentar publicou as informações que obteve e orientou que quem tiver sintomas de gripe não compareça ao protestos e que as pessoas não se "cumprimentem de forma efusiva" durante as manifestações.

A UNE (União Nacional dos Estudantes debateu o assunto nas assembleias que estão sendo realizadas em universidades em preparação para os atos de 18 de março, que ocorrerão em todas as capitais do país, e outras cidades. Em São Paulo, a concentração está agendada para as 16h no Masp.

Ao ato da UNE, organizado em parceria com professores que participarão da greve nacional pela educação, com o tema "Fora Weintraub", estão se juntando militantes de outras organizações, como a Frente Povo Sem Medo, sob o slogan "Ditadura Nunca Mais".

Segundo a assessoria de comunicação da UNE, os participantes do ato de 18 de março serão alertados sobre as principais medidas de prevenção à doença, que inclui lavar constantemente as mãos e evitar grandes aglomerações em caso de algum sintoma de gripe.

De acordo com organizadores do ato "Quem Mandou Matar Marielle?", que será realizado dia 14 de março, quando os assassinatos da vereadora e do motorista Anderson Gomes completam dois anos, o tema ainda não surgiu nas discussões da preparação da manifestação.

A ampliação do ato dos estudantes e professores é uma resposta aos bolsonaristas mais radicais que defendem pautas como a intervenção militar e o fechamento do Congresso Nacional e do STF em manifestação pró-governo, marcada para domingo, 15 de março.

O Ministério da Saúde no Protocolo de Tratamento do Novo Coronavírus não tem uma sessão específica sobre grandes eventos, mas recomenda seis medidas de prevenção:

  • Higiene frequente das mãos;
  • Evitar tocar olhos, nariz e boca sem limpar as mãos;
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes;
  • Cobrir a boca e nariz ao tossir e espirrar com o braço ou com um lenço descartável;
  • Ficar em casa e evitar contato com pessoas quando estiver doente;
  • Limpar e desinfetar objetos tocados com frequência.

Deputado espanhol testou positivo após ato com 9 mil pessoas

Javier Ortega Smith, deputado do Vox, abraça manifestante durante protesto em Madri - Oscar del Pozo/AFP - Oscar del Pozo/AFP
Javier Ortega Smith, deputado do Vox, abraça manifestante durante protesto em Madri
Imagem: Oscar del Pozo/AFP

O deputado espanhol Javier Ortega Smith recebeu na terça o diagnóstico positivo para o novo coronavírus, dois dias depois de participar de um evento com 9 mil pessoas em Madri. Há risco de que milhares de apoiadores do parlamentar possam ter sido contaminados.

O encontro foi organizado pelo partido Vox, que desculpou-se por ter organizado o ato e culpou o governo federal espanhol por não ter proibido o evento. "Tivemos a inocência de crer que este governo iria colocar a saúde dos espanhóis à frente de sua agenda de propaganda. E foi um erro", disse em nota.

O partido ainda acusa o governo de ter divulgado medidas de restrição a reuniões públicas apenas horas depois do evento do Vox.

Com mais de 2 mil infectados, a Espanha já é o segundo país da Europa em número de casos confirmados e registrou 49 mortes.