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Sem provas, Bolsonaro diz que gestão Doria "infla" mortes por coronavírus

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

30/04/2020 07h51

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje, sem apresentar provas, que o governo de São Paulo tem inflado o número de mortes provocadas pela pandemia do coronavírus para "uso político" do chefe do Executivo estadual, o governador João Doria (PSDB).

A acusação vem na esteira de um duelo midiático entre os dois, apontados como possíveis candidatos à Presidência da República em 2022. Hoje, Doria é o principal rival do atual mandatário no cenário político. Os atritos ocorrem, em tese, devido a divergências no enfrentamento à covid-19.

"A curva está aí. Partindo do princípio que o número de óbitos é verdadeiro... Cada vez mais chegam informações que o próprio Diário Oficial lá de São Paulo, está escrito lá que, na dúvida, coloca coronavírus. Para inflar o número e fazer uso político disso", declarou Bolsonaro, na manhã de hoje, ao deixar o Palácio da Alvorada.

Jornalistas tentaram solicitar que o presidente explicasse melhor o funcionamento da suposta manipulação de dados oficiais. No entanto, ele ignorou as perguntas e também não citou informações concretas que embasassem a acusação.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de Doria e enviou um pedido de posicionamento por e-mail. A resposta do governador será inserida no texto tão logo seja enviada. A Secretaria Estadual de Saúde rebateu Bolsonaro e disse que não ocorre "supernotificação".

"Ao contrário do que disse o Presidente, São Paulo publicou resolução em Diário Oficial que protege a sua população. Com o objetivo de fortalecer as medidas de segurança dos profissionais da saúde, pacientes e do serviço funerário, a Secretaria de Estado da Saúde definiu protocolos de prevenção que preveem que os profissionais das unidades de saúde possam emitir a Declaração de Óbito dos casos relacionados a covid-19. É fundamental esclarecer que o documento emitido nesses casos é um registro não confirmatório para covid-19 - a confirmação ocorre apenas se o teste comprovar a infecção pelo coronavírus, com diagnóstico por laboratórios já validados na rede de saúde", diz a nota.

É o governador gravatinha de São Paulo fazendo politicalha em cima de mortos
Jair Bolsonaro

Na versão do presidente, Doria estaria "zombando de familiares que tiveram seus entes queridos que morreram por vírus ou outra causa". "É uso político do senhor governador de São Paulo, João Doria, com essas pessoas."

Ontem, em mais um capítulo do embate midiático entre os dois, o tucano criticou a atitude de Bolsonaro e o desafiou a visitar os hospitais do estado para ver como estão pacientes que estão com a covid-19.

"Pare com essa política da perversidade, de atrapalhar quem está salvando vidas. Pare de fazer política em meio a um país que chora mortes. Você disse que o Brasil estava vivendo uma gripezinha. E agora, presidente? Diante de mais de 5.000 mortos, você continua afirmando que o país está vivendo pandemia de um resfriadinho?", disse o governador.

Esta não é a primeira vez que Bolsonaro acusa Doria de aumentar o número de mortes. No dia 27 de março, em entrevista à TV Bandeirantes, o presidente fez a mesma acusação, mas de forma indireta.

Na ocasião, sem oferecer informações concretas, Bolsonaro insinuou que o número "estava muito grande para São Paulo". "Tem que ver o que está acontecendo aí. Não pode ser um jogo de números para favorecer interesse político."

À época, o estado tinha 68 mortes provocadas pelo novo coronavírus. No último boletim, divulgado ontem pela Secretaria Estadual de Saúde, São Paulo registra 2.247 mortes por covid-19, sendo o estado com mais mortes no país.

De acordo com dados divulgados, são 26.158 pessoas infectadas, sendo que 9.520 dos casos estão fora da capital. Segundo o levantamento, 8,6 mil pessoas estão internadas no estado. Entre estas, 3.445 estão em UTI. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são 5.466 mortos e 78.162 casos oficiais.