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Médico com corona relata medo e alívio com cloroquina: 'Medicação certa'

O cardiologista Felipe Santos, 31, pediu para usar cloroquina durante tratamento contra coronavírus - Arquivo Pessoal
O cardiologista Felipe Santos, 31, pediu para usar cloroquina durante tratamento contra coronavírus Imagem: Arquivo Pessoal

Maria Luisa de Melo

Colaboração para o UOL, no Rio

26/03/2020 16h28Atualizada em 26/03/2020 19h39

Um dos casos confirmados de coronavírus na capital paulista, o cardiologista Felipe Santos, 31, está em casa há uma semana, mas passou seis dias internado —dois deles na UTI— com quadro grave de falta de ar, tosse, dor no corpo e febre. Ele relatou ao UOL melhoria nos sintomas após os médicos, atendendo a um pedido seu, começarem a ministrar cloroquina combinada com azitromicina (antibiótico).

O uso da cloroquina —empregado no combate ao lúpus e artrite reumatoide— no tratamento contra o coronavírus vem sendo amplamente discutido em todo o mundo. Ministério da Saúde anunciou que vai liberar a partir de amanhã 3,4 milhões de unidades do medicamento para serem usados em pacientes graves do novo coronavírus. Testes clínicos serão feitos no Brasil com cerca de mil pacientes.

O médico, que atua na Prevent Senior e ficou internado na unidade Paraíso do Hospital Santa Maggiore, criticou declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que chamou a covid-19 de uma "gripezinha": "Visão muito limitada".

Leia a seguir o relato do médico infectado:

"Desde o dia 10 me sentia como se tivesse um resfriado. No dia 13, comecei a ficar mais cansado. Achei que fosse só o reflexo de uma semana pesada de trabalho —sou cardiologista e trabalho muito. Mas foi aparecendo uma dor forte no corpo, na lombar, e um pouco de tosse.

No dia 15, foi bem difícil, porque pioraram os sintomas. Comecei a ter muita falta de ar. Era um dia de plantão e, antes de os colaboradores entrarem no trabalho, são obrigados a fazer uma triagem por conta dessa pandemia. Detectaram baixa saturação [células com quantidade de oxigênio abaixo do normal, característica de doença pulmonar] e febre em mim.

Fui logo fazer o teste contra a covid, com o suabe [espécie de cotonete para colher material da mucosa do nariz e garganta], que só ficaria pronto em 48 horas, e uma tomografia de tórax. Esse exame indicou uma pneumonia viral. Fui internado na UTI, onde fiquei por dois dias. Depois, mais quatro dias na enfermaria.

Durante a internação, fui procurar informações sobre a covid e os estudos que saíram da França, da Itália. Já estavam falando sobre a hidroxicloroquina.

Conversei com um colega sobre a possibilidade de começar esse tratamento, que é novo, e pedi para fazer o teste. Comecei a fazer a hidroxicloroquina com a azitromicina como tratamento. Em dois dias, meu quadro clínico já era bem melhor. Ainda tenho sintomas, mas são leves. Acredito que foi a medicação certa, por isso eu melhorei dos sintomas.

Para que meu tratamento fosse feito com essa medicação específica, tive que assinar um termo de consentimento, porque é algo experimental ainda. Eu sabia que poderia não funcionar, essa doença é muito nova. Então, bateu um pouco de medo. Mas os estudos mostravam que funcionava. Não era medo de ter um dano provocado pelo remédio, era medo de não funcionar mesmo. E não me arrependo.

O tratamento ainda não acabou, estou tomando a hidroxicloroquina por dez dias. A azitromicina tomei por cinco dias. Estudos já comprovaram que diminui a replicação viral, a atividade inflamatória secundária à doença e os pacientes têm evoluído muito melhor e mais rápido.

É importante destacar que não dá para chamar de gripezinha. Qualquer um que estude a história clínica da doença sabe que não é uma gripezinha. Há muitos pacientes jovens sofrendo por isso —eu fui um deles— e muitos idosos também.

É uma visão muito limitada chamar uma pandemia de gripezinha. Essa declaração do presidente não foi boa. Uma gripezinha não dá falta de ar, não entuba paciente, não mata assim. Se fosse uma gripezinha, não estaríamos numa pandemia.

Eu sentia falta de ar ao mencionar duas palavras. Nesse momento eu fiquei bastante preocupado sobre como eu evoluiria —se poderia ser para uma entubação traqueal, assistida ou mecânica. Eu estava evoluindo para isso. Mas não precisei.

Saí da internação na semana passada e agora estou de quarentena. Não sei onde eu possa ter contraído. Aliás, isso é uma coisa importante: quem está com o vírus transmite a doença mesmo assintomático.

Ainda não sou considerado curado, porque preciso cumprir a quarentena até o fim. Mas vou fazer um novo suabe esta semana, para saber se o vírus ainda está no meu organismo."