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Em meio à pandemia, surgem relatos de mortes em casa, e não só por covid-19

Parentes de vítima da covid-19 acompanham enterro no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo Imagem: Nelson Almeida/AFP

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

07/05/2020 04h01

Resumo da notícia

  • Mortes em casa dobraram em São Paulo, aumentaram em Manaus e são registradas em todo o Brasil e pelo mundo durante a pandemia de covid-19
  • Falta de atendimento, medo de ir ao serviço de saúde e a pneumonia silenciosa causada pela covid-19 explicam o fenômeno
  • Monitorar oxigenação em casa pode ajudar, mas deve ser feito com orientação médica

Em meio à pandemia de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, o Brasil, assim como outros países, convive com relatos de mortes em casa. Por aqui, não há números nacionais que deem a dimensão do fenômeno, mas relatos nos estados mostram a gravidade da situação — para a qual há ao menos três causas, segundo profissionais de saúde ouvidos pela reportagem.

Em São Paulo, segundo o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC), o registro desse tipo de morte dobrou nos últimos dias.

Em Manaus, como mostrou reportagem do UOL, foram registradas em abril 30 a 40 mortes em casa por dia — como a de Maria Portelo de Lima, 61, cujo corpo ficou em casa 30 horas à espera do serviço de remoção.

O problema é mundial. Países que estão passando ou já passaram pelo pico de casos de covid-19, como EUA, Espanha, Itália e Reino Unido registraram inúmeros casos de mortes em casa ou fora do ambiente hospitalar, como em asilos e residências para idosos.

Em Guayaquil, no Equador, epicentro da epidemia no país, as famílias deixavam os corpos das vítimas na rua para obrigar a polícia a recolher os corpos. E há diversos motivos por trás desse fenômeno.

3 motivos para as mortes em casa

No Brasil, profissionais de saúde apontam três motivos principais por trás dessas mortes em casa:

  1. As pessoas tentam, mas não conseguem atendimento adequado de saúde para tratar da covid-19-- diversos estados já têm sobrecarga nos sistemas públicos e até privados
  2. Faltam testes, os sintomas são parecidos com outras doenças, e as pessoas, sem saber que foram infectadas pelo coronavírus, não percebem o potencial de piora do quadro de saúde, que se deteriora rápido
  3. Com medo de ir aos serviços de saúde, pacientes passam a negligenciar também tratamentos que podem levar à morte -- como os de infarto.

1. Dificuldade no atendimento

Em estados como o Rio, já há filas para leitos de UTI. Em São Paulo, o o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que deveria salvar vidas, ganhou, por ordem do governo do Estado, uma atribuição a mais em abril: declarar o óbito em residências.

O governo recuou dessa decisão.

Com leitos cheios, gargalos no atendimento e ainda problemas como falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para profissionais de saúde ou respiradores em diversos municípios, o atendimento a quem mais precisa tem sido dificultado e muitos pacientes têm morrido antes de chegar ao hospital, ou após terem sido mandados de volta para casa.

2. Falta teste, e paciente não percebe gravidade

Sem testes em massa, muitos doentes não percebem que têm covid-19 e não procuram atendimento médico a tempo — tempo, aliás, que é curto, já que a doença é silenciosa e avança rapidamente.

"Os pacientes desestabilizam-se do nada", diz o infectologista e professor de medicina Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Diante dessa realidade, cresce o uso caseiro do oxímetro, equipamento que mede o nível de oxigenação do paciente — considera-se ponto de atenção níveis abaixo de 90%.

Modelo de oxímetro de dedo vendido em lojas de artigos médicos e pela internet Imagem: Divulgação
Mas a SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumonologia e Tisiologia) emitiu uma nota contrária ao uso de oxímetro sem orientação médica. "Sugerimos que a decisão sobre usar ou não usar monitoração por oximetria domiciliar fique a cargo do médico que assiste o doente".

Além disso, pneumologistas alertam que a compra indiscriminada dos aparelhos pode gerar desabastecimento para quem tem doenças pulmonares crônicas e precisam realmente do aparelho.

A orientação médica é: em caso de falta de ar, procure um serviço médico.

3. Medo do hospital leva a negligência a casos graves

Uma enfermeira que trabalha no Samu de São Paulo e pediu para não ser identificada afirmou à reportagem que testemunhou crescimento de mortes de "idosos com outras patologias [que não fossem covid-19], como pacientes terminais de câncer e problemas cardíacos".

Ela confirmou à reportagem que os familiares dessas pessoas relatavam receio de procurar o serviço de saúde, por medo de pegar a covid-19 num hospital ou posto de saúde.

O relato coincide com os de profissionais de saúde que notam diminuição de procura aos serviços de saúde e alertam: doenças cardíacas, câncer e outras condições crônicas não devem ter tratamento negligenciado, mesmo durante a pandemia.

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