Topo

Esse conteúdo é antigo

'Refletiu até na Bolsa', diz Doria sobre dia 'pacificador' com Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

21/05/2020 19h24Atualizada em 21/05/2020 22h10

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), disse hoje que o bom clima durante a reunião entre governadores e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "refletiu até na Bolsa". A declaração foi dada ao colunista do UOL Josias de Souza durante participação no UOL Entrevista.

Perguntado sobre a baixa frequência com que esse tipo de encontro costuma acontecer, ponderou que "dadas as circunstâncias", prefere "celebrar a existência do diálogo do que [tratar da] falta dele".

"Hoje tivemos um dia pacífico nessa reunião com o presidente Bolsonaro e os 27 governadores, além dos presidentes da Câmara e do Senado. Foi um dia positivo, construtivo e pacificador. Refletiu até na Bolsa, o dólar caiu, além da percepção por parte do mercado ter melhorado", afirmou.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou o dia em alta de pouco mais de 2%, aos 83.027 pontos. Já o dólar encerrou a sessão em queda de 1,89%, aos R$ 5,581 na venda.

Segundo ele, a linha de conduta dos governadores será o isolamento social e a não adoção da cloroquina de forma indiscriminada e que, respeitada a autonomia dos estados, não há porque haver o que define como "antagonismos".

"Não havendo ruptura, não há motivo para não haver diálogo com a Presidência da República", pontuou. Garantiu, contudo, não ser "porta-voz" dos governadores.

Sobre a pressão feita por alguns setores pelo fim das medidas de restrição social, garantiu que "nenhum governador é contra a retomada da economia" em meio à pandemia de covid-19, mas defendeu que a volta à normalidade seja feita com cautela, bom-senso e responsabilidade.

"Não conheço nenhum governador que tenha contrariedade quanto à reabertura da economia e à flexibilização das quarentenas. Mas isso só poderá ser feito de forma responsável", disse Doria. "Nenhum governador tem se utilizado do 'eu acho, eu faço, eu mando'. Os 27 governadores utilizam os parâmetros da ciência e da saúde para proteger a população de seus estados", acrescentou.

O governador ainda disse torcer para que a reunião de hoje indique o início de uma maior coordenação entre as ações do presidente e dos governadores para o enfrentamento da covid-19, reforçando que suas políticas remam "a favor da vida" e seguem as orientações da ciência, da medicina e da OMS (Organização Mundial da Saúde).

"O isolamento social já é feito em 211 dos 215 países do mundo que estão sendo afetados pelo coronavírus. Se o presidente Bolsonaro quiser remar conosco, somando forças, aumentando a musculatura, estaremos juntos. Não há nenhum conflito de ordem política que possa superar o entendimento. Demos o exemplo hoje de manhã", afirmou, novamente citando a reunião de mais cedo.

Em sua avaliação, o saldo, que avalia ter sido positivo, da reunião desta manhã é um exemplo de que é possível manter essa linha na relação com o governo federal: "Os governadores querem o bem do Brasil e a proteção do seu povo."

Polarização

Com histórico de desavenças públicas entre ele e o Bolsonaro, que trocam acusações públicas desde o início da pandemia, "não produzem bons resultados", avalia o governador.

"Quem caminha pelo extremo não gosta de conversar, dialogar, aceitar o contraditório. Não há uma única solução.

Doria espera que o novo tom adotado nessa relação valorize o que chama de "novo centro democrático" — "nada a ver com o centrão", pondera, referindo-se ao bloco informal de partidos sem orientação ideológica clara.

"Para ser mais explícito, [falo de] um centro democrático capaz de valorizar o diálogo com a esquerda e a direita, entender o contraditório e prestar proteção social aos mais humildes", definiu.

Segundo ele, não há crescimento econômico sem o atendimento às pessoas mais humildes, um debate que deve pautar as discussões nos próximos anos, avalia.

"Os extremos não geram contribuições e nós percebemos isso neste período recente, os equívocos cometidos pelos extremismos."

Doria pede pressa no repasse de verba

Na reunião com os governadores, Bolsonaro prometeu sancionar um projeto que libera um socorro financeiro de R$ 60 bilhões a estados e municípios. Doria retribui a iniciativa com um aceno, reconhecer que o dinheiro vai ajudar, mas pede pressa no envio da primeira parcela desta verba.

"Neste momento ele será suficiente. É impossível prever de forma precisa quando sairemos desta crise. Neste momento os R$ 60 bilhões não são para custear a máquina publica, mas para investimento na saúde: em hospitais, serviços de saúde, contratação de profissionais. O foco é nesta área", diz o governador paulista sobre o repasse.

Doria ainda raciocina que, a depender do tempo que a pandemia dure, talvez um outro repasse venha a ser necessário. "Se houver essa necessidade, saberemos colocar isso com serenidade ao presidente e a seus ministros", disse.

"Pedi ao presidente para que destinasse esta primeira parcela de R$ 20 bilhões até o dia 30 de maio. O presidente concordou, o ministro [da Economia] Paulo Guedes também. Tenho certeza de que eles cumprirão com a palavra", completou.

"Jogo coletivo" entre os governadores

Antes da reunião com Jair Bolsonaro, os governadores fizeram uma reunião à parte, apenas entre eles, para ter um discurso homogêneo ao tratar com o presidente. "Foi um jogo coletivo", como caracterizou João Doria.

"Todos os governadores [foram] convergentes, cientes de seus papéis. Foi uma reunião muito tranquila e convergente, ontem (20) pela manhã. Elegemos dois governadores para serem porta-vozes junto ao presidente e ambos fizeram isso muito bem", elogiou Doria, referindo-se à Reinaldo Azambuja (PSDB) e Renato Casagrande (PSB), governadores do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, respectivamente.

Doria admitiu que os governadores não concordaram "de forma absoluta" quanto ao veto ao aumento de salário de servidores públicos, mas que houve diálogo produtivo. "E hoje de manhã apresentamos isso de forma serena e equilibrada. O resultado foi bom: entendimento, paz, até um clima de alívio", afirmou o governador de São Paulo.