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Professora perdeu o pai e o tio em dois dias por coronavírus: 'Sem chão'

Luciana Villela e o pai Luiz - Reprodução/Facebook
Luciana Villela e o pai Luiz Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

27/03/2020 09h44

A professora carioca Luciana Villela, de 35 anos, que mora em Portugal, perdeu o pai e o tio em apenas dois dias por causa do novo coronavírus. A mãe dela também está com covid-19 e segue internada no Rio de Janeiro.

"Sigo daqui devastada, presa em Portugal, sem chão e ainda sem acreditar em tudo que nos aconteceu", relatou ela em depoimento à Marie Claire.

Os pais de Luciana, Jaqueline e Luiz, de 67 e 65 anos, viajaram para o Cairo no início de fevereiro. Fizeram uma escala nos Estados Unidos, onde passaram alguns dias na casa do tio dela, Sergio Trindade, de 79 anos.

Em março, quando chegaram ao Brasil, apresentaram tosse e fadiga e decidiram que ficariam em quarentena. Quatro dias depois, Luiz começou a sentir falta de ar e foi ao hospital. Jaqueline também não se sentia bem e os dois foram colocados em isolamento.

"Nos vimos mais uma vez virtualmente e eles contaram que ambos estavam infectados pelo coronavírus. Depois disso, só minha mãe atendia às minhas ligações. Ele já estava entubado", contou Luciana.

No dia 18 de março, quando os pais estavam internados na UTI, Luciana recebeu a notícia da morte do tio. Ele faleceu por causa das complicações da covid-19. "Ficamos extremamente abalados. Tio Sergio era tão próximo, um homem inteligente, culto (...) Estava com 79 anos, mas ainda cheio de vida e projetos."

Sergio recebeu em 2007 o Prêmio Nobel da Paz ao lado de Al Gore e outros integrantes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

O pai de Luciana estava na UTI quando Sergio morreu e não soube de nada. "Dois dias depois do enterro e dez após ser internado, também não resistiu. Minha mãe soube da morte do meu pai pela médica e a enfermeira que a acompanham no hospital. Essa talvez seja a parte que mais dolorosa desta história, que é inteira triste. Não pude abraçar minha mãe no momento mais difícil de nossas vidas, em que nós duas precisávamos desse abraço", lamenta a professora.

O irmão de Luciana, que mora em Fortaleza, está sendo o responsável por dar apoio à mãe e resolver as burocracias. Jaqueline deixou a UTI e foi para o quarto. "A dor de perder um pai maravilhoso, de falar sobre isso com sua mãe por chamada de vídeo, sem poder abraçá-la é lancinante", diz ela.

Luciana classificou a situação como "muito crítica" e pediu consciência as pessoas. "Se puder ficar em casa, fique. Não minimize a situação, não pague para ver. Esse vírus é real, letal e perigosíssimo. Não é só uma gripezinha. Ele pode ser fatal inclusive para pessoas saudáveis, com condições físicas privilegiadas. Aconteceu na minha família. Duas vezes, em menos de dois dias", desabafou.