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Crescimento de mortes em casa alerta para subnotificação de covid-19

Trabalhadores funerários carregam o caixão de uma mulher que morreu de covid-19 em casa, em Manaus - BRUNO KELLY/REUTERS
Trabalhadores funerários carregam o caixão de uma mulher que morreu de covid-19 em casa, em Manaus Imagem: BRUNO KELLY/REUTERS

Do UOL, em São Paulo

08/06/2020 08h42Atualizada em 08/06/2020 09h42

Especialistas estão preocupados com o crescimento dos números de óbitos domiciliares durante a pandemia do novo coronavírus. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) cobraram qualificação dos dados e reforçaram sua importância em nota técnica divulgada na semana passada.

No texto, os cientistas chamaram a atenção para estatísticas que parecem naturais, mas que estão sob influência indireta do contexto da pandemia. Na nota, os pesquisadores alertaram para a possibilidade de que os óbitos domiciliares possam estar relacionados com a diminuição do número de leitos ocupados.

"Em todas as capitais acometidas pelo covid-19 notamos esse aumento de óbitos domiciliares. Isso preocupa, porque pode estar mostrando uma subnotificação de óbitos, o que impacta na subnotificação de casos confirmados", afirmou o infectologista Rafael Galliez, da UFRJ, em entrevista ao jornal O Globo.

Dados do Portal da Transparência do Registro Civil, obtidos pelo Globo, mostram um registro de 6.281 de óbitos domiciliares entre 16 de março e 4 de junho no estado do Rio de Janeiro — 119 destas mortes tiveram diagnóstico de coronavírus.

Foram, portanto, 6.162 mortes motivadas por outras causas, o que representa um crescimento de 36% em comparação com o mesmo período de 2019 — quando foram registradas 4.508 mortes em casa.

No estado de São Paulo, o total de óbitos domiciliares registrado no mesmo período saltou de 9.578, em 2019, para 10.891, neste ano — o que configura um crescimento de 13%.

Em entrevista ao Globo, Marcos Boulos, infectologista e professor de Medicina da USP, alertou para as situações em que o paciente não procura o hospital quando deveria.

"A possibilidade é que, com a demanda excessiva, os serviços tentam afastar novos casos leves e exageram no tom. Adoecer em casa é natural, e as pessoas devem ficar em casa se a doença não for intensa. Mas se tiver falta de ar, tem que ir", explicou.