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Procura por teste de coronavírus zera estoques de laboratórios no Rio

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

16/03/2020 12h39Atualizada em 17/03/2020 09h36

O kit para diagnóstico de coronavírus está em falta nos principais laboratórios da rede particular do Rio de Janeiro. Em contato com os laboratórios Sérgio Franco, Bronstein, Lâmina e Alta, a reportagem foi informada que não há materiais disponíveis para realização dos testes devido principalmente ao aumento da procura. Em nenhum deles há previsão para restabelecer os estoques.

Outro laboratório —Labi Exames, com unidade no Rio e em São Paulo— informou apenas que os laboratórios na capital fluminense não estão mais realizando o exame, sem explicar os motivos. No final da tarde, o laboratório Richet informou que, em razão da crescente procura, está priorizando os pacientes mais graves hospitalizados e que limitou as coletas domiciliares.

O teste para coronavírus se dá com a coleta de materiais respiratórios —aspiração de vias aéreas ou coleta de secreções da boca e do nariz. O exame custa R$ 280 e a coleta é feita em casa para evitar a circulação de possíveis infectados nas ruas e unidades. Só é possível a realização do exame com pedido médico assinado e carimbado pelo especialista.

Apesar de a ANS (Agência Nacional de Saúde) aprovar a inclusão dos testes de coronavírus na cobertura dos planos de saúde, alguns laboratórios só realizam o atendimento com realização de pagamento na hora. Questionados, os atendentes das unidades explicaram que o sistema ainda não foi atualizado para autorizar a cobertura do exame.

O que dizem os laboratórios

"O Laboratório Richet possui o teste para covid-19. Mas, devido a crescente demanda, o Richet está priorizando os pacientes mais graves, que estão hospitalizados, e está limitando as coletas domiciliares".

Os laboratórios Sérgio Franco e Bronstein não explicaram o motivo de os atendentes informarem que não há kits disponíveis para realização do exame e disseram que também há priorização dos casos de pessoas que apresentam sintomas gripais, tiveram contato com indivíduos com quadro positivo confirmado ou retornaram da Europa, Ásia e EUA e possuem indicação e pedido médico para o exame.

"Desde o início mais do que triplicamos nossa capacidade de produção e estamos expandindo nas próximas semanas", informou os laboratórios através de nota.

Testes na rede pública do Rio

Na rede pública, os testes não são feitos em pacientes com sintomas brandos. São testados apenas casos mais graves com necessidade de internação. A justificativa é o alto custo do procedimento aos cofres públicos.

De acordo com especialistas, só deve fazer o teste o paciente com quadro sintomático ou alterações pulmonares significativas. A ideia é preservar as unidades e não sobrecarregar a rede de saúde em casos de menor necessidade.

Procurada, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) informou que recebeu da Fiocruz 300 kits para realização de teste de coronavírus na última semana e que outros 360 estão previstos para serem entregues nos próximos dias. Cada kit é utilizado para apenas um paciente.

"A SES reforça que, após situação de transmissão comunitária na cidade do Rio de Janeiro, os testes devem ser realizados apenas para pacientes graves suspeitos de coronavírus. A SES recomenda que, com sinais leves, o tratamento deve ser feito em casa, sem a necessidade de identificação sobre o Covid 19", informou a pasta através de nota.

Quando fazer o teste?

De acordo com médica presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do estado do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, só devem ser testados pacientes que possuem sintomas mais graves da doença: como febre alta ininterrupta, problemas respiratórios como tosse, coriza e falta de ar —quadro que se estende durante os dias.

"Não é possível ter testes para todo mundo. Então, o melhor é concentrar os testes em manifestações mais graves que afetam o sistema respiratório. O isolamento evita a circulação de pessoas. É o que temos de mais fácil a fazer. É o recomendado. Quanto menos contato com outras pessoas, menor é exposição, menor é a chance de contaminação."

A médica diz também que as máscaras só devem ser usadas por pacientes que apresentem sintomas respiratórios e por profissionais da saúde.

Em caso de dúvida sobre o estado de saúde, a pessoa pode ligar para o telefone 136 do SUS (Sistema Único de Saúde) que esclarece dúvidas. O serviço funciona com atendimento telefônico de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 20h, e aos sábados, das 8h às 18h. É possível falar diretamente com o atendente.

Paciente em estado grave no Rio

O estado do Rio registrou o primeiro caso de um infectado que apresenta estado de saúde muito grave devido à contaminação por coronavírus.

Segundo a SES, o homem é um médico de 65 anos que está internado em estado gravíssimo num hospital da rede privada da capital fluminense. Não há informações de como ele contraiu o vírus.

Até agora, foram confirmados oficialmente 24 casos da doença no estado. Mais 95 casos suspeitos estão sendo investigados pelas autoridades sanitárias estaduais. Já no Brasil, foram confirmados oficialmente 200 casos até ontem à noite, segundo o Ministério da Saúde.