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Pesquisa aponta mais de 200 mil infectados por coronavírus em Manaus

Criança é testada por pesquisadora - Divulgação
Criança é testada por pesquisadora Imagem: Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o Uol, em Porto Alegre

17/05/2020 22h00

Os primeiros resultados da pesquisa nacional sobre o coronavírus apontam que 201,6 mil pessoas podem estar infectadas em Manaus. O número corresponde a 11% da população da cidade, que tem 1,8 milhão de habitantes. No site do Ministério da Saúde, Manaus conta com 10.407 casos oficiais e 949 óbitos. Segundo levantamento do ministério, divulgado hoje, mais de 20 mil estão infectados no estado e 1.400 morreram. O Amazonas é o quarto estado do país com o maior número de casos.

A pesquisa nacional que divulga números muito mais altos do que os oficiais é organizada pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas), no Rio Grande do Sul. O coordenador do estudo e reitor da instituição, Pedro Rodrigues Curi Hallal, explica que foram identificadas 27 pessoas com coronavírus durante aplicação dos testes rápidos, em uma amostra de 250 participantes. Com isso, chegou-se ao índice de 11% ao se aplicar sobre o total da população.

A margem de erro é de 180 mil a 220 mil. Segundo o coordenador da pesquisa, a cidade receberá novamente os pesquisadores daqui a duas semanas. Desta vez, serão entrevistadas pessoas diferentes das que foram ouvidas na primeira fase.

A pesquisa está sendo realizada em 133 cidades brasileiras e pretende coletar amostras de 33.250 pessoas. Além de Manaus, já foi concluída em oito cidades: Breves (PA), Lábrea (AM), Parintins (AM), Barreiras (BA), Itabaiana (SE), Vitória (ES), Patos de Minas (MG) e Uruguaiana (RS). Os resultados preliminares dessas outras cidades ainda não foram divulgados.

A intenção da pesquisa é estimar quantos brasileiros já foram contaminados com a covid-19 e avaliar a velocidade de expansão da doença pelo país. A coleta de dados está sendo feita pelo Ibope em moradias pré-definidas.

Ao chegar ao local, o entrevistador coleta uma gota de sangue e aguarda cerca de 15 minutos para o resultado do teste. Enquanto isso, aplica um questionário com perguntas sobre sintomas e histórico médico, entre outras. Caso o resultado for positivo, o teste rápido é aplicado em outros membros da família. Segundo o reitor, não é emitido um laudo comprovando a doença. Entretanto, a pessoa recebe um documento com orientações de onde ir.

Pesquisadores foram agredidos e "tratados como criminosos", diz reitor

Enquanto em nove cidades a pesquisa já foi concluída, em outras nem foi iniciada ainda, pois ocorreram agressões e detenções dos pesquisadores. Hallal diz que em Santarém (PA), a casa de uma entrevistadora foi invadida, e as amostras, destruídas. "A casa dela era uma espécie de QG da pesquisa, onde estavam reunidas as amostras", relata.

Pesquisadores afirmam tomar todas as medidas de segurança - Divulgação - Divulgação
Pesquisadores afirmam tomar todas as medidas de segurança
Imagem: Divulgação

Além disso, ocorreram detenções em São Mateus (ES), Imperatriz (MA), Picos (PI), Patos (PB), Natal (RN), Crateús (CE), Serra Talhada (PE), Rio Verde (GO), Cachoeiro do Itapemirim (ES), Caçador (SC) e Barra dos Garças (MT), segundo informações repassadas pela UFPel.

Sem detalhar, o Ibope afirmou que os problemas ocorreram em 58 municípios. Já a universidade afirma que em 40 cidades "os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando autorização dos gestores municipais, num processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos, visto que a pesquisa é integralmente financiada com recursos públicos". Os testes passaram a ser aplicados em 14 de maio.

"[Alguns pesquisadores] Foram detidos e encaminhados para delegacia para prestar esclarecimentos. Foram tratados como criminosos", salienta o reitor. Ele diz que, em algumas cidades, houve a demanda de que os testes fossem aplicados por profissionais da saúde.

"Trata-se de cerca de 2.000 brasileiros e brasileiras, que estão trabalhando para sustentar suas famílias, numa pesquisa que pode salvar milhares de vidas. Eles mereciam proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos da população. Ao contrário, as forças de segurança foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas", observou a universidade, por meio de nota.

A instituição salientou que a pesquisa é financiada e apoiada pelo Ministério da Saúde após "experiência exitosa" do estudo no Rio Grande do Sul. O projeto foi submetido à Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e foi aprovado em 28 de abril deste ano. "Todos os requisitos éticos e de segurança estão sendo seguidos, incluindo o uso de equipamentos de proteção individual e a inclusão apenas de entrevistadores com teste negativo para anticorpos do coronavírus", completou a universidade.

Prefeitura surpreendida

A prefeitura de Caçador (SC) informou, por meio de nota, que "foi surpreendida com algumas pessoas, vindas de São Paulo, que estariam realizando testes rápidos para Covid-19 nas residências dos caçadorenses". Segundo o Executivo municipal, o governo estadual foi informado da pesquisa pelo Ministério da Saúde, mas não teria repassado as informações aos municípios.

Para a prefeitura, a pesquisa infringe normas de segurança de saúde, "bem como não estabelece conduta a ser tomada mediante a um caso positivo". Por isso, a Secretaria de Saúde decidiu cancelar a realização da pesquisa. O coordenador da pesquisa nega.

A reportagem do UOL procurou o governo do Rio Grande do Sul, que informou que não vai se manifestar.