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Sem titular, Saúde minimiza números e responsabiliza estados e municípios

Eduardo Macário, secretário substituto de Vigilância em Saúde, e Élcio Franco, secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde - Júlio Nascimento//PR
Eduardo Macário, secretário substituto de Vigilância em Saúde, e Élcio Franco, secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde Imagem: Júlio Nascimento//PR

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

18/05/2020 21h20

No mesmo dia em que o Brasil ultrapassou os 250 mil casos do novo coronavírus, a primeira coletiva técnica do Ministério da Saúde desde a saída de Nelson Teich foi comandada pelo secretário-executivo adjunto da pasta, Élcio Franco, e pelo secretário substituto de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário. Os dois alegaram que a ausência de um titular à frente do ministério não é um empecilho no combate à covid-19 e apontaram estados e municípios como responsáveis por adquirir equipamentos para tratar a doença.

Diante da ausência do ministro interino Eduardo Pazuello, Élcio Franco destacou que o general, atual número um da Saúde, não iria interferir em uma área que fugisse ao seu conhecimento e acrescentou que o segredo da gestão é "saber usar a sua equipe".

"Não temos um ministro interino inferindo ou determinando alguma ação que foge da sua área de conhecimento, mas fazendo uso dos técnicos, de experiências que acontecem no Brasil e no mundo e alinhado com a comunidade científica", afirmou o secretário.

A entrevista coletiva desta tarde, concedida no Palácio do Planalto, mostrou os valores de repasses do governo federal à Saúde. A divulgação, com foco nas ações adotadas no combate à covid-19, ocorreu um dia após a pasta ser alvo de críticas do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM). Em entrevista à Folha, ao observar que seu sucessor não completou 30 dias no cargo, Mandetta alegou que o ministério não apresentou nenhuma ação positiva no último mês.

O ex-ministro também criticou a "entrada de um número grande de militares" na pasta. Ele afirmou que a categoria possui um sistema de saúde próprio e, por isso, desconhece como funciona o SUS (Sistema Único de Saúde).

Durante a apresentação de hoje, Franco afirmou, mais de uma vez, que a pasta auxiliava estados e municípios em questões logísticas que não caberia a ela realizar — como fornecer respiradores e EPIs (equipamentos de proteção individual).

Estados e municípios

"É uma demanda extra ao ministério, que não tinha a expertise para aquisição de respiradores e EPIs, uma vez que era uma tarefa atribuída a estados e municípios. Estamos apenas reforçando, ajudando os estados e municípios no enfrentamento à covid", declarou Franco.

O secretário, ainda, afirmou que "pela estrutura tripartite, caberia aos estados e municípios equipar os seus hospitais", em referência aos pedidos por auxílio para disponibilizar novos leitos em unidades de saúde. Ele também observou que os recursos enviados às regiões são acréscimos à estrutura já oferecida pelo SUS.

respirador - iStock - iStock
Pacientes com quadros mais graves de covid necessitam de uso do respirador
Imagem: iStock

Franco declarou que o ministério continuará oferecendo insumos de acordo com sua capacidade. Ainda, disse que o governo disponibilizou um depósito em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, para ser utilizado por municípios e estados na aquisição de equipamentos de saúde. Assim, as administrações poderiam receber o material no depósito e contar com a logística da pasta na distribuição dos itens.

"O ministério colocou à sua disposição o grande deposito que temos em Guarulhos para facilitar a aquisição, por estados e municípios, de equipamentos e insumos", disse o secretário.

Governo minimiza subnotificações

Apesar da baixa testagem do Brasil, o Ministério da Saúde avalia que os mais de 250 mil diagnósticos de coronavírus e 16.792 óbitos são de baixa incidência se comparados a outros países.

O Brasil é o terceiro país com mais notificações pela covid-19, atrás de Estados Unidos (1.506.732 casos) e Rússia (290.678 casos). O levantamento é da Universidade Johns Hopkins. Ao atingir mais de 250 mil diagnósticos, o país ultrapassou o Reino Unido na lista (247.706 casos).

"Quando a gente compara o número de casos absolutos, a gente não leva em consideração as populações. Por exemplo, populações da Itália, Turquia, muitas vezes são menores que a população brasileira", afirmou Eduardo Macário.

No entanto, em comparação a outros países da lista, o Brasil é um dos que menos aplica testes em sua população. Um levantamento feito pela USP no início do mês aponta o país como novo epicentro mundial do coronavírus. O levantamento faz cálculos de casos subnotificados e apresenta uma projeção muito superior aos números apresentados pelo ministério.

Em relação à Turquia, citada por Macário como exemplo, o Brasil apresenta uma taxa de mortes por milhão de pessoas superior à do país. Aqui, são cerca de 80 óbitos para cada milhão de habitantes pela covid-19. Na Turquia, segundo cálculos feitos pelo UOL com base nos dados fornecidos pela Johns Hopkins e pelo World Bank, são 50 mortes para cada milhão.

Ainda, atrás da Rússia em quantidade de diagnósticos, o Brasil está muito à frente em relação ao número de óbitos — entre os russos, foram contabilizadas 2.722 mortes pelo novo coronavírus, cerca de 18,8 óbitos por milhão.

"Então a gente pode considerar que a incidência comparada com outros países, pelo menos esses dez que estão listados, ela é menor. Proporcionalmente em relação à população brasileira, o número de casos e o número de óbitos é menor que outros países", acrescentou o secretário substituto de Vigilância em Saúde.

A pasta fez um comparativo de números entre os países, apresentando os dados recolhidos pela Organização Mundial de Saúde até às 14h de hoje. Entretanto, como o Ministério só atualiza seus dados após 19h, os valores apresentados hoje por outras nações foram comparados com casos e óbitos de ontem do Brasil.