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Prefeito na BA impõe toque de recolher: 'melhor quebrar que perder a vida'

Fernando Gomes, prefeito de Itabuna (BA) - Divulgação / Prefeitura de Itabuna (BA)
Fernando Gomes, prefeito de Itabuna (BA) Imagem: Divulgação / Prefeitura de Itabuna (BA)

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

14/05/2020 04h00

Desde anteontem, os cidadãos de Itabuna (a 436 km de Salvador), no sul da Bahia, não podem mais sair às ruas entre 20h e 5h. O toque de recolher foi decretado pelo prefeito Fernando Gomes (PTC), por conta do aumento no número de casos de covid-19, na cidade de cerca de 213 mil habitantes — população estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) em 2019. A medida já está em vigor e vale até 21 de maio.

Até ontem eram 436 casos confirmados, além de 631 pacientes que estavam aguardando as coletas para exame. Outros 378 esperavam o resultado para saber se estão infectados pelo novo coronavírus.

"Aqui aumentou demais, virou calamidade pública. Fiz o toque de recolher, está tudo fechado. Chegou a um ponto altíssimo, 12 mortos. É uma situação difícil", afirmou o prefeito, em entrevista ao UOL.

Gomes lamenta ter de tomar medidas drásticas, mas diz que a vida é prioridade absoluta. "Estamos com o comércio todo fechado, isso é um prejuízo muito grande. Quantas empresas vão falir? Muitas, mas é melhor quebrar do que perder a vida. Ela está em primeiro lugar. Você quebra hoje, vai trabalhar mais no próximo ano para conquistar de novo", comenta.

A partir de hoje, as feiras livres estão suspensas por ordem judicial. Toda a cidade também terá barreiras sanitárias.

"Quem chegar vai ter de medir a temperatura. Todas as medidas possíveis estou tomando", diz Gomes."Tem até um hotel que providenciamos para tirar os infectados das casas onde vivem quatro, cinco pessoas. Vou tirá-las por 14 dias e, junto com o governador [Rui Costa - PT], vamos dar R$ 500. As principais vias eu fechei para não passar carros. No caso dos bancos, fechei a rua, pus cadeira para todo mundo sentar, e cada um fica a dois metros de distância do outro. E aqui só pode andar na rua para com máscara", completa.

"Cidade tipo São Paulo"

Aos 80 anos e na quinta gestão à frente da prefeitura, Gomes atribui o avanço da doença à grande circulação de pessoas. "Itabuna é uma cidade tipo São Paulo, vem muita gente de fora, sai muita gente daqui para viajar. Isso aí [o novo coronavírus] veio de fora. Foi trazido da cidade grande."

O prefeito ainda questiona a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à doença. "Não pode ser gripe se está matando tanto. Quase todo mundo tem gripe, ninguém morre assim. Não pode ser uma gripezinha. É uma coisa preocupante."

Por fim, Gomes deixa o recado aos 213 mil moradores da cidade: "é ficar em casa. É só isso. Se vai fazer feira, vai fazer mercado, vai um só! Não precisa ir dois ou três. Qual o remédio hoje melhor que tem? É prender a pessoa em casa", finaliza.

Podem funcionar durante o toque de recolher as farmácias 24 horas, delivery de alimentação e de medicamentos, unidades de saúde e delegacias. Motoboys que fazem delivery deverão ser cadastrados para não descumprirem o decreto.

Lojas, escritórios, postos de combustíveis e mesmo os serviços considerados essenciais, como padarias, mercados, mercearias, supermercados, lojas de conveniência e lotéricas, deverão permanecer fechados. O expediente dessas empresas deverá ser encerrado a tempo de os funcionários chegarem em casa antes do toque de recolher