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Três mortes pela covid em 2 semanas: a família de Duque de Caxias em luto

Pessoas da mesma família morreram com sintomas da covid-19 em Duque de Caxias - Reprodução/TV Globo
Pessoas da mesma família morreram com sintomas da covid-19 em Duque de Caxias Imagem: Reprodução/TV Globo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

29/04/2020 08h36

Em apenas duas semanas, a dona de casa Josiete Pereira do Carmo, moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi obrigada a se despedir da mãe, dos tios e de um primo. Ao todo, quatro familiares morreram neste mês: três deles com suspeita de covid-19.

As vítimas são duas donas de casa, um pastor e um comerciante que tinha um depósito de bebidas na comunidade Vila Operário e trabalhou até adoecer. Todos tinham doença pré-existentes.

De acordo com a família, o primeiro parente a ser internado foi a dona de casa Lenir Alves Pereira, de 71 anos, que deu entrada há duas semanas no hospital Moacyr do Carmo, também em Caxias. A sobrinha, Josiete Pereira do Carmo, disse que a tia estava na fila para realização de uma cirurgia de coração, mas que um infarto antecipou a internação dela.

Segundo Josiete, a tia ficou dois meses no hospital e começou a piorar nas últimas semanas. Os médicos constataram comprometimento do pulmão e confirmaram para a família suspeita de infecção por covid-19. Josiete acredita que a tia tenha se contaminado na unidade de saúde. Inúmeros corpos de pacientes mortos foram flagrados nos corredores do hospital recentemente.

"Ela deu entrada para tratar um problema e acabou com outro. Ela estava reagindo e do nada começou a piorar muito. Os médicos fizeram vários exames, e no raio-x do pulmão viram que ele estava muito comprometido", disse Josiete.

No mesmo período, Josiete viu o primo Romelito, de 45 anos, ser internado. Ele era paraplégico, tinha diabetes, era pastor e pertencia à igreja do bairro. Segundo Josiete, ele chegou ao hospital da Fiocruz com falta de ar e foi intubado.

"Conhecia muita gente, tinha contato com muita gente. Era bem conhecido aqui na região", descreveu Josiete.

No último sábado, a família se despediu de Florisvaldo. Segundo a sobrinha, ele ficou uma semana internado e com ventilação mecânica. Deu entrada, primeiramente, em uma unidade particular, com dores no corpo e dificuldade para se alimentar. Devido ao quadro de saúde, ele foi transferido para o hospital de Saracuruna, também em Caxias, onde foi intubado. No local, constataram que ele também estava com 70% do pulmão comprometido.

Florisvaldo tinha um depósito de bebidas na região, onde trabalhou até adoecer. O enterro dos três foi com caixão fechado.

A única que não apresentou sintomas compatíveis com a covid-19 foi a mãe de Josiete, a dona de casa Luziete Pereira do Carmo, de 62 anos. Ela morreu há uma semana, após dar entrada no hospital de Saracuruna, por conta de complicações provocadas por diabetes.

"Eu fiquei com a minha mãe o tempo todo. Nunca deixei ela sozinha. Ela chegou a fazer quatro cirurgias no pé por conta dessa diabetes que tinha. Ela morreu preocupada", desabafou Josiete.

Frigorífico armazena corpos

Moradores da Vila Operário, em Caxias, se queixam de abandono do poder público e reclamam de um frigorífico para armazenar corpos, instalado perto da comunidade, no cemitério Nossa Senhora das Graças.

De acordo com Rogério Oliveira, morador da região e coordenador do Coletivo de Favelas Acorda Morador de Duque de Caxias, a situação na região é de calamidade e mais de dez pessoas já morreram no bairro. "Estamos abandonados, nunca houve uma medida de prevenção por parte da prefeitura. Falta muita informação aqui. Tem muita gente doente em casa que tem medo de ir para o hospital, pois todo mundo que entra, morre."

A prefeitura de Duque de Caxias foi procurada, mas ainda não se manifestou sobre a situação dos moradores.

A cidade foi uma das últimas a aderir o isolamento social como medida para conter o avanço do coronavírus. De acordo com o último boletim da Secretaria de Estado de Saúde, divulgado ontem, a cidade é a segunda com o maior número de casos - atrás da capital. A cidade do Rio tem 5.554 casos confirmados da doença e Caxias tem 337. O número de óbitos é de 456 e 68 respectivamente.

O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), foi um dos infectados. Ele ficou 13 dias internado em um hospital particular na capital Fluminense. Ele recebeu alta no dia 22.

O estado do Rio registra ao todo 8.504 casos confirmados e 738 óbitos por coronavírus. Há ainda 259 óbitos em investigação e 140 foram descartados.