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Pressão nas UTIs da Grande SP obriga estado a levar pacientes para interior

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

30/04/2020 12h49

A ocupação dos leitos de UTI da rede estadual na Grande São Paulo chegou a 89% e elevou a pressão sobre o sistema na região a um nível que o governo decidiu enviar os pacientes graves para tratamento no interior a partir de sábado. A possibilidade de remoção existe porque nas demais regiões do estado, a ocupação dos leitos de terapia intensiva está em 69%.

"Passamos agora, a partir deste final de semana, a utilizar os leitos do interior para o tratamento de pacientes aqui da Grande São Paulo", disse o secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann.

Hoje, existem 1.744 pessoas em UTI em São Paulo. A possibilidade de encaminhar pessoas para outras cidades foi citada pelo secretário estadual de Saúde no começo desta semana como último recurso por causa do incômodo que gera aos familiares. Ele disse que o estado é capaz de mandar pacientes para municípios distantes até 400 quilômetros da capital, mas afirmou que os doentes devem ser levados para municípios próximos.

"Como houve uma defasagem na chegada dos respiradores, temos que usar por um tempo essa transferência para o interior. Depois, volta para a capital", declarou o secretário.

O destino dos pacientes transferidos será decidido pela central de regulação da Secretaria estadual da Saúde. O sistema busca uma vaga levando o georreferenciamento em conta e encaminha o doente de ambulância. Grandes centros como Sorocaba e São José dos Campos são possíveis locais que receberão os pacientes da Grande São Paulo. Mesmo recorrendo a medida, o secretário não acredita que ocorra uma antecipação do pior cenário possível para a pandemia

"Não me parece uma antecipação do cenário. Essa velocidade e crescimento estavam em torno de 7% a 8%, hoje está em 12%. Nos óbitos segue 6%".

Mas as UTI da região metropolitana de São Paulo estão cada vez mais cheias. Ontem, uma ambulância precisou percorrer 63 quilômetros até encontrar um leito de terapia intensiva. O diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Gerson Salvador, afirmou que o colapso do sistema está próximo e pode ocorrer ainda nesta semana.

"Estamos na iminência de colapso do sistema de saúde. Pode acontecer dentro dos próximos dias ou das próximas semanas. O cenário pode piorar muito."

Salvador criticou a estratégia do governo estadual em apostar em três hospitais de campanha. O diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo afirmou que eles não têm leitos de alta complexidade e que é sabido que 5% dos pacientes de covid-19 vão precisar deste tipo de estrutura. Por este motivo, não se surpreendeu com a pressão nas UTIs.

O alarme das autoridades de saúde acendeu na terça-feira, quando a ocupação de UTIs na Grande São Paulo subiu para 81%. A reação imediata foi colocar em suspeição a possibilidade de relaxar o isolamento social no estado. O presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde de São Paulo, Geraldo Reple, ressaltou a gravidade da taxa.

"Está chegando a mais de 80% [ocupação das UTIs] e isso representa risco. Se olhar internacionalmente, quando atinge 80%, tem um risco muito aumentado", disse.

A escalada da gravidade da pandemia foi reconhecida pelo governador, João Doria (PSDB), ontem durante coletiva, quando afirmou que "estamos chegando na fase mais dura"; Mas o diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo está preocupado porque os leitos estão escassos antes do pico da doença e situação pode degradar muito.

"Não estamos no pico. O cenário ainda pode piorar muito e não estamos livres de acontecer o que aconteceu em Nova York e em Manaus", ressaltou Salvador.

A causa apontada por autoridade e especialistas para este aumento no número de casos é a baixa adesão ao isolamento social. Ontem, ela fechou em 47%.