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Receita para o Brasil combater a pandemia estava ali, diz Nicolelis

Do UOL, em São Paulo

05/06/2020 17h02

Para o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, a receita para o combate à pandemia do novo coronavírus no Brasil já estava dada e governo brasileiro "enrolou". Durante entrevista ao UOL ele falou dos exemplos a serem seguidos em outros países e que auxílio emergencial foi só "uma gota no oceano".

"Como é possível quando você sabe que os Estados Unidos estão explodindo, a Europa já tinha explodido, como é possível você não fechar o espaço aéreo de todos os aeroportos brasileiros? Os EUA fecharam o espaço aéreo com a Europa. No começo deixou a Grã-Bretanha como exceção mas logo depois viu que não podia segurar a onda e fez isso", afirmou hoje em entrevista ao colunista do UOL Leonardo Sakamoto e ao jornalista Carlos Madeiro.

Para ele, havia múltiplos exemplos de ações coordenadas a se observar. "Veja a Coreia do Sul, foi perfeita! Fechou o espaço aéreo, começou a testar todo mundo, começou a isolar os casos, começou a rastrear os contatos sociais das pessoas logo no começo. Começou a isolar as pessoas que tinham falado, convivido com os isolados e foi uma história de sucesso. Alemanha mesma coisa."

A receita estava ali, estava na frente da gente, não precisava ser cientista de foguete para entender.
Miguel Nicolelis

Segundo o coordenador da Comissão Científica do Consórcio Nordeste, era preciso cortar as fontes exógenas externas e garantir a investigação dos casos que surgiam para conter a explosão exponencial.

"Em uma das primeiras reuniões que eu fiz com os governadores do Nordeste, eu comentei com o Flavio Dino [do Maranhão]: 'Veja o senhor vai receber um fluxo tremendo de casos de Marabá. Nós estamos vendo o fluxo em Marabá e em Belém na região de Imperatriz, na fronteira oeste do Maranhão'. No momento que eu estava falando com ele, ele ligou para o secretário de Saúde e pediu para reforçar o hospital público de Imperatriz. Isso foi em abril, E você olha agora em Imperatriz e aconteceu isso."

Os modelos matemáticos estavam certos. Eles têm uma margem de erro, você tem que considerar isso, o valor absoluto você não pode considerar ele como final, mas o formato da curva, o fluxo tava corretos. E as decisões não podiam ter sido adiadas.

Auxílio é uma gota no oceano

Segundo o cientista, o Brasil "enrolou" para ajudar na mitigação dos impactos econômicos da pandemia e, quando o fez, foi pouco.

"Eu nunca imaginei um governo americano dizer que ia mandar um cheque para você de US$ 1200 para você sobreviver ao isolamento social, não sair de casa. Fizeram isso! Jogaram trilhões de dólares na economia, imprimiram dinheiro sem pensar em nada porque é óbvio que para as pessoas ficarem em casa, elas precisam sobreviver. Elas precisam poder comer, pagar as contas, aluguel."

"Em certos países, os alugueis foram suspensos por um período. Você tem que dar condições mínimas para as pessoas ficarem em casa. Isso é papel do governo federal e o governo federal do Brasil enrolou, enrolou e não fez nada. A ajuda de R$ 600 é uma gota no oceano. O Brasil tinha que se preocupar com os parâmetros macroeconômicos depois da pandemia. Como os EUA e China fizeram."

*Texto de Carolina Marins. Produção de Diego Henrique de Carvalho