Covid-19: cidade da Grande SP tem 2 casos, mas governo conta só 1
Resumo da notícia
- Caso é de homem de 37 anos casado com a primeira paciente confirmada no município semana passada.
- Confirmação foi feita há três dias, mas ainda não consta do balanço oficial do Estado
- Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos confirmou a falta da notificação do segundo caso
A prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, constatou no último sábado (14) o segundo caso de uma pessoa com coronavírus na cidade. O homem, de 37 anos, é casado com a mulher que foi confirmada como o primeiro caso de covid-19 no município, semana passada.
Apesar de o caso ter sido confirmado há três dias, o balanço oficial da Secretaria de Saúde de São Paulo, atualizado às 16h desta terça (17), ainda aponta apenas um caso em Ferraz de Vasconcelos entre os 164 contabilizados em todo o estado — que também lista 5.047 casos suspeitos e outros 709 descartados, além de ter registrado a primeira morte decorrente da covid-19, nesta terça.
Os números estaduais se baseiam no compilado feito pelo Ministério da Saúde, do governo federal — são 291 casos oficiais em todo o país, além de 8.819 suspeitos e 1.890 descartados.
A prefeitura de Ferraz de Vasconcelos confirmou a falta da notificação do segundo caso, mas não soube informar o motivo.
"De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Ferraz de Vasconcelos, na plataforma realmente aparece apenas um caso confirmado na cidade, sendo que são dois, na realidade. Em consulta a esta plataforma ontem, o órgão constatou a data de dois dias de atraso. A Secretaria Municipal de Saúde acompanha os números de qualquer forma", diz a nota enviada ao UOL.
A discrepância na cidade da Grande São Paulo ilustra uma dúvida constante sobre os números oficiais — nas esferas municipal, estadual e federal — sobre a propagação do coronavírus no país.
Na quinta passada, o hospital Albert Einstein, em São Paulo, contabilizou 98 pacientes com o vírus. No dia seguinte, o Ministério da Saúde divulgou um total de 98 pessoas com a covid-19 em todo o território brasileiro, sendo que já havia casos confirmados fora do estado de São Paulo.
Após essa divulgação de 98 casos, o Albert Einstein e outros hospitais particulares pararam de anunciar números relacionados a pessoas infectadas com o coronavírus, pedindo que os jornalistas solicitassem a informação diretamente ao Ministério da Saúde. A recomendação foi feita aos hospitais pelo próprio órgão federal.
Notificação ao ministério tem que ser imediata
As unidades de atendimento de saúde de todo o Brasil estão sendo solicitadas a informar imediatamente todos os casos de covid-19, suspeitos e confirmados, ao Ministério da Saúde.
Essa notificação é feita através de um formulário online disponibilizado pelo ministério — que, no entanto, apresentou instabilidade por pelo menos três horas entre o fim da tarde e o início da noite desta terça, conforme constatou a reportagem do UOL.
A notificação imediata — destacada como mandatória pelo ministério na comunicação feita às unidades de saúde — é preenchida por médicos e enfermeiros, que detalham no formulário as informações do paciente que tem suspeita ou confirmação de caso de coronavírus.
Apesar das medidas do ministério, ainda há possibilidade de alguns casos positivos e confirmados por instituições municipais continuarem fora do radar federal, como aconteceu em Ferraz de Vasconcelos.
Segundo um médico ouvido pelo UOL, familiarizado com o formulário online estabelecido pelo Ministério da Saúde, essa discrepância entre os números pode estar relacionada, entre outros motivos, a profissionais que ainda não se adaptaram a esse sistema de notificação.
Falta de notificação pode gerar sanção, diz ministério
Em entrevista coletiva nesta terça, integrantes do Ministério da Saúde falaram sobre a possibilidade de os números divulgados estarem muito abaixo da incidência real da covid-19 no Brasil.
"O nosso consolidado é às 16h. Recebemos os casos até 14h, fazemos um checklist e, às 16h, a gente tem um painel nacional", disse Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde. "O nosso comitê trabalha com uma série de mecanismos de notificação. Somos informados, passo a passo, e consolidamos a cada 24 horas."
Já sem a presença do ministro, a entrevista coletiva teve novas perguntas em relação a uma possível subnotificação dos casos.
Júlio Henrique Rosa Croda, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, ressaltou a necessidade de todos os órgãos de saúde notificarem adequadamente o ministério em até 24 horas, conforme publicado na lei que regula as medidas de combate ao coronavírus.
"Qualquer serviço público ou privado tem que notificar esse paciente na suspeição, e não depois da realização do teste, em 24 horas. Se qualquer serviço privado estiver coletando exames, atendendo pacientes, e não estiver notificando os órgãos responsáveis no período determinado, isso pode ocorrer em sanções. É importante que as Vigilâncias estaduais estejam atentas", alertou Credo.
Apesar disso, os integrantes do ministério ressaltaram que a maior parte dos casos de coronavírus — a estimativa é de 84% — escapam do registros, já que o paciente não apresenta sintomas da doença.
"Só existe uma maneira de registrar todos os casos, mesmo os assintomáticos: se tivéssemos condições, e nenhum país tem, de fazer testes em toda a população", afirmou Wanderson Kleber de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde.
"Na medida em que vamos priorizar a busca ativa dos casos graves, vamos ter rigorosamente a investigação para saber se ele ocorreu pela presença do coronavírus ou não. Mas é impossível que a gente tenha, quantitativamente, esse registro da nossa população."
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