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Carreatas contra isolamento social têm críticas a Maia e apoio a Bolsonaro

Alex Tajra e Hanrrikson de Andrade

Do UOL*, em São Paulo e em Brasília

18/04/2020 17h12

Pelo menos três capitais do país registraram carreatas contrárias ao isolamento social proposto por governadores para conter a crise na saúde pública gerada a partir da pandemia de coronavírus. Em São Paulo, além das críticas às medidas restritivas, os motoristas de carros e motocicletas que se enfileiravam ofendiam o governador João Doria (PSDB) e demonstravam apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

No Rio, o governador Wilson Witzel (PSC) também foi alvo dos manifestantes; em Brasília, o presidente se entusiasmou com o protesto. Nas três cidades o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), foi alvo dos protestos. As aglomerações e carreatas contrariam as medidas de contenção do vírus impostas pelos governadores e as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Ontem, o governo de São Paulo anunciou que a quarentena será estendida até pelo menos dia 10 de maio. Todos os municípios do estado continuarão sob as medidas restritivas, com proibição de comércios de atenderem presencialmente e bares e casas noturnas fechados.

Na capital paulista, um carro de som puxava mais de cem motos e carros que se aglomeraram e percorreram trajeto entre as avenidas Rebouças e Paulista. Parlamentares ligados à extrema-direita, como o deputado estadual Douglas Garcia, vinculado também ao chamado "gabinete o ódio", participaram da carreata. Boa parte dos manifestantes vestia verde e amarelo, alguns deles com luvas e máscaras.

Em suas redes sociais, Garcia publicou um vídeo no banco do passageiro de uma SUV preta gritando "Fora Doria". "Carreata linda na cidade de São Paulo, se deus quiser a gente vai tirar esse ditador do poder. Nós não podemos permitir que João Doria faça com o Estado de São Paulo o que ele está fazendo, levando o Estado à miséria, à fome, à pobreza, fazendo com que as pessoas tenham sua saúde mental debilitada", afirmou Garcia.

Além das críticas ao governador, os manifestantes buzinaram contra a TV Globo e entoavam críticas a Rodrigo Maia e ao Congresso.

No Rio de Janeiro, os apoiadores do presidente se concentraram em bairros como Copacabana e Flamengo. Também houve relatos de manifestantes em Niterói. Houve bloqueios de ruas no Leblon, em Ipanema e no Aterro do Flamengo, segundo o Centro de Operações Rio.

"E esse governador, aproveitando esse momento de pandemia, está tendo gastos exorbitantes, está fazendo e realizando tudo que interessa a ele, menos cuidar da saúde. Se não morrer pelo vírus, vai morrer de fome", gritou um homem em cima de um carro de som, adereçado com um adesivo "eu apoio o presidente" e com máscara cirúrgica.

Bolsonaro transmite carreata

Já em Brasília, o movimento começou a se intensificar na parte da tarde. Da rampa do Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro acompanhou uma carreata de manifestantes que pedem o fim do isolamento social e a retomada de atividades comerciais. Ao lado do deputado federal Hélio Lopes, seu amigo pessoal, e de seguranças, o presidente acenou para os adeptos da mobilização. Carros fizeram um buzinaço para festejar a presença do mandatário.

Ele fez questão de divulgar as cenas da carreata por meio de transmissão ao vivo em sua página no Facebook. O presidente tem defendido com veemência a flexibilização da quarentena e atacado governadores sob argumento de que medidas restritivas são prejudiciais à economia e podem levar ao desemprego em massa.

Na sexta-feira (17), o presidente havia dito que não pretendia cumprir agendas durante o fim de semana porque estava "cansado". Durante a semana, ele acumulou desgastes provocados pelos atritos com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), demitido por divergir de Bolsonaro e defender a necessidade do isolamento social. O ex-chefe da pasta foi substituído pelo oncologista Nelson Teich.

Por volta de 16h10, Bolsonaro desceu a rampa para conversar com um grupo de manifestantes que se aglomeravam em frente ao Planalto. Assim como tem feito praticamente todos os dias, ele criticou o isolamento e disse que "está na mão" de prefeitos e governadores "começar a partir para normalidade".

Na visão do chefe do Executivo federal, é inevitável que a maioria da população seja infectada pela covid-19. "70% vai ser contaminado. Se não for hoje, vai ser na semana que vem ou no mês que vem."

Bolsonaro concluiu pedindo que os adeptos do protesto não se "acovardem" tendo o vírus pela frente. "Lógico que tem que tomar cuidado, mas tem que enfrentar de cabeça erguida".

*Colaborou Herculano Barreto Filho, do UOL no Rio