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Bolsonaro atrapalha combate ao coronavírus, diz ONG Human Rights Watch

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

11/04/2020 07h44

A ONG Human Rights Watch fez duras críticas à atuação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na crise sanitária devido ao novo coronavírus e afirmou que, além de agir de forma "irresponsável", o presidente está colocando os brasileiros em "grave perigo". As afirmações constam de um relatório publicado hoje pela organização, que atua na defesa e na realização de pesquisas sobre os direitos humanos.

"O Presidente Jair Bolsonaro está colocando os brasileiros em grave perigo ao incitá-los a não seguir o distanciamento social e outras medidas para conter a transmissão da COVID-19, implementadas por governadores no país inteiro e recomendadas por seu próprio Ministério da Saúde", diz o relatório. "Ele também age de forma irresponsável disseminando informações equivocadas sobre a pandemia", continua o texto.

Ontem, o Brasil atingiu 1.056 mortes pela covid-19. O número representa uma alta de 144% em relação à sexta-feira da semana passada, quando eram 432 vítimas fatais.

Para José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch, Bolsonaro tem "sabotado" os esforços dos governadores e do seu próprio Ministério da Saúde para conter a disseminação da covid-19, "colocando em risco a vida e a saúde dos brasileiros".

"Para evitar mortes com essa pandemia, os líderes devem garantir que as pessoas tenham acesso a informações precisas, baseadas em evidências, e essenciais para proteger sua saúde. O presidente Bolsonaro está fazendo tudo, menos isso", diz Vivanco.

A Human Rights Watch elenca ainda uma série de medidas tomadas por Bolsonaro em meio à pandemia do novo coronavírus, além de declarações feitas pelo presidente.

Entre elas, a decisão do presidente em editar uma medida provisória, no dia 20 de março, para retirar dos estados a competência para restringir a circulação de pessoas como forma de conter a covid-19. Quatro dias depois, a medida foi derrubada por uma decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

A Human Rights Watch também afirma que, apesar do "risco potencialmente fatal para a saúde dos brasileiros", desde o início da crise Bolsonaro tem minimizado a gravidade da covid-19, chamando-a de "gripezinha", "resfriado" e até de uma "fantasia" criada pela imprensa.

O relatório diz ainda que, ao "repetidamente" desconsiderar as recomendações de distanciamento social e incentivar as pessoas que não são "idosas" a fazerem o mesmo, o presidente as coloca em risco de contágio.

"Ele conclamou as pessoas a participarem de uma manifestação pró-governo no dia 15 de março e interagiu com os manifestantes, inclusive apertando as suas mãos. Na época, ele deveria estar em quarentena, já que vinte e quatro pessoas de uma delegação oficial que viajou com ele para os Estados Unidos haviam testado positivo para o vírus", diz o texto.

A organização lembra ainda que, em pronunciamento feito no dia 24 de março, Bolsonaro pediu para que os brasileiros "voltassem à normalidade" e que a campanha publicitária sob a hashtag #ObrasilNãoPodeParar, que seria veiculada pelo governo federal, acabou impedida pela Justiça por contradizer as recomendações do Ministério da Saúde.

Procurado pelo UOL, o Planalto ainda não se manifestou sobre as críticas.

Brasil ultrapassa mil mortes e Bolsonaro ignora isolamento

Ontem, no mesmo dia em que o país passou dos mil óbitos, o presidente Jair Bolsonaro voltou a desrespeitar as orientações de distanciamento social sugeridas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pelo próprio Ministério da Saúde. Ele chegou a coçar o nariz com o punho e cumprimentar três pessoas na sequência, incluindo uma idosa.

Na manhã de sexta-feira, Bolsonaro foi ao Hospital das Forças Armadas e, na volta, parou em uma farmácia, onde posou para fotos com apoiadores. Questionado sobre o comportamento contra o distanciamento social, respondeu: "Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir".

A presença do presidente gerou aglomeração, justamente o que as autoridades de saúde não recomendam. As pessoas que estavam próximas se dividiram em relação à atitude. Parte gritou palavras de apoio, mas houve panelaços e protestos.


Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do que constava em uma versão anterior deste texto, o nome da ONG é Human Rights Watch. A informação foi corrigida.