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Covid-19: Testes com remédios terão resultados seguros em 45 dias, diz SBV

"A ciência é sempre contestada pelo senso comum", diz presidente da Sociedade Brasileira de Virologia - Feevale / Divulgação
"A ciência é sempre contestada pelo senso comum", diz presidente da Sociedade Brasileira de Virologia Imagem: Feevale / Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

22/04/2020 04h01

O presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia) e professor da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), Fernando Rosado Spilki, criticou as ameaças contra pesquisadores que estudam a cloroquina no Amazonas e disse que os cientistas precisam de "paz de espírito" para, dentro de 30 a 45 dias, apresentarem "resultados seguros" sobre o uso de medicamentos que possam ser utilizados contra o coronavírus.

Em entrevista ao UOL, o virologista defendeu a ciência brasileira e disse que o setor está em busca de respostas eficazes contra o coronavírus. "Em nenhum momento da história recente da humanidade precisou-se de respostas rápidas da ciência como agora. Então é com muita tristeza que a gente vê isso. Os cientistas não trabalham por questões políticas", diz.

Leia a entrevista:

UOL - Como a SBV analisa as ameaças feitas a cientistas do Amazonas que estão pesquisando a cloroquina?

Fernando Rosado Spilki - A ciência sempre é contestada pelo senso comum, é uma coisa histórica. e é particularmente triste nesse momento porque nós todos —inclusive os cientistas — precisamos dessas respostas. Mas infelizmente tudo virou um enorme 'fla-flu'. As pessoas simplesmente não aceitam o resultado de um ensaio clínico por uma questão ideológica, partidária. A população precisa entender que, seja qual for sua torcida íntima de um fármaco ou outro, ninguém está tentando destruir essas esperanças por motivo ideológico. O que está se tentando fazer é um trabalho sério, que traga as melhores respostas possíveis para esse desafio terrível que é encontrar um tratamento para essa doença.

Por falar em tratamento, o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) anunciou testes em humanos com um remédio contra a covid-19. Podemos esperar bons e rápidos resultados dessas e outras pesquisas?

Tem sido tentado [resultados] em várias frentes. Tem esse experimento que o MCTIC está capitaneando, com algo em torno 500 pacientes envolvidos, um estudo duplo cego, randomizado —e é assim que tem de ser feito. Existem outras frentes para tratamento, tomados por outros grupos, como a própria rede Clorocovid-19 que está pesquisando a melhor maneira, os melhores uso para cloroquina.

Acho que nós podemos pensar em resultados nos próximos 30, 45 dias; resultados realmente seguros quanto às melhores terapêuticas. Além disso, claro, a gente acompanha o movimento das pesquisas internacionais sobre isso.

Diante de um cenário de corte de verbas para pesquisa nos últimos anos, como o setor brasileiro está impactado para dar respostas à covid-19?

Na área de virologia e das doenças infecciosas, estamos tendo um apoio bastante grande do MCTIC neste momento. Logo em fevereiro montaram a Rede Vírus, e você vê números expressivos no que tange ao fomento; as próprias FAPs [Fundações de Amparo] estaduais tiveram um esforço muito grande. Eu diria que, em termos de fomento para as descobertas relativas à covid-19, a pesquisa nessa área, a gente não pode reclamar.

E o Ministério da Saúde?

O Ministério da Saúde vinha acenando, pelo menos à gente, com esse fomento muito forte. É muito importante esse investimento não só de tratamento, mas de estudos sobre a circulação do vírus, estudos com vacina. Para covid-19 não podemos reclamar, houve recomposição de verbas, de bolsas.

Esse vírus teve um alastramento rápido pelo mundo que assustou a todos. Para vocês, que lidam com vírus todo dia, ele assusta assim também?

Ele realmente assusta. Ele tem uma velocidade de transmissão alta, comparado com outras viroses respiratórias importantes. É por isso que estamos tão preocupados. Realmente é um evento que traz também aos virologistas.

E esse comportamento do coronavírus aqui não é diferente de lugar algum do mundo, certo?

Não, isso é mundial. Lá no início, na China, parecia para nós, virologistas daqui e estrangeiros, que não era tão grave. Mas à medida que chega na Europa, se dissemina no mundo ocidental viu-se a gravidade. Por isso é importante que pesquisadores tenham paz de espírito para seguir as pesquisas e resolver isso o mais breve possível.