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Hospitais de São Paulo correm para contratar milhares e faltam candidatos

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), acompanha a montagem de leitos hospitalares no estádio do Pacaembu - MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), acompanha a montagem de leitos hospitalares no estádio do Pacaembu Imagem: MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

29/03/2020 04h07

Resumo da notícia

  • Hospitais em SP correm contra o tempo para contratar profissionais da saúde para combater a pandemia de covid-19, causada pelo novo coronavírus
  • Além da alta de pacientes esperada para as próximas semanas, muitos profissionais são infectados no trabalho e ficam afastados por pelo menos 14 dias
  • De acordo com profissionais ouvidos pela reportagem, não há gente suficiente

"Pessoal, o Einstein assumiu a construção do hospital de campanha lá no Pacaembu e precisam preencher mais de mil vagas em duas semanas", diz a mensagem enviada nessa semana a um grupo de WhatsApp que reúne profissionais da saúde que trabalham em diversos hospitais da capital e região metropolitana de São Paulo. "Estão pedindo ajuda para divulgar. A maioria é de auxiliar, técnico, enfermeiro e etc. Se souberem de alguém ou puderem repassar, os links estão abaixo."

"Olá, tudo bem? O Santa Helena de São Bernardo do Campo vai abrir uma UTI para corona de agora a maio, e está contratando. Conhecem alguém que possa estar interessado?", afirma outra mensagem de dias atrás. "Quem tiver indicação, favor enviar currículo no email", pede outro profissional do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na mesma conversa.

A semana inteira foi assim, e apareceram diversos anúncios de vagas nos grupos do aplicativo.

Por conta da expansão em todo o país da epidemia de covid-19 causada pelo novo coronavírus — com pico e provável colapso do sistema de saúde até o final de abril, de acordo com as projeções do Ministério da Saúde — a maioria dos hospitais particulares de São Paulo está correndo contra o relógio para contratar profissionais da saúde a tempo de dar conta do esperado aumento no volume de pacientes.

No entanto, há escassez de gente disponível e o preenchimento rápido das milhares de vagas abertas é improvável.

"Falta gente"

"Eu já trabalho em dois hospitais", afirma um enfermeiro do hospital Sírio-Libanês à reportagem. "A maioria dos colegas que conheço tem no mínimo um emprego. Quem que vai assumir uma segunda ou terceira vaga, para correr um risco enorme, e temporária, ainda por cima?"

O hospital Israelita Albert Einstein, citado na abertura dessa reportagem, abriu 1.426 vagas para médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas.

Boa parte, 509 vagas, é para o hospital de campanha montado pela Prefeitura de São Paulo no estádio do Pacaembu, exclusivamente para atender vítimas do coronavírus, mas não apenas: O Einstein abriu outras 195 vagas para hospitais e unidades de saúde que administra para a prefeitura, além de 722 vagas para o próprio hospital localizado no Morumbi, na zona Oeste da capital paulista.

"Nenhum hospital, mesmo os melhores, tem gente e leito suficiente para atender a enxurrada de pacientes que são esperados para as próximas semanas", afirma um médico que atua na UTI do Einstein. "Temos que aproveitar agora, quando ainda está relativamente tranquilo, para reforçar as trincheiras. E, mesmo assim, vai ser difícil dar conta se as piores previsões se realizarem."

O A.C. Camargo Cancer Center também abriu vagas para profissionais de saúde. São 130 para diversas posições.

Profissionais afastados

Os hospitais também já estão contando que muitos profissionais serão afastados por pelo menos duas semanas durante o combate, devido ao contágio, e será necessário ter "mão de obra rotativa".

No boletim interno diário sobre a evolução do coronavírus de um conhecido hospital da capital, é possível ver que de quarta (25) para quinta-feira (26) o número de profissionais da instituição infectados ou com suspeita de covid-19 quase dobrou e passou de cinco casos. O número de pacientes internados permaneceu estável no mesmo período.

No Hospital Sírio-Libanês pouco mais de 40 profissionais — entre médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e até pessoal administrativo — estavam afastados por suspeita ou confirmação de coronavírus até ontem.

Fora isso, na maioria dos hospitais, as profissionais grávidas ou que possuem filhos recém-nascidos foram afastadas da linha de frente do combate ao novo coronavírus.

Na Espanha, até o começo da semana que passou, 3.500 profissionais da saúde foram contaminados pelo novo coronavírus — pelo menos 12% do total de 28.500 contaminados confirmados até a mesma data.

Adiantamento de formatura dos médicos

As tentativas de contratação repetem-se por todo o estado de São Paulo e pelo país.

A Rede D'Or, que possui hospitais em SP e no Rio de Janeiro, anunciou a contratação de 400 enfermeiros e técnicos de enfermagem para atuar nas UTIs e emergências contra a covid-19.

Pelo interior de SP, diversos hospitais particulares já anunciaram vagas nas maiores cidades. Em Belo Horizonte, as contratações também seguem a todo vapor.

No esforço de arrumar mão de obra para a demanda de doentes esperada, o Ministério da Saúde anunciou que o governo federal vai adiantar a formatura de estudantes de medicina, para que possam atuar no combate à covid-19. Segundo o governo, 70 mil médicos podem começar a atuar nos sistemas de saúde com a medida.

No Rio de Janeiro, mais de 15 mil estudantes e profissionais de saúde atenderam ao chamado do governo estadual e inscreveram-se como voluntários no combate ao coronavírus.

Na Itália, país que nessa sexta-feira (27) registrou 969 mortes, o maior número em um dia desde o começo da pandemia, equipes de profissionais da saúde da China desembarcaram ao longo de toda a semana para ajudar no socorro às vítimas.

O UOL procurou os sindicatos dos enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e médicos, mas não obteve retorno até a publicação dessa reportagem.