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Cientistas dizem que covid-19 avança mais rápido que o previsto em capitais

Pedro Vilela/Getty Images
Imagem: Pedro Vilela/Getty Images

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

26/03/2020 10h28

Resumo da notícia

  • Cientistas da UnB, UFRJ e USP apontam que transmissão da Covid-19 nas capitais pode ser mais rápida que o previsto
  • Um dos motivos é o fato de São Paulo e Rio de Janeiro serem grandes centros de conectividade aérea do país
  • Como os aeroportos seguem funcionando normalmente, isso ajuda a disseminar a doença para outros centros do país
  • Autores do estudo fazem um apelo: "Acreditem na ciência!"

Um grupo de cientistas formado por pesquisadores de três das principais universidades brasileiras veio a público para demonstrar sua preocupação com a velocidade de propagação do novo coronavírus no país, principalmente em algumas capitais. Segundo eles, a epidemia avança "muito mais rápido" do que previsto em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

"Essas três cidades atuariam como eixos de disseminação da infecção para outras partes do país", diz a nota técnica divulgada ontem e assinada por sete cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio Janeiro), USP (Universidade de São Paulo) e Universidade de Brasília (UnB).

Os dados de infectados e mortes vêm superando as previsões que os cientistas fizeram há cerca de 20 dias, segundo o documento. O texto, porém, não diz qual era a estimativa feita anteriormente.

Segundo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira, o número de casos confirmados da covid-19 já chega a 2.433, enquanto o país contabiliza 57 mortes causadas pelo coronavírus. A maioria dos casos segue sendo no estado de São Paulo, que registrou 48 dos 57 mortos.

Brasília e a ponta do iceberg

No entanto, de acordo com os pesquisadores, Brasília tem expectativa de ultrapassar a capital paulista em número de casos já nas próximas semanas. Isso se deve ao fato de a cidade apresentar um risco de infecção maior, levando em consideração o tamanho da população que pode ser infectada.

Os cientistas também citam o estudo apresentado recentemente pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra, que estima a subnotificação da covid-19 no mundo e que estima que os casos notificados no Brasil representam aproximadamente apenas 11% do total. "Assim, estamos vendo apenas a ponta de um grande iceberg", afirmam.

Conexão aérea

Um dos principais motivos dessa disseminação, alerta o grupo de cientistas, se deve ao fato de São Paulo e Rio de Janeiro serem grandes centros de conectividade aérea do país, ampliando seu papel como foco de disseminação da doença para outros centros. Os aeroportos continuam abertos para transporte de passageiros.

Além disso, os aeroportos não estão fazendo nenhum tipo de controle sobre passageiros de outros países na chegada dos viajantes, como ocorre em vários outros países.

Para os autores do artigo, são necessárias ações imediatas de restrição de mobilidade nessas metrópoles para ter impacto na difusão da epidemia para outras partes do país.

Na Bahia, por exemplo, o governo do Estado teve que entrar com uma ação contra a União para poder fazer uma barreira sanitária no aeroporto de Salvador.

Isolamento deve continuar

Os cientistas defendem que o país siga adotando medidas de supressão da transmissão, baseadas no isolamento social. Segundo o grupo, apenas a mitigação, que tenta isolar casos suspeitos, não será suficiente para evitar o aumento exponencial da epidemia nas próximas semanas.

"A efetividade dessas medidas é maior quando iniciadas precocemente, quando o número de casos suspeitos e confirmados está baixo", dizem os autores do estudo, em nota.

"Qualquer atraso na implementação das ações pode implicar repercussões muito graves, com número crescente de óbitos e aumento substancial da dificuldade para controle da transmissão, em médio e longo prazos. Por isso, é fundamental que todos fiquem em casa. Reiteramos a importância da ciência para a manutenção da vida humana", concluem os cientistas.

Apelo

Na nota, os cientistas afirmam que as medidas restritivas adotadas em diversos países e baseadas em estudos científicos têm dado certo e reduzido a transmissão. Eles apelam para que a população acredite em evidências científicas.

"Acreditem na ciência! Ela pode nos ajudar a reduzir o sofrimento e salvar vidas. Permaneçam em casa", pedem os autores da nota técnica, que afirmam que a pandemia é algo "sem precedentes na saúde pública mundial".

O estudo é assinado pelos cientistas Mauro Sanchez e Ivan Zimmermann (da UnB), Afrânio Kritski, Guilherme Werneck, Rafael Galliez e Roberto Medronho (da UFRJ) e Domingos Alves (USP).

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