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Dentista não se isola ao voltar dos EUA, atende 11 pacientes e é denunciado

Bruna Barbosa

Colaboração para o UOL, em Cuiabá

20/03/2020 21h48

O dentista Agnaldo Roberto, 43, foi notificado pela Polícia Militar, em Jaciara (MT) ontem, por não seguir uma recomendação de quarentena do órgão após retornar de uma viagem aos Estados Unidos na quarta-feira (18), onde estava com mulher e filhos. De acordo com a Defensoria Pública, uma denúncia de que Agnaldo estava atendendo pacientes um dia depois de chegar ao Brasil, foi feita na Secretaria de Saúde do município.

Ao UOL, o dentista afirmou que não descumpriu nenhuma notificação da Vigilância Sanitária, já que o aviso que recebeu do órgão se tratava de uma orientação. Ele contou que chegou a pedir para que fosse notificado oficialmente pela secretaria.

"Cheguei na clínica e tive o conhecimento de uma carta da Vigilância Sanitária, não houve notificação, houve uma carta de recomendação, orientando a ficar de quarentena com minha família. Pedi para mandarem uma carta de notificação para me respaldar legalmente, no sentido de que, se um paciente tivesse problemas, porque eu não atendi, seria porque fui impedido", afirmou.

A secretaria de Saúde de Jaciara, Suely Castro, informou que a Pasta emitiu a recomendação após receberem denúncias na quarta (18). No entanto, o órgão recebeu denúncias de que Agnaldo não teria acatado a orientação e estava atendendo.

Uma equipe da Vigilância Sanitária e Defensoria Pública foi até a clínica para averiguar a situação. Um boletim de ocorrência foi registrado por ele não seguir a orientação de ficar em casa durante sete dias, e o órgão determinou o isolamento compulsório do dentista.

Agnaldo explicou que atendeu 11 pacientes, sendo cinco pela manhã e seis durante a tarde. No entanto, ele disse que informou aos clientes que tinha chegado dos Estados Unidos e que ofereceu a opção de reagendamento ou atendimento por outro profissional da clínica.

Segundo a Defensoria Pública, todas as pessoas atendidas pelo dentista foram notificadas a ficar em casa durante sete dias, que podem ser prorrogados por mais sete caso apresentem sintomas do novo coronavírus.

Conexão em três aeroportos

Agnaldo afirmou que entende o risco de ter passado por três aeroportos junto com a família em meio à pandemia de covid-19. Contudo, ele ressaltou que todos tomaram as medidas preventivas necessárias durante a viagem.

"Sou profissional de saúde, treinado para proteção de infecção cruzada. Passamos por três aeroportos, sabemos dos riscos, por isso usamos máscaras, higienizamos as mãos constantemente e evitamos tocar nas superfícies. São cuidados que já estamos acostumados a ter no dia-a-dia da clínica", disse.

O dentista também contou que tinha conhecimento que estava enquadrado em grupo de risco por ter passado por aeroporto. Assim que chegou a Jaciara, ele pediu para que as recepcionistas avisassem os pacientes da condição e que se prevenissem. De acordo com ele, todas as funcionárias usavam máscaras e luvas. O expediente da clínica foi suspenso hoje (20).

"Saí de casa com máscara para ir à clínica, antes de tocar na maçaneta, desinfetei as mãos e orientei toda a equipe para redobrar os cuidados", contou.

Agnaldo explicou que os pacientes que estavam agendados para aquele dia eram casos de urgência. "Sou ortodontista, tinham aparelhos machucando clientes, peças soltas, problemas dos quais sou responsável legalmente por possíveis consequências, respondo judicialmente".

Ele ainda afirmou que a mulher, que também trabalha como dentistas, e os filhos permaneceram isolados desde que retornaram dos Estados Unidos. Nenhuma das pessoas que participaram da viagem estariam apresentando sintomas do coronavírus.

Em desabafo, Agnaldo disse que a denúncia feita na secretaria de Saúde e as notícias divulgadas pela mídia sobre o descumprimento da orientação causaram "alarde" entre os moradores da cidade.

"Disseram que fui preso, que a PM me acompanhou até em casa, isso não aconteceu. Estou com medo de sair de casa por conta do alarde. Já tive o cuidado de ligar para cada um dos pacientes, fiquei chateado por dizerem que 'descumpri' a quarentena. Essa palavra tem prejudicado minha empresa, estou sendo visto como irresponsável", alertou.

O dentista disse que pediu para que fosse submetido ao teste de covid-19, no entanto, requisitou acompanhamento da secretária de saúde do município para fazer o exame, já que teme pela própria segurança saindo de casa.

"Houve muita comoção social nisso, não quero sair de casa. Acho interessante fazer o exame para acalmar a sociedade, sei que posso estar assintomático e, mesmo assim, ser portador. Estou aguardando, posso ir a um laboratório particular, não me importo de pagar pelo teste, mas não vou sozinho", considerou.